Resenha | Olhos Prateados

Nota
4

“Quer jeito melhor de passar a infância do que na Pizzaria Freddy Fazbear, o dia inteiro, todos os dias?”

Dez anos se passaram desde o acontecimento, quando Charlotte Emily tinha sete anos e seu amigo, Michael, morreu na Freddy Fazbear’s Pizza, o restaurante cujo seu pai era o dono. Fazia dez anos desde que a garota saiu de Hurricane, Utah. Fazia dez anos que ela não via seus amigos: Marla, Jessica, Lamar, Carlton e John. Mas tudo está prestes a mudar agora que os pais de Michael decidaram juntar o grupo de amigos do filho para uma cerimônia em sua homenagem, uma ocasião que desperta a nostalgia nos adolescentes e os impulsiona a visitar a velha pizzaria, que havia sido trancada e abandonada por anos, para investigar a fundo o que realmente aconteceu lá dentro e tentar desvendar o crime jamais solucionado.

Lançada em 2014, a série de games Five Nights at Freddy’s é cheia de seguidores fiéis ao redor do mundo, um jogo popular criado por Scott Cawthon, onde o jogador assume o papel de um segurança contratado para tomar conta de uma pizzaria durante a noite, enquanto os animatrônicos do local perambulam e se tornam violentos. Um misterio que ganha um novo ponto de vista com Olhos Prateados, primeiro livro da trilogia Five Nights at Freddy’s que decide extrapolar o universo que conquistou fãs no mundo todo para engatar numa aventura juvenil em busca de desvendar os misterios por trás dessas criaturas e dos assassinatos que ocorreram ali, mas será que um grupo de adolescentes vai ser capaz de encontrar respostas para um crime que nem a policia foi capaz de resolver? Claro que, assim como todo livro policial YA, sabemos que eles vão ser capazes de enxergar pistas que nem os adultos conseguiram, mas o clichê é o que menos o livro se importa de explorar, é em brincar com os medos mais obscuros que só brinquedos sinistros são capazes de provocar que o enredo realmente decide focar.

“Sammy, e anos depois Michael e as outras crianças – é claro que estão conectados, pensou Charlie. Quando se trata de assassinatos, não existe coincidências.”

Charlie é o foco narrativo do livro, dentre todos os personagens, ela é a melhor desenvolvida no decorrer da trama, e isso é gratificante já que tudo que a história tem a revelar tem conexão com o passado de Charlie e de seu pai, dono do restaurante. Infelizmente o mesmo não pode ser dito dos outros personagens, já que o livro parece não ter muita vontade de aprofundar as histórias de Marla, Jessica, Lamar, Carlton, John ou Jason, o grupo fica sempre marginalizado na história ao mesmo tempo que o passado de Charlie vai sendo escancarado em nossa frente, chegando até a nos apresentar Sammy, o irmão gêmeo de Charlie que desapareceu antes da morte de Michael no mesmo local, uma memória reprimidade Charlie que a motiva ainda mais na investigação. Toda a trama é levada pela força de sua luta interna com o legado de seu pai, quando ela começa a duvidar sobre quem realmente era Henry Emily e quem ela é, numa jornada para enfrentar seu passado sombrio e seus medos reprimidos. Cawthon faz um ótimo trabalho ao explorar suas inseguranças e dilemas, enriquecendo o livro e compensando a superficialidade dos outros personagens. O que acaba salvando a narrativa é o terror que ela oferece, que apesar de ser lenta e parada no começo, vai intensificando, aumentando a tensão ao adicionar sangue e perseguições, até alcançar um desfecho que captura com revelações inquietantes, com uma caçada que não economiza ao matar ou ferir seus personagens, o que justifica olivro passar mais de quatro meses na lista de mais vendidos de livros jovens do The New York Times.

Cawthon usa Olhos Prateatos para expandir a narrativa de Five Nights at Freddy’s para além dos jogos, nos dando uma nova perspectiva que combina terror, mistério e busca pela verdade. Apesar de possuir personagens mal desenvolvidos, o livro entrega uma narrativa envolvente e uma trama complexa, injetando uma dose de adrenalina que só podemos experimentar quando temos aqueles sonhos com perseguição. Olhos Prateados é uma jornada cheia de suspense e emoção, que desafia o leitor a buscar entender o que é realidade e o que é uma ilusão criada pelo medo, com conexões muito astutas entre passado e presente, criando uma continuidade fluida ao mesmo tempo que nos joga para momentos distintos do tempo. Inteligente, a trama de Olhos Prateados consegue abordar temas como solidão, perda e luto de uma forma subversiva, transformando as emoções em combustivel para o medo do desconhecido, usando os traumas do passado de Charlie para edificar o terror psicologico que a toma ao adentrar o restaurante de seu pai. Com uma escrita envolvente e direta, o livro consegue ir além de uma história de terror e cria uma reflexão sobre legado, traumas e amadurecimento.

“Bonnie surgiu na escuridão iluminado pelo facho de luz dos holofotes do palco diante deles. […] O bicho correu na direção deles, e antes que Jason pudesse gritar, o coelho gigante agarrou Carlton por trás, acertando seu rosto com uma pata gigante e peluda, envolvendo seu peito com o outro braço forte, segurando-o bem firme.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Trilogia Five Nights at Freddy’s

Nome: Olhos Prateados

Autor: Scott Cawthon e Kira Breed-Wrisley

Editora: Intrínseca

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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