Resenha | O Hospital Hostil

Nota
4.5

“Para Beatrice –
O verão sem você é frio como o inverno.
O inverno sem você é mais frio ainda.”

Violet, Klaus e Sunny Baudelaire estão exaustos e exauridos. Após escaparem por um triz de uma turba violenta e se tornarem procurados conhecidos por um crime que não cometeram, os irmãos caminharam por horas a fio tentando aumentar ainda mais sua distância entre aqueles que desejavam lhe fazer mal, mas, como todos os seres nesse mundo, em algum momentos eles precisavam parar sua caminhada.

Por sorte, ou azar, essa parada foi em frente ao Armazém Geral Última Chance onde eles poderiam mandar um telegrama e pedir ajuda a alguém próximo. Mas, a quem eles enviariam esse pedido? A resposta obvia seria a seus pais, mas ambos morreram em um incêndio desastroso que iniciou essa jornada, ou quem sabe a polícia… se eles não estivessem entre as pessoas da qual estavam fugindo.

Eles poderiam pedir ajuda a algum de seus múltiplos tutores, se eles não estivessem mortos ou fossem pessoas tão cruéis que desejam a todo custo pegar a fortuna de sua família. Entre esse último grupo existe o Conde Olaf, um vilão ganancioso e traiçoeiro que é a fonte de todo infortúnio e tristeza atrelado aos órfãos Baudelaire.

Eles decidem então mandar um telegrama para o Sr. Poe, o banqueiro encarregado por administrar sua fortuna e cuidar dos irmãos até eles encontrarem seu devido tutor. O Sr. Poe nunca foi um exemplo de eficiência em seu trabalho, mas ao menos não tinha sido assassinado misteriosamente, nem fora cruel com os órfãos ou era o Conde Olaf disfarçado tentando colocar as garras neles.

O que eles não sabiam, é que um período especialmente infeliz estava prestes a começar em suas aflitas vidas. Um período miserável repleto de disfarces arranjados, cirurgias desnecessárias e fatais, um sistema de intercomunicadores suspeitos e balões em forma de coração e segredos obscuros sobre um certo incêndio. Enquanto tentam sobreviver a sua estadia no Hospital Heimlich, os Baudelaire vão aprender a mais dura das lições e despertar um outro lado que não sabiam ter.

Caros leitores, como parte do meu trabalho, eu tenho a obrigação de trazer para este site as desafortunados aventuras dessas crianças, mas vocês não necessitam passar pelo mesmo sofrimento que eu passei. Existem inúmeras coisas agradáveis de se ler, mas nenhuma delas está presente nesse livro. Poupe seu tempo, dê um bom passeio e esqueça que um dia existiu tais infortúnios. Existem outros textos melhores aqui, mais felizes e cativantes que você pode aproveitar, mas, caso queira continuar, saiba que é por sua conta em risco.

O Hospital Hostil marca o oitavo volume da sombria saga descrita por Lemony Snicket, trazendo um caminho ainda mais desesperançoso do que o dos volumes anteriores. Continuando exatamente de onde a jornada parou, o livro coloca seus protagonistas em uma verdadeira saia justa, trazendo a nova dinâmica que possibilita um novo fôlego para a saga.

O livro inverte tudo aquilo que esperávamos da continuação, explorando sua dualidade e aprofundando dilemas que já estavam sendo construídos desde seu antecessor, demonstrando todo o cuidado que o autor tem com a evolução de seus personagens. Os mistérios sobre CSC e o misterioso Dossiê Snicket despertam nosso interesse e alimentam ainda mais as teorias que cercam a saga, trazendo mais perguntas que respostas e nos deixando ainda mais amedrontados sobre o que está a frente.

É nesse volume que Klaus e Sunny começam a se desprender um pouco da necessidade constante da irmã mais velha, aprendendo a trabalhar por conta própria e evoluir ainda mais como personagens. Não é a toa que as duvidas constantes e os dilemas apresentados ganhem novas camadas morais, definido bem toda a estranheza da situação que nos tira de vez do nosso lugar comum. A necessidade de fazer algo ruim para uma finalidade boa permeia todo o arco, construindo dilemas interessantes e engrandecendo ainda mais a história.

O perigo constante e as reviravoltas oportunas trazem um clima de tensão crescente que aumentam o crescimento do volume. É aqui que passamos a amarrar mentalmente as pontas soltas mostradas até agora, trazendo grandes indícios dos mistérios que cercam a saga e a constante peças de quebra-cabeça, que são jogadas aos poucos para o leitor.

O próprio Conde Olaf sofre uma grande mudança aqui. Como ele se encontra supostamente morto desde o volume anterior, o antagonista não pode mostrar o rosto nesse novo capítulo mas, se você acha que esse empecilho vai nos livrar de sua presenta, você está redondamente enganado. O Conde cria uma elaborada maneira de se mostrar presente, embora pareça mais um secundário aqui do que nas obras anteriores.

A edição da Seguinte traz, mais uma vez, um trabalho primoroso de construção. O jogo de palavras e anagramas constante ganha aqui seu devido respeito, trazendo ótimos momentos durante a narrativa, que despertam ainda mais nosso faro investigativo. A capa segue aquele padrão que tanto amamos, trazendo em destaque um momento crucial da trama e nos convidando a mergulhar em seus infortúnios.

Cruel e bastante necessário, O Hospital Hostil traz sérias críticas sociais, colocando não só a ética de seus personagens em xeque como a do próprio leitor. São inúmeras as vezes que conseguimos enxergar que os atos maldosos dos personagens não fogem tanto de nossa realidade, nos perguntando o que faríamos em seu lugar e se seria tão diferente do que nos foi mostrado. A grande verdade é que uma nova vertente começa a ser construída e tem tudo para ser algo maravilhosamente perverso.

“Pensem em tudo a que já sobrevivemos”, sussurrou Violet. “Já passamos por um sem-número de desventuras em série, e ainda continuamos sozinhos. Se um dos nossos pais sobreviveu, tudo terá valido a pena. Temos de encontrá-los, nem que seja a última coisa que façamos.”

 

Ficha Técnica
  Livro 8 – Desventuras em Série

Nome: O Hospital Hostil

Autor: Daniel Handler / Lemony Snicket

Editora: Seguinte

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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