Resenha | Mr. Mercedes

Nota
5

“Às vezes, o diabo que você conhece é melhor do que o que você não conhece!”

Bill Hodges é um detetive aposentado que passa boa parte de suas tardes em frente a TV, assistindo a programas ruins e pensando seriamente em encostar seu revólver .38 na cabeça e apertar o gatilho. Seus dias tediosos são repletos por pensamentos sobre os casos inacabados que deixou ao sair da delegacia, e um, em especial, ocupa um bom lugar na sua mente.

Meses antes, numa madrugada enevoada, em uma cidade falida do Meio-Oeste Americano, uma fila de pessoas se forma em frente ao City Center esperando a abertura da feira de empregos que pode salvar suas vidas. É então que uma Mercedes Cinza surge na neblina, seu motorista parece observar a multidão, através de uma mascara de palhaço, e avança sobre as pessoas que não têm como escapar. Atropelando vários inocentes antes de recuar e fazer outra investida. O assassino então foge, deixando oito pessoas mortas e várias destroçadas.

É nesse caso que Bill pensa quando pega a carta. A carta que vai despertá-lo da aposentadoria deprimida e colocá-lo no rastro de um antigo rival. O Mr. Mercedes o convidou a participar da festa, tentando desequilibrar o velho detetive, e ele não vão deixar barato.

Mr. Mercedes narra uma guerra psicótica entre gato e rato, mas, diferente de outras obras, ela nos apresenta de cara os seus opostos. Stephen King traça uma densa trama policial centrado nesses pilares, apresentando-nos algo bem diferente do que estamos acostumados a ver do mestre, mas não menos delicioso. A trama bem construída prende o leitor logo nas primeiras páginas, descrevendo uma das cenas mais aterrorizantes que tive o prazer de ler.

Tendo posicionado bem seus dois alicerces , King constrói a trama ao redor deles, mas sem perder seu jeito de criar personagens encantadores e bem aprofundados. De um lado temos o velho Bill Hodges, que dá nome a trilogia e tem um faro apurado e uma mente atenta. Acompanhamos como é difícil para ele se inteirar das novas tecnologias e aprender a lidar com sua aposentadoria, deixando pontas soltas e julgamentos passados que levaram a consequências drásticas. Do outro, temos Brady Hartsfield, um jovem brilhante e psicótico, que vive com a mãe e prefere passar despercebido na multidão. Brandy sentiu um prazer imenso e aproveitou cada segundo do massacre; agora, ele quer mais e usa de um jogo psicológico para fragilizar suas vitimas. É perturbador analisar seus pensamentos doentios e ver o desenrolar da sua mente, seus desejos incestuosos, seu racismo interno e sua aparente glorificação em ser tão esperto. Tudo encoberto por uma mascara de rosto comum e apático.

Os companheiros de Hodges são magníficos. A excêntrica Holly Gibney, que chega na metade da história, mas se mostra uma personagem chave para a trama, ganha o leitor aos poucos e desperta nossa simpatia. O talentoso Jerome Robinson faz pequenos trabalhos para o detetive e é o alicerce dele para as novas tecnologias. O rapaz tem um futuro brilhante e um jeito brincalhão e não pensa duas vezes antes de entrar de cabeça no caso.

Publicado pela Suma, o livro tem um trabalho gráfico magnífico. A capa é maravilhosa e retrata bem aspectos sombrios da história, criando um padrão para toda a saga. As páginas amareladas, os bom espaçamento e a fonte confortável, fazem-nos devorar o livro de uma vez, facilitando a leitura e enchendo o leitor de gratidão.

Sombrio, alucinante e (por que não?) doentio, Mr. Mercedes nos mostra outra faceta de Stephen King, jogando-nos em uma corrida contra o tempo e uma batalha intensa entre um detetive das antigas e um maníaco psicótico, enriquecido por detalhes que nos fazem procurar a proteção debaixo de um guarda-chuva azul para amenizar seu banho de sangue…

“De trás do volante do caminhão, Mr. Tastey, coberto de imagens de crianças felizes e tocando o som de sinos alegres, Brady acena. O garoto acena em resposta e sorri. É claro que sorri.
Todo mundo gosta do vendedor de sorvete.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Trilogia Bill Hodges

Nome: Mr. Mercedes

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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