Nota
“Atentem para os sinais! Que sinais serão esses, eu vos direi, porém antes a terra se cobrirá com o sangue dos Aen Seidhe, o Sangue dos Elfos…”
Por mais de um século, humanos e inumanos conseguiram coexistir, respeitando tratados, organizando fronteiras e cessando ataques mesmo que a contra gosto. Mas os tempos mudaram, o ataque a Cintra e a batalha no Monte Sodden deixaram feridas profundas, despertando antigos rancores e um ódio ancestral que parece ser conduzido com maestria por terceiros.
As estradas se mostram mais perigosas, os ataques mais frequentes e, para toda sociedade do Continente, uma única frase faz total sentido: Elfo bom é Elfo morto. Enquanto muitos procuram aproveitar o caos em que a sociedade se encontra, Gerald de Rívia se isola nas muralhas de Kaer Morhen. Sagaz e habilidoso, o bruxo aproveita sua reclusão para convencer a todos que está morto, utilizando seu tempo para o treinamento de Ciri, a criança com a qual foi destinado.
O que não era de se esperar é que a garota possuísse dons fantásticos, capazes de mudar o rumo da história e transformar o mundo em algo melhor… ou pior. Consciente que sua força não é suficiente para aprimorar a criança surpresa nas artes mágicas, o bruxo convoca Triss Merigold, a 14° caída, para avaliar a dimensão dos poderes da menina. A medida que a guerra se aproxima, e estranhos boatos começam a surgir sobre a misteriosa fuga da princesa de Cintra, Gerald percebe que é seu dever manter a garota longe de tudo isso, pondo em risco não só a sua vida como a de todos que um dia conheceu.
Durante dois volumes acompanhamos os trabalhos de Gerald, em meio a missões com poucas conexões de algo que inicialmente não deveria passar de uma serie de contos escrita por um polonês, que decidiu criar seu próprio universo. Misturando mitologias, com pitadas políticas e bastante criticas sociais, o mundo do Continente foi ganhando forma, assim como seus personagens e sua própria base para algo maior, que estava prestes a surge. E, embora seja o terceiro volume da saga, O Sangue dos Elfos é o primeiro a dar adeus ao formato de contos e abraçar de vez o romance que todos esperavam.
Com um tom mais sombrio e cruel, Andrzej Sapkowski utiliza os esboços que construiu nos volumes anteriores para acrescentar novas camadas aos personagens, reinos e monstros que tanto cativaram os leitores. O terceiro volume expande seu ponto de vista, explorando múltiplos personagens e nos dando detalhamentos de conversas e ações importantes. Velhos rostos se misturam com os novos, e personagens que achávamos conhecer ganham mais carga na história. As marcas antigas retornam com consequências devastadoras, trazendo uma inquietude para o Continente e iniciando um jogo politico que se mostra interessante, além de nos deixar apreensivos para o que está por vir.
O grande problema do livro é que muito nos é prometido, sobre a guerra, o destino e os poderes, mas nada passa de uma promessa futura. Parece que nada de realmente interessante acontece na trama, onde somos mostrados, a passos curtos, o treinamento da leoazinha de Citra. É sim interessante acompanhar a jornada da garota e a descoberta de seus poderes, mas tudo no livro parece um eterno “espere, vai acontecer algo importante a seguir” que nunca chega de fato.
Em compensação, os personagens estão impecáveis. Gerald é deixado um pouco de lado para podermos aprofundar os outros lados da historia. O bruxo instiga os boatos sobre sua morte, aproveitando ao máximo dele para educar e treinar Ciri. É nesse volume que ele se mostra determinado e possuidor de um raciocínio ágil, sempre procurando premeditar o que farão a seguir.
Temos um primeiro vislumbre de Kaer Morhen e seu habitantes, a partir do ponto de vista de Triss, que conhece e ama o lugar. E por falar na feiticeira, ela foi uma das festas surpresas que a trama nos trouxe. Triss é divertida, astuta e mais leve que Yennifer, trazendo uma nova leveza, mas não diminuindo sua força durante a trama. Embora seu papel tenha sido pouco utilizado nesse volume, tudo parece indicar uma importância latente para a personagem no futuro.
Do outro lado temos Yennifer, que traz alguns dos melhores momentos da trama ao aperfeiçoar o treinamento mágico de Ciri. A química entre elas é tão boa que transforma todas suas cenas em uma narrativa deliciosa de se ler. Em meio a implicância, afeto e respostas duras, o laço entre elas vai se consolidando e trazendo um calor ao coração do leitor que aguarda ansiosamente pelo desenvolvimento da historia.
Jaskie é um dos que recebe novas camadas. O bardo ainda mantém seu papel como alivio cômico, mas trás uma carga emocional mais profunda, além de apresentar um dos momentos mais inteligentes da narrativa, logo no início do livro. E temos a magnifica Ciri, a criança do destino. Inocente, determinada, teimosa e extremamente cativante, a garota vai nos conquistando aos poucos e se mostrando uma promessa latente de desenvolvimento e aprendizagem.
O livro ainda conta com a participação da poderosa Phillipa Eilhard e do tenebroso Rience, que trazem uma urgência nova à narrativa, nos convidando a esperar os próximos volumes para acompanharmos o resultado de seus atos.
Entre erros e acertos, O Sangue dos Elfos se mostra uma obra inacabada de um autor que parece estar se descobrindo no processo. Quando acerta em suas escolhas, traz momentos magníficos, mas quando erra, nos deixa na vontade de algo melhor. Embora precise trabalhar melhor sua ligação narrativa, e no que deve ser contado no próximo volume, o livro ainda consegue entreter e despertar nosso interesse. Agora, nos resta aguardar por essa nova jornada que se estende a nossa frente, com algo que talvez não tenhamos como prever.
“Em verdade vos digo que se aproxima o Tempo da Espada e do Machado, a Época da Selvageria Lupina. Acerca-se o Tempo do Frio Branco e da Luz Branca, o Tempo da Loucura e o Tempo do Desprezo, Tedd Deireádh, o Tempo do Fim.”
Ficha Técnica |
Livro 3 – A Saga do Bruxo Gerald de Rívia Nome: O Sangue dos Elfos Autor: Andrzej Sapkowski Editora: Martins Fontes |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...