Resenha | ‘Salem

Nota
4.5

“Fiquem longe do lote da Jerusalém se não quiserem perder as tripas.”

A cidade de Jerusalem’s Lot, na Nova Inglaterra, sempre pareceu atrair o mal para sua região. No verão de ‘39, um homem cometeu um assassinato violento em sua mansão seguido por um suicídio que assombrou a todos os moradores e, desde então, a Casa Marsten permaneceu vazia no topo da cidade, como se observasse macabramente a vida abaixo. Décadas depois, três forasteiro chegam a cidade, dois deles atraídos pelo símbolo mais sinistro que ‘Salem poderia oferecer; Ben Mears, um escritor que viveu na cidade durante alguns anos de sua infância e que está disposto a acertar as contas com o próprio passado; o Sr. Barlow, uma figura misteriosa que decide abrir uma loja na cidade; e Mark Petrie, um menino obcecado por monstros e filmes de terror, que vê seu mundo de fantasia se tornar realidade.

Após a chegada desses três, fatos inexplicáveis começam a perturbar a vida em ‘Salem Lot, trazendo um surto mortífero que modifica para sempre o destino dos habitantes. O ar funesto passa a envolver a pequena cidade com seu toque maléfico, desafiando a fé de todos que ali habitam. Os destinos de Ben, Mark, Barlow e da própria ‘Salem Lot estão incontestavelmente ligados, e a hora do acerto de contas finalmente chegou.

“Se ele sabia o que era a morte? Claro. Era quando os monstros te pegavam.”

Após o sucesso de seu primeiro romance, Stephen King estava pronto para mais uma jornada macabra, mas, dessa vez, utilizaria um clássico da literatura de terror para despertar novas formas de arrepiar seus leitores. Lançado originalmente como A Hora do Vampiro, ‘Salem é a segunda obra escrita pelo Mestre do Horror, trazendo tudo aquilo que amamos no mito mais conhecido de todos os tempos, com um toque que só Stephen King saberia fazer. Ao mesmo tempo que o livro é uma grande homenagem a Bram Stoker, com todos os tópicos que tanto conhecemos na mitologia do Vampiro, King consegue deixar sua obra com um aspecto único que nos envolve desde suas primeiras páginas.

King constrói um suspense horripilante que nos mantém vidrados, trazendo uma construção em banho-maria que nos cozinha sem ao menos notarmos. Para isso, ele apresenta a cidade de ‘Salem como um dos personagens na sua própria história, trazendo sua dinâmica cotidiana para que possamos nos acostumar com suas personas, o que a tornaria uma das três cidades mais importantes no kingverso. O autor exibe uma leva de personagens que se conhecem desde que chegaram ao mundo, e possuem um forte sentimento de pertencimento à comunidade, o que torna sua presença ainda mais viva no romance. Aprendemos seus dilemas, segredos e pecados, assim como a história sombria da cidade que nunca foi totalmente enterrada. Quando as mudanças finalmente chegam, sofremos junto com os personagens, a quem já criamos um apego emocional, principalmente quando a cidade, que antes era tão viva e vibrante, começa a definhar diante de nossos olhos.

A Casa Marsten, tão presente em todo enredo, serve como um coração sombrio e pecaminoso da cidade, roubando o protagonismo em vários momentos para conduzir com veemência sua própria narrativa. Conhecemos sua história, identidade e presença, que define muito bem o clima que a estória abordaria nas páginas a seguir. A simbologia temática e o peso quase monumental que a ambientação tem na narrativa mostram um crescimento latente do autor, definido muitos pontos que nortearam sua carreira a partir desse momento.

O livro ainda nos apresenta personagens formidáveis, que possuem falhas e acertos extremamente humanos, desde sua bondade corriqueira à crueldade absoluta que reina na perversidade humana. E é exatamente essa verossimilhança, repleta de imperfeições, que traz a identificação do leitor com as escolhas tomadas ao longo da narrativa. Um dos personagens mais chamativos se encontra no Padre Callahan, que deveria ser o pilar inabalável da fé, mas comete os erros mundanos que arrastam seu destino a lugares terríveis. As criaturas de King possuem um ar sombrio e infeliz, que ressoa em suas atitudes quase animalescas, controladas por um mal maior. E por falar nele, o antagonista é sublime em todos os sentidos. Chegando como um ser que impõe sua presença, o vilão traz uma crueldade singular de uma mente perspicaz, tornando todo o temor ainda mais profundo, sendo quase caricato, ou antiquado, em sua representação. O que se mostra um baita acerto. Talvez, o único grande defeito do livro esteja em seu final abrupto, que soa quase frustrante quando analisamos a narrativa apoteótica que a trama construiu.

Representando um dos melhores suspenses sobrenaturais de Stephen King e trazendo como cerne da corrupção humana, ‘Salem aborda seus temas de modo sublime, demostrando uma das melhores qualidades do seu autor: a capacidade incomparável de criar uma ambientação profunda e coerente. Estabelecendo métodos e trazendo uma perspicácia sobre sua própria narrativa, o livro nos mostra a versatilidade e amplitude da mente que transformariam o King no mestre que conhecemos hoje, o que só nos faz apreciar ainda mais a obra e tudo o que nos foi entregue em suas quase 500 páginas.

“Para as crianças, chegou a hora de dormir. (…) Mas, em torno dos moradores, a bestialidade da noite irrompe em suas asas tenebrosas. A hora do vampiro chegou.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: ‘Salem

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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