Resenha | O Mar me levou a você

Nota
4

“Amores de verdade não acabam no fim do verão”

Matias Mendonza sabe bem o que significa legado. Nascido em uma família lendária de surfistas, ele sempre esteve ligado ao mar, sentindo as ondas como sua bússola quando se encontra perdido em seu próprio ser – o que acontece com mais frequência do que sua fama de bad boy deixa transparecer. De volta a praia de Canoa Quebrada, para mais uma temporada perfeita nas águas do Ceará, Matias tenta fugir da pressão em seguir os passos de sua mãe (e de seu detestável irmão) no surfe profissional, focando em cuidar do charmoso hostel de sua família, onde tem esperanças de se encontrar no mundo.

Mas, enquanto as duvidas assolam sua alma, o mar lhe prepara uma última surpresa: Júlio, o garoto misterioso que o destino entrelaçou em seu caminho através de uma onda perfeita. Conforme o verão avança, o Universo parece querer unir esses dois a qualquer custo, mesmo que todas as possibilidades apontem para o contrário. Seria possível que esse romance seja mais que uma história de verão? Como dar uma chance ao amor quando temos medo de vivê-lo? Será que os sinais apontam para um destino além dessa vida, ou seriam apenas visões de corações apaixonados?

“Ali, entre o oceano e a falésia nos vários tons de laranja de Canoa Quebrada, encontro os olhos dele acompanhando cada um dos meus passos.”

Desde seu primeiro livro, Pedro Rhuas conquistou um público cativo com suas histórias de desencontros, humores rápidos e uma delicadeza que só os destinados poderiam ter. Então não é de se chocar que a expansão de seu universo se mostraria tão encantadora quanto a primeira estória que ele tinha para nos contar. O Mar me levou a você nos arrebenta como uma onda inesperada, nos levando para todo o encanto que só uma boa história pode trazer. Situada no nordeste brasileiro, velho conhecido dos fãs do autor, a obra surfa nos cenários paradisíacos para construir um enredo que atravessa o tempo e nos encontra no momento perfeito. Dessa vez, Rhuas escolhe a encantadora praia de Canoa Quebrada, explorando toda magia única do local para dar voz à um enredo apaixonante.

Cada descrição dos cenários nos trazem toda a vida que cerca o local, transportando diretamente para obra a vivacidade inebriante que o solo cearense tem. É impossível não se deixar encantar pela beleza descrita, e a veracidade textual que Rhuas nos apresenta a cada novo parágrafo, digna das melhores histórias de amor. Mas, se o cenário já se mostra perfeito, é nas reviravoltas e profundidades que o texto do autor verdadeiramente brilham. Rhuas constrói personagens dinâmicos, profundos e, por que não dizer, sedutores, que nos cativam desde o primeiro momento que aparecem na trama. Cada toque é precisamente escolhido, para nos prender a suas personalidades e as voltas que a trama proporcionam, já que estamos irrevogavelmente apaixonados pelas personas mostradas.

Matias é um protagonista exemplar. Falho, galanteador e cheio de uma vivacidade particular, o garanhão das praias cearense está bem ciente dos privilégios que tem na vida mas, mesmo com toda mordomia que pode querer, o rapaz vive as sombras do legado da família e, principalmente, na constante comparação com seu irmão mais velho, o que desperta traumas intensos que ele evita falar. O que torna sua jornada tão interessante em se acompanhar. Seu constante desejo por encontrar seu lugar no mundo e seu entendimento sobre sua sexualidade trazem um ar envolvente, que nos convidam a ver o mundo pelos seus olhos. Mas, é na sua busca por sinais que a trama verdadeiramente nos cativa. Cada aspecto novo da um ar místico ao enredo, quase como se fossemos convidados a acompanhar um alinhamento milenar que só acontece uma vez na vida. E esse alinhamento não poderia estar completo sem um extremo oposto tão fascinante quanto nosso protagonista.

Júlio já passou por poucas e boas nessa vida. Desde o primeiro segundo em que aparece, o rapaz se mostra arredio em se abrir para o desconhecido (bastante invasivo, diga-se de passagem) que encontrou nas areias da praia. Principalmente por esse desconhecido ter toda uma pinta de homem-hétero-cis que só se aproximaria de um homem trans para algum tipo de zoação. Aos poucos o rapaz começa a se abrir, trazendo uma nova leva de traumas que nos deixam presos a cada nova virada de enredo, mostrando que sua jornada é tão envolvente quanto a de quem narra a história.

Embora o casal principal seja de fato encantador, o que me chamou a atenção foi a construção de algo a parte da trama. No início da obra, temos um qrcode com uma playlist criada pela Seguinte, que nos acompanha durante a leitura. Quando algo é citado no livro, a musica soa na playlist, nos imergindo por completo na história aqui contada. Um acerto e tanto do autor e da editora, a ponto de não conseguir descrever o quão maravilhoso foi acompanhar esses momentos.

Sedutor e poético, O Mar me levou a você traz uma trama que aquece nossos corações enquanto nos convida a acreditar nos sinais que o destino apresenta. Possuindo uma singela ligação com seu antecessor, o livro demostra o crescimento do autor, que está mais confortável em seu processo e com o enredo que deseja contar. O que nos deixa ainda mais ansiosos pelo que o destino tem a nos mostrar, principalmente quando parece que fomos encontrados no momento certo por uma trama tão magnífica quanto essa.

“Se a vida é plana, não há adrenalina correndo nas veias, altos e baixos, paixão e desejo. Se não podemos cometer erros, o que somos afinal?”

 

Ficha Técnica
  Livro Único

Nome: O Mar me levou a você

Autor: Pedro Rhuas

Editora: Seguinte

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Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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