Resenha | Gaston: A História do Vilão de A Bela e a Fera

Nota
4

“Uma vez que o feitiço fosse quebrado, ela perdoaria o que ele precisou fazer para protegê-la e a todos os outros na aldeia.
Ele mataria a Fera.”

Em um reino pitoresco, com um castelo situado no topo de uma imponente ilha rochosa, que, por sua vez, era cercada por uma floresta sombria, dois amigos cresciam juntos, se tornando mais próximos que irmãos. Mas, essa estranha amizade causava curiosidade em quem olhava, pois, naquele tempo, não era comum um príncipe ser melhor amigo do filho de um criado.

Gaston e Adam nunca deram importância para essas barreiras sociais. Suas mães eram muito próximas e sempre desejaram que os filhos crescessem juntos e, embora a mãe de Gaston tenha partido muito cedo, antes mesmo que o menino se lembrasse de como era ter uma mãe, foi isso que aconteceu. Eles eram meninos incontroláveis, rebeldes e sempre estavam em busca de emoção e aventura, completando-se como ninguém. Mas, como tudo nessa vida, as coisas mudam e as aventuras da infância dão lugar a um peso que, por muitas vezes, não conseguimos suportar. Você pode achar que já conhece a lenda da Fera e o papel que Gaston desempenhou na ruína de seu amigo, mas, as vezes, algumas histórias têm mais de um final. Principalmente quando elas são tão antigas quanto o tempo.

“No entanto, ás vezes há mais de um vilão em um conto de fadas. E não se engane: tanto Gaston quanto Fera eram vilões desta história, mesmo que a Fera eventualmente tenha se redimido.”

Há alguns anos, Serena Valentino decidiu recontar as histórias dos principais vilões da Disney, em uma saga épica que não só humanizava essas pessoas terríveis, como construía novas camadas que nunca procuramos entender. Então imaginem o choque causado quando, no segundo volume dessa empreitada, ela decidiu contar o ponto de vista do até então mocinho do conto de fadas escolhido, transformando-o em alguém tão egoísta e cruel que passamos a ter ódio de sua persona. Pois bem, quando achamos que não poderíamos mais nos surpreender com seu enredo, Serena decide nos recontar a mesma história, mas com uma óptica totalmente diferente, focando naquele que sempre foi considerado o vilão de um dos clássicos mais lembrados da Disney.

Gaston: A História do Vilão de A Bela e a Fera consegue um marco monumental: dar profundidade a um dos vilões mais fúteis e unidimensionais do estúdio. Para isso, Serena decide abordar boa parte de sua história na infância de seu protagonista, trazendo como foco a longa amizade com o Príncipe Adam e como essa relação foi tão profunda e transformadora na vida dos garotos.

Gaston aparece como uma pessoa totalmente diferente, trazendo uma leveza arteira que, pasmem, nos faz encantar com seu ser. Filho do Caçador Real, o garoto nunca viu diferença entre ele e o Príncipe, e sempre foi o único a conseguir apaziguar o terrível gênio que crescia no herdeiro real, servindo como bússola moral quando o mesmo passava do ponto.

É estranho acompanhar sua doçura inocente e seu senso empático que, mesmo levado a travessuras, nunca beirou a crueldade, o que se mostra totalmente diferente da versão que conhecemos no clássico Disney. Sua transformação é bem construída, se mostrando um dos grandes acertos da obra e a tornando tão interessante ao leitor. Cada pequena nuance é introduzida com maestria, nos fazendo entender e temer pelo final trágico que sabemos que aguarda-o no futuro, enquanto nos perguntamos como ele se tornou aquele ser tão monstruoso, egocêntrico e oco que se mostra tão obcecado pela pobre Bela.

E é exatamente na amizade improvável com o Príncipe que mora o grande acerto, demostrando o quão profundo era o amor entre eles e o quanto a jornada foi traumática para ambos, principalmente quando a maldição entra em vigor transformando tudo aquilo que conhecemos. O próprio Adam ganha uma nova camada, demostrando seu ar cruel desde sua infância, que vai piorando a cada nova fase de sua vida. Mas, embora ele seja sim um egoísta egocêntrico, nunca deixou de amar o amigo, não permitindo que existisse espaço para nenhum outro amor em sua vida.

Enquanto a relação dos protagonistas é bem construída e os signos são bem colocados na trama, servindo como complemento narrativo de A Fera em Mim, um ponto em especifico nos tira da nossa jornada, chegando a atrapalhar a leitura: as Irmãs Esquisitas.

Já tem alguns bons volumes que notamos que as bruxas não tem mais propósito, demostrando que estão perdidas na própria história, onde possuem pouca, ou nenhuma, importância significativa. Mas, nesse livro, elas atingem seu ponto mais baixo, narrativamente falando. As bruxas assumem um papel de narradoras, interrompendo o enredo para dar seu ponto de vista sobre o mesmo e se justificar ao leitor, quebrando a quarta parede e nos tirando por completo da narrativa construída, com uma frequência que passa do tom, se tornando irritante em vários momentos. Como se não bastasse suas interrupções não solicitadas, elas tendem a trazer uma promessa de avanço narrativo para o arco principal da saga mas que, novamente, se mostra apenas uma construção vã para prender o interesse do leitor no próximo volume. Um eterno aguardem os próximos capítulos, que nunca chega a seu derradeiro potencial.

Recontando uma história que já achávamos conhecer, Gaston: A História do Vilão de A Bela e A Fera nos mostra que, as vezes, uma narrativa pode ter mais de um vilão. Repleta de uma construção impecável com seu antagonista, o livro demostra um cuidado exemplar em nos criar empatia em alguém simplesmente detestável em sua obra original. Embora nem tudo sejam flores, o saldo se mostra positivo, principalmente quando damos a chance de olhar mais a fundo em um prato que, aparentemente, é raso e superficial.

“Se este é ou não um conto de redenção, depende de você. Trata-se da história de dois meninos que se amavam como irmãos e que mudariam para sempre a vida um do outro.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 11 – Vilões Disney

Nome: Gaston: a História do Vilão de A Bela e a Fera

Autor: Serena Valentino

Editora: Universo dos Livros

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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