Resenha | O Herói Perdido

Nota
4

“Ele acordou no banco de trás de um ônibus escolar, sem saber muito bem onde estava, de mãos dadas com uma menina que não conhecia.”

Jason não sabe onde está, ele acordou dentro de um ônibus escolar da Escola da Vida Selvagem, com sua memória completamente apagada, de mãos dadas com uma menina chamada Piper e ao lado de Leo, que diz ser o seu melhor amigo. Algo não está certo na vida de Jason, ele não sente que faça parte desse grupo e acha que tem algo de errado com seu instrutor, o Treinador Hedge, mas ele tenta de toda forma agir normalmente durante essa pequena excursão ao Grand Canyon, mas é impossível ter um dia normal quando se é um semideus. A vida, que Jason ainda não entende, vira de cabeça para baixo quando Dylan, seu colega de classe, revela ser um Venti, um Espirito da Tempestade, o seu instrutor, Hedge, revela ser um Sátiro, e ele descobre que ele, Piper e Leo são semideuses, o que inicia uma dura batalha, e os leva até o encontro com uma raivosa garota loura chamada Annabeth, que está numa desesperada busca por seu namorado desaparecido, Percy Jackson.

Pouco tempo depois do lançamento de O Último Olimpiano, foi revelado por Rick Riordan que haveria uma sequência para sua saga. Em abril de 2010, foi revelado que a sequência viria na forma de uma segunda saga do Riordanverse chamada Os Heróis do Olimpo, e que seria iniciada por O Herói Perdido. O livro, por outro lado, começou a saga nos deixando ainda mais confusos do que gostaríamos, nos apresentando três novos protagonistas, nos dando a informação de que teríamos um novo grande vilão e que ele pode estar envolvido no desaparecimento de Percy Jackson. O livro ainda começa mostrando Jason com uma memoria muscular que nos deixa com uma pulga atrás da orelha e uma enorme fixação pelo nome romano das coisas, o que deixa claro que há muito o que ser descoberto por trás do passado desse garoto misterioso, e que pode haver muito a se entender por trás do proposito de sua presença nesse grupo peculiar. O passado de Piper e Leo são outros dois pontos interessantes na trama, eles estão num reformatório por algum motivo, e fica claro que esse motivo tem total conexão com o fato de serem semideuses, mas o que realmente pode ter acontecido no passado desses dois que os fez parar entre os piores dos piores?

O humor é sempre uma boa saída para a dor. E, caso não funcione, existe sempre um plano B. Fugir. Quantas vezes for preciso.

A presença de Annabeth e o desaparecimento de Percy são dois fatores importantes para o desenvolvimento da subtrama da nova saga, quatro meses se passaram desde os eventos do final de O Último Olimpiano e vemos o quanto a filha de Athena amadureceu, ganhando um novo patamar de importância dentro do Acampamento Meio Sangue, e é através dela que conhecemos as consequências que a guerra contra Cronos causou ao local, tanto as boas (como a adição de 8 novos chalés) quanto as ruins. Já o desaparecimento de Percy é o grande motivador da trama, ficamos tentando entender o que realmente aconteceu com o grande protagonista da saga e como Jason pode ter relação com tudo isso, nos arrastando, quase que sofridamente, pelos capítulos narrados por esse novo trio, que assume personalidades tão diferentes em seus pontos de vista. Ao contrario do efeito que essa escolha teve nos livros de As Crônicas dos Kane, o livro sendo narrado por Piper, Leo e Jason não consegue nos dar uma conexão eficiente com cada um deles, apesar de se mostrar necessária quando o tema do livro é entender o que está passando na cabeça de cada um deles e como o passado de cada um pode afetar o destino do trio.

Os capítulos de Leo são o ápice da trama, nos envolvendo com o jeito travesso do filho de Hefesto e sua personalidade deslocada enquanto nos leva por uma viagem precisa por sua psique, é ele quem nos conecta com Festus, dando verdadeiros sentimentos humanos ao dragão autômato, e nos puxando, ferozmente, para uma das cenas mais dolorosas do editorial. Já a visão de Jason é confusa, ele não se encaixa entre as pessoas que o resgataram, ele tem um passado que lhe foi roubado e fica o tempo todo tentando entender quem ele realmente é, o filho de Zeus é poderoso e tem um passado muito significante, e tudo se torna ainda mais perigoso quando ele descobre que tem uma forte conexão com Hera, a deusa que deveria odiá-lo, e que seu sobrenome é Grace, o que o faz ser o irmão caçula de Thalia, e não só um meio-irmão. As páginas narradas por Piper são perturbadoras, ele teve um sonho e está predestinada a trair o Olimpo, mas ela não entende seuenten sonho e muito menos sabe até onde precisa ir para manter seu pai vivo. Ficamos o tempo todo esperando o momento que Piper vai se virar contra seus amigos, o momento que a filha de Afrodite vai se tornar a nova Silena Beauregard, e o momento que ela vai parar com sua obsessão tediosa pelo seu falso namoro com Jason.

“Por dentro, sentia-se como uma máquina destroçada. Como se alguém tivesse removido uma parte importante dele. E nunca mais voltaria a ser o mesmo. Poderia seguir em frente, falar, continuar o seu trabalho. Mas sempre estaria um pouco fora de órbita, nunca estaria bem-calibrado.

É nesse livro que somos introduzidos oficialmente a alguns personagens com grande potencial para o futuro da saga, como Butch Walker, o semideus conselheiro do chalé de Íris, que não parece nada com o que esperávamos de um filho da Deusa do Arco-íris; Will Solace, o semideus conselheiro do chalé de Apolo, que assumiu o posto de Michael Yew em O Último Olimpiano e só agora começa a mostrar sua personalidade ‘solar’ e cativante, que nos conquista facilmente nas primeiras páginas do livro; Drew Tanaka, a semideusa conselheira do chalé de Afrodite que assumiu a vaga de Silena, que é completamente tóxica e conquista nosso ranço a primeira vista, sendo a personificação perfeita da personalidade clichê das filhas de Afrodite; e Tía Callida, a babá homicida de Leo que, misteriosamente, tem uma forte conexão com o Acampamento e, para a nossa surpresa, com os outros dois membros do trio e com Annabeth, mostrando que toda a história tem muito mais a revelar do que esperávamos, e que o potencial da nova saga, assim como a nova vilã, tem muito potencial a ser explorado.

Lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, a obra traz toda a magia que esperávamos de um retorno ao mundo de Percy Jackson, mesmo que seja um retorno confuso e cansativo que é capaz de fazer muitas pessoas quase desistirem da saga. A trama de O Herói Perdido assume um tom meio maçante no inicio, mas nos leva até um final que nos deixa curioso para saber o outro lado da história, conhecer o novo mundo que nos é revelado nesse livro e, principalmente, entender as ramificações que essa revelação pode trazer para o Riordanverse. Quando Tio Rick prometeu expandir seu universo mitológico, ninguém espera uma aposta tão grande, mas só um verdadeiro autor como ele seria capaz de revisitar seu próprio universo de uma forma tão dinâmica ao mesmo tempo que expande sua mitologia ao nos apresentar uma grande quantidade de novos mitos gregos e romanos que não tinham sido explorados ainda.

“Filho do relâmpago, tome cuidado no chão,
Da vingança dos gigantes os sete nascerão,
A forja e a pomba devem abrir a cela,
E liberar a morte pela raiva de Hera.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Os Heróis do Olimpo

Nome: O Herói Perdido

Autor: Rick Riordan

Editora: Intrínseca

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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