Resenha | O Ódio que Você Semeia

Nota

4.5

Em O Ódio que Você Semeia, vamos conhecer Star e as consequências de ter que lidar com a morte de seu amigo, o Khalil, por um único motivo: ser negro. A Star é uma jovem negra que vive em dois opostos: pela manhã frequenta uma escola rica onde os alunos são brancos e à noite volta à sua casa, um bairro periférico e negro tomado por gangues e oprimido pela polícia. Desde cedo, ela foi ensinada por seus pais a como se comportar diante de policiais (se fosse uma jovem branca iria ter esses ensinamentos? Obviamente não!): não fazer movimentos bruscos, obedecer ao policial, manter as mãos sempre à mostra.

Em uma noite, quando ela e sua amigo voltam para casa, eles são parados por uma viatura, e isso mudará completamente a vida de Star, pois agora ela é a única testemunha de um crime. Em luto e indignada com a injustiça, ela precisa aprender a lidar com o terrível “poder” que lhe foi dado: a sua voz. E precisa fazer a coisa certa: calar-se ou contar o que de fato aconteceu, mesmo que isso acarrete consequências para si e sua família.

Sabe aqueles livros que são importantes, oportunos e têm uma importância sociopolítica gigantesca? Sem dúvidas, O Ódio que Você Semeia é um deles. Aqui, o leitor não só se sentirá entretido com a história (que, para muitos, pode ser bem real, daquela que encontramos nas TVs e jornais), mas também informa e conscientiza. Com tantas notícias diárias sobre como a população negra é a mais atingida pela violência, desemprego e falta de representatividade, como podemos fechar os olhos para este livro, que é praticamente um grito de socorro?

Através dos ensinamentos dos nossos pais, aprendemos que a polícia vai sempre nos proteger, que não precisamos temer. Porém, aqui, vamos ver que Star aprendeu coisas totalmente diferentes para ser não presa e/ou baleada. E isso é tão doloroso para quem está lendo. No livro, acompanhamos toda a história vista pela perspectiva da Star: jovem e amedrontada por um sistema opressor, que a agride e a mata somente por ser negra. Além disso, vemos como as pessoas ao seu redor lidam com esse fato, como, por exemplo, seus pais, seu tio (que é um policial), seus amigos e seu namorado brancos.

A Angie Thomas nos apresenta personagens tão reais, que é impossível não vibrar com as conquistas deles. Por exemplo, a Star é resiliente (e essa é a maior característica da personagem), mas não é tão corajosa, principalmente por temer as consequências de suas atitudes. E é isso que faríamos se estivéssemos na situação dela. Mas personagens reais não quer dizer que todos serão sempre amáveis, têm amigos que não entendem nada sobre o que ela passa depois do acontecido, tem o namorado branco que a apoia e está do seu lado, têm as gangues que, por incrível que pareça, não são os vilões da história, tem o tio policial que está entre os dois lados: o oprimido e o opressor.

Mesmo com uma escrita bastante clara, mostrando-nos os anseios da personagem e do que gostaria de falar no livro, não espere um ritmo acelerado neste livro, o que pode incomodar num primeiro contato. E o motivo de não ter 5 estrelas. Mas, é claro, isso não pode impedir de que a leitura seja feita, principalmente por ter uma crítica social tão bem feita e com uma possível adaptação.

“Já vi acontecer um monte de vezes: uma pessoa negra é morta só por ser negra e o mundo vira um inferno. Já usei hashtags de luto no Twitter, repostei fotos no Tumblr e assinei todos os abaixo-assinados que vi por aí. Eu sempre disse que, se visse acontecer com alguém, minha voz seria a mais alta e garantiria que o mundo soubesse o que aconteceu. Agora, sou essa pessoa, e estou morrendo de medo de falar.”

Ficha Técnica