Nota
“Para Beatrice,
Meu amor voou como uma borboleta
Até a morte pousar como um morcego.
Como disse a poeta Emma Montana McElroy:
“Aí acabou-se a história””
Após escaparem por um triz das garras do terrível Conde Olaf, as crianças Baudelaire se encontram a caminho de sua nova casa se perguntando se algum dia as coisas vão melhorar. Os órfãos já passaram por poucas e boas desde que sua casa foi destruída em um misterioso incêndio que matou seus pais e a esperança de um futuro melhor. Desde então, eles são jogados de um tutor a outro enquanto são perseguidos por seu maior inimigo disfarçado nos mais diferentes (e péssimos) disfarces.
Dessa vez, Violet, Klaus e Sunny descobrem que vão morar em uma serraria, comandada por um homem com um nome impronunciável conhecido apenas por Senhor. Enquanto se “acomodam”, os jovens descobrem que terão de trabalhar para se manter no local. Enquanto dão duro horas a fio, tendo como almoço apenas um chiclete em um intervalo que dura apenas cinco minutos, os Baudelaire são supervisionados por um capataz misterioso, com uma peruca e máscara que escondem constantemente seu rosto dos funcionários da Serraria Alto-Astral. Após misteriosos acontecimentos levantarem uma suspeita é um desconforto entre os Irmãos, os Baudelaire estão prestes a descobrir que suas vidas podem se tornar ainda pior do que eles imaginam e não há positividade suficiente no mundo para impedir a catastrófica aventura que se estende pela frente.
Por vezes, quando um livro cai em nosso colo, podemos perceber seu conteúdo apenas pela primeira frase escrita. Alguns falam de sonhos a serem realizados; outros, de um tesouro escondido e aventuras sem fim, mas esse não é um livro alegre e sua primeira frase mostra isso logo de cara. Caro leitor, eu acredito que existam formas melhores de aproveitar seu tempo. Talvez uma boa caminhada ou até mesmo um cochilo no meio da tarde, mas nada de bom pode vir da leitura de um livro tão trágico e de uma resenha ainda mais sombria. É meu trabalho analisar essa triste história, mas vocês não precisam fazer o mesmo. Vão curtir seu dia e fazer algo divertido, quem sabe aproveitar o sol e não se entristecer com a saga dos Baudelaire. Mas, se insistem em ficar, devo alertá-los que momentos sombrios se estendem pela frente…
Você deve se perguntar como uma saga tão pessimista e triste possa ser tão envolvente e carismática. E, para isso, eu felizmente tenho a resposta: Lemony Snicket tem o dom em transformar uma obra pessimista e surreal em algo magnífico e com uma profundidade ímpar, tratando seu público com o devido respeito e nos fazendo ansiar ainda mais pela continuidade da desafortunada saga dos irmãos Baudelaire.
Serraria Baixo-Astral marca o quarto volume da série mais desafortunada de toda a história. Com seu humor peculiar, Snicket conduz a trama com maestria nos fazendo encarar o inimaginável e rir com situações exageradas e cheias de surrealismos, mas que condizem bem com a trama. Com claras referências a 1984 de George Orwell, o livro invoca uma crítica pesada a alienação e ao comodismo ao ponto de não nos indagarmos quando coisas terríveis acontecem ao nosso redor e o quanto a classe trabalhadora é tratada de um modo tão desumano para o lucro superior.
Também podemos perceber uma mudança no semblante dos personagens. Violet e Klaus, tão acostumados a seus papéis no grupo, agora têm que pensar fora da caixa e achar respostas por outro ponto de vista, trazendo uma dinâmica interessante para a trama. O Conde Olaf retorna em mais um de seus disfarces (o melhor na minha opinião), para executar mais um dos seus planos. Dessa vez, o malvado aparece como Shirley, a nada sensual secretária da oftalmologista que usa seus dons para conseguir o que quer. Ainda temos o otimista Phil, que sempre procurar ver o lado bom das catástrofes que acontecem ao seu redor, trazendo um contrabalanço preciso as desgraças presentes na vida dos Baudelaire.
A edição da Seguinte esta sublime. Seguindo o mesmo projeto dos volumes anteriores, a obra traz ilustrações das desafortunadas aventuras dos jovens. Com uma fonte confortável e suas páginas amareladas, o livro nos faz devorar seu conteúdo com um tempo recorde, além de ansiar ainda mais pelos próximos volumes.
Com um toque divertido a um enredo que deixaria o conselho tutelar enlouquecido, Serraria Baixo-Astral leva o surreal ao extremo, de uma forma engraçada e cheia de mistérios, fazendo-nos questionar tudo o que conhecemos até o momento e leva a saga a outro patamar hipnótico, onde o lúdico e o humor negro se misturam de uma maneira nada convencional.
“Se algum dia vocês passaram por uma experiência lamentável, com certeza já ouviram que na manhã do dia seguinte se sentiriam melhor. Isso, evidentemente, é um completo absurdo, por que uma experiência lamentável continua a ser uma experiência lamentável apesar da mais linda das manhãs”
Ficha Técnica |
Livro 4 – Desventuras em Série Nome: Serraria Baixo-Astral Autor: Daniel Handler / Lemony Snicket Editora: Seguinte |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...