Resenha | Outsider

Nota
5

“Eram estranhas as coisas em que se reparava quando o seu dia, a sua vida, de repente caia de um penhasco que você nem sabia que estava lá.”

Um crime devastador assombra a pacata cidade de Flint City, no sul do Texas. O corpo de Frank Peterson, um garoto de 11 anos, foi encontrado no parque da cidade, assassinato de uma forma brutal e doentia de uma maneira que assusta ate os policiais da cidade. A investigação que se sucede não deixa duvidas: DNA, impressões digitais e testemunhas apontam para uma das figuras mais conhecidas e respeitadas da cidade – o treinador da Liga Infantil de beisebol, Terry Maitland.

Enjoado pelo crime hediondo, o detetive Ralph Anderson não hesita em ordenar uma prisão rápida e bastante publica, fazendo com que todos na cidade saibam que o respeitado Treinador T é o principal suspeito. O problema é que, embora todas as provas apontem para ele, Maitland tem um álibi forte para sua defesa. Tanto a acusação, comandada pelo procurador Bill Samuels, quanto à defesa, comandada pelo advogado Howie Gold, chegam a um impasse.

Como uma pessoa poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? Como uma investigação tão comprovada podia ruir com tanta facilidade? E esse álibi seria o suficiente para inocentar Terry, cuja cidade já parece ter condenado? Terry parece ser uma boa pessoa, mas será que isso é uma mascara para esconder seu interior sombrio e selvagem?

Para todos os amantes do antigo King, Outsider é uma obra de mão cheia. Repleto dos toques que o tornaram famoso nos anos 80, Stephen King constrói uma trama complexa e intrigante que prende o leitor desde as primeiras páginas. O enredo bem construído desafia o leitor e surpreende a cada nova pagina, começando com uma trama policial que vai sendo entrecortada com depoimentos e documentos oficiais sobre um caso que parece ser ainda mais complexo quando examinado (relembrando bastante Carrie nesse aspecto, e criando um saudosismo maravilhoso) e passando aos poucos ao toque sobrenatural que o autor domina de modo sublime.

A trama vira completamente quando esse novo aspecto é introduzido e casa bem com o livro, ele é colocado de maneira tão sutil e amedrontadora que começamos a colocar nossos eterno “e se” antes mesmo da criatura ser apresentada, criando milhões de teorias e as descartando aos poucos conforme o livro avança. O vislumbre do macabro é feito de uma forma crescente que vai criando uma atmosfera intensa e aterrorizante, a ponto de você não saber mais se esta seguro de suas certezas.

King teve uma base maravilhosa, como um dos contos mais aclamados de Edgar Allan Poe, mas em nenhum momento a trama cai na mesmisse. Embora seja um tema bem recorrente no gênero, o autor sabe bem construir algo sublime e cativar o leitor. Levantando também questionamentos bem atuais, do quão destruidor pode ser uma noticia fake na vida de alguém.

É gratificante voltar ao velho ‘monstro aterroriza cidade’, e se surpreender com um monstro tão próximo do nosso folclore que nunca sequer imaginamos ser usado de uma maneira tão sublime. O Forasteiro se torna um dos vilões mais cruéis das obras do senhor King, e isso não é pra qualquer um. A construção de personagens de King é magnifica, sendo um dos melhores acertos da obra (assim como a interligação das subterrâneas que convergem de forma sublime para um mesmo ponto). Ele não pensa duas vezes em nos apresentar um personagem, criar uma empatia forte para com o mesmo para mata-lo de uma forma horrível na pagina seguinte, e esse é uma das melhores coisas dos livros de King: você nunca sabe quem esta seguro e o que esta na esquina.

Ralph se vê confrontado com algo que ele não entende, com os arrependimentos dos seus atos e confuso com tudo que esta acontecendo, ele tenta ao máximo achar uma lógica no meio dessa loucura e bate de frente com os “e se”. Um personagem cativante e envolvente, lidando com seus erros e tentado a não se dobrar perante a cena que se apresenta. Sua mulher, Jeannie se mostra mais disposta a acreditar nos toques sobrenaturais, apresentando muitas das teorias que ajudam no caso e se mostrando bastante interessante. King ainda apresenta um crossover magnifico com a trilogia iniciada em Mr Mercedes, com a investigadora Holly com seu jeito peculiar e cativante que nos conquistou durante a trilogia. Holly surge como a luz de esperança que pode trazer alguma clareza a trama, acostumada a lutar com casos que fogem da realidade, ela se mostra pé no chão e condiz bem os novos personagens para que não caiam na mão da loucura. Um breve aviso, Outsider possui spoilers pesados sobre o enredo e o final da trilogia, então estejam preparados.

O livro chega em solo brasileiro pelas hábeis mãos da Editora Suma, que mostra todo o carinho pelo mestre em seu cuidado com a obra. A capa instigante, as paginas amareladas, a tipografia de um tamanho maravilhoso e a tradução maravilhosa mostra o respeito e amor da editora para com seus fãs.

Brutal e aterrorizante, Outsider é uma das melhores obras contemporâneas do amado mestre do Horror, uma volta a raízes que prende o leitor desde sua primeira página e nos faz prender a respiração ate a ultima palavra. Uma montanha-russa com toques nostálgicos e arrepios constantes a cada nova volta, um King em seu melhor estado.

“A realidade é como um gelo fino, mas a maioria das pessoas patina a vida toda e nunca cai, só no finalzinho. Nós dois caímos, mas ajudamos um ao outro ao sair. Ainda estamos nos ajudando.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Outsider

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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