Nota
“– Feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor!”
Das cinzas da América do Norte, uma nova nação surgiu, sendo chamada de Panem. Dividida em doze distritos e comandada pelo punho de ferro da Capital, a nova região tenta prosperar, mas a desigualdade e miséria causam uma revolta na população, o que ocasiona uma guerra civil sem precedentes que é vencida pela Capital. Para demostrar o seu poder e relembrar ao resto do país sobre sua fracassada tentativa de rebelião, os governantes criaram os Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, onde um garoto e uma garota de cada distrito, com as idades entre 12 e 18 anos, são selecionados e obrigados a lutar em uma arena até que só um sobreviva.
Katniss Everdeen já está acostumada com o sistema injusto, mas não significa que ela concorde com o mesmo. Vinda do empobrecido Distrito 12, ela acompanha, todo santo ano, um de seus conterrâneos ser selecionado para virar sacrifício nos jogos. Mas esse ano tudo está diferente. É o primeiro ano que sua irmã mais nova, Prim, se vê obrigada a participar da Colheita e, após Katniss escutar o nome dela ser selecionado, ela se oferecer para participar em seu lugar. Caso vença, ela terá fama e fortuna. Se perder, ela morre. Levando apenas um broche de um Tordo, pássaro bastante presente em sua região, Katniss sabe como sobreviver em um ambiente hostil, mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que suas habilidades naturais. Até onde Katniss estará disposta a ir para ser a vitoriosa dos Jogos Vorazes? E será que ela terá alguma chance de sobreviver a carnificina que está por vir?
“– Senhoras e senhores, está aberta a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes!”
O sistema de Battle Royale, principalmente em um futuro distópico, não é nenhuma novidade na cultura pop. São inúmeros os livros, filmes e jogos sobre a temática, construindo com maestria toda crueldade de um governo autoritário que usa, em sua maioria, jovens para passar uma lição para sua população.
Mas, entre tantas mídias, uma obra se destacou, expandindo seus horizontes e ganhando uma legião de fãs, o que leva a pergunta que não quer calar: o que diferencia essa obra especifica das demais? Escrito por Suzanne Collins, Jogos Vorazes é o primeiro livro de uma trilogia que aborda, com maestria, os horrores de um governo fascista e totalitário. Repleto de uma crítica assertiva e poderosa, o livro nos mergulha na mente de sua protagonista, trazendo sua visão sobre o mundo injusto e desigual que sempre fez parte de sua realidade.
O que torna o livro tão impactante é a habilidade que Collins tem em explorar esses contrastes, questionando, de maneira precisa, todo sistema na qual está inserido enquanto demostra os absurdos que pouco são enxergados por aqueles que não sofrem com tais dilemas. A Elite da Capital, no alto de seus privilégios, enxergam os jogos como um reality de entretenimento, sem realmente entender os horrores presentes em sua diversão anual. Esse conceito pode ser facilmente ligado à nossa realidade, demostrando nossa falta de empatia com as pessoas que estão a margem da sociedade e nossa busca incessante pelo entretenimento cada vez mais cruel nas diferentes mídias. E, acredite, qualquer semelhança não é mera coincidência.
Collins restringe a nossa visão ao que se passa na mente de sua protagonista, nos deixando tão imersos em sua narrativa que nos tornamos próximos à ela imediatamente, além de podar nossas informações propositalmente para que fiquemos tão perdidos nos acontecimentos quanto a própria Katniss. É simplesmente genial não saber o que está realmente acontecendo, o que nos deixa ainda mais aflitos e desconfiados ao longo da narrativa, como se estivéssemos vivenciando cada segundo dos Jogos ao lado da Garota em Chamas. E por falar nela, Katniss se mostra uma protagonista exemplar, repleta de camadas que vão se adaptando a cada virada da trama. Embora não seja a mais carismática, a garota consegue nos conquistar com sua determinação e garra, nos prendendo em todos os momentos necessários para criarmos uma empatia genuína com seu ar carrancudo.
O livro ainda nos apresenta ótimas dualidades em vários outros personagens, o que torna tudo ainda mais interessante. Peeta e Gale são ótimo exemplos. O primeiro entra como o Tributo masculino do Distrito 12 que, por estarmos tão presentes na mente da Katniss, não sabemos se é confiável e qual sua real intenção nos Jogos. O Padeiro tem um passado com a protagonista e aos poucos vamos descobrindo tudo aquilo que ele esconde em seu interior, o que se mostra um grande acerto da trama. Já Gale é o companheiro inseparável da protagonista. Desde sempre, eles aprenderam a sobreviver em conjunto, utilizando suas habilidades para alimentar sua família e se tornando tão próximos que não precisam falar para saberem o que estão pensando. Gale e Katniss possuem uma visão muito parecida sobre sua realidade, visão essa que alguém como Peeta jamais entenderia, mas que se torna um ponto constante de comparação entre suas personalidades.
Effie e Cinna são ambos moradores da Capital. Mas enquanto Effie é deslumbrada em fazer parte desse mundo, representando todos aqueles que não percebem a atrocidades dos Jogos, Cinna se mostra ciente do risco de tudo o que está ao seu redor. Haymitch é o mentor ranzinza dos Tributos do Distrito 12 e, por passar ano após ano vendo seus discípulos falharem, se agarra ao excesso de bebida, o que esconde sua mente afiada e sagaz. Rue é outra personagem fantástica que serve como gatilho para a crueldade dos jogos enquanto traz um dos momentos mais lindo da trama. Por fim, temos a figura do Presidente Snow, que impõe uma área aterradora por onde passa, demostrando nos seus pequenos atos a figura cruel e tirânica que se esconde atrás de um sorriso bem colocado.
Os jogos em si são de tirar o fôlego, repletos de reviravoltas que nos deixam tensos a cada segundo. Collins consegue nos surpreender a cada segundo, trazendo novas dinâmicas e perigos que nos fazem voar em meio as páginas, mas, como nem tudo é perfeito, existem pequenas barrigas que esfriam a urgência dos eventos narrados. Com uma jornada tensa e uma narrativa envolvente, Jogos Vorazes traz uma complexidade impecável sobre a opressão e controle, em uma sociedade em que não existe o direito de pensar. Com personagens cativantes e uma crítica afiada, Collins nos transporta diretamente para seu universo que, infelizmente, não se mostra tão diferente do nosso, o que se mostra tão assustador quando não conseguimos entender de fato o que nos foi contado com tanta maestria.
“Não posso cair sem lutar. Só fico desejando que haja alguma maneira de… de mostrar à Capital que eles não mandam em mim. Que sou mais do que somente uma peça nos Jogos deles.”
Ficha Técnica |
Livro 1 – Trilogia Jogos Vorazes
Nome: Jogos Vorazes Autor: Suzanne Collins Editora: Rocco |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...