Nota
“ – Três espíritos virão visitar você. – Disse o Fantasma. (…) – Sem a visita deles, não há esperanças de que você escape do caminho que eu estou percorrendo. Espere o primeiro amanhã, quando os sinos baterem a primeira hora. (…) – Espere o segundo, na noite seguinte, à mesma hora. E o terceiro na outra, após a última batida da meia-noite. Não espere me ver de novo, mas, para o seu próprio bem, não esqueça do que aconteceu entre nós!”
O Espírito de natal chegou à Londres Vitoriana, alegrando os corações e derretendo ressentimentos enquanto prepara as almas para a época mais feliz do ano… exceto por uma. Ebenezer Scrooge odeia tudo relacionado a época natalina. Seja a felicidade sem sentido ou a bondade desnecessária, tudo sobre a festividade lhe causa asco, principalmente quando algo precisa ser tirado do seu bolso.
Trabalhando em um escritório no coração de Londres, o muquirana tenta fazer a vida de todos ao seu redor a mais amarga possível, tratando com desdém seu pobre empregado, Bob Cratchit (uma alma pobre mas feliz, que se mantém alegre pelo pouco que tem), e seu sobrinho, Fred, que insiste em lhe chamar para a ceia federal de natal.
Mas, tudo muda quando ele é visitado por uma estranha aparição na véspera do Natal. Seu ex-sócio, Jacob Marley, falecido há sete anos naquela mesma data, decide invadir sua casa e demonstrar os horrores que está sofrendo em sua pós-vida. Amarrado às correntes que fechou durante sua estadia na terra, o morto avisa que Ebenezer terá o mesmo destino… se não aproveitar a última chance que lhe é imposta.
Três fantasmas lhe visitaram nas noites vindouras, sempre a primeira hora da madrugada, e só recebendo essas visitas Scrooge poderá ser solto de seu destino. Mas, seriam esses ensinamentos suficientes para mudar a alma do velho muquirana ou nem a ajuda espiritual conseguiria mudar um espírito tão razinza e avarento como o dele?
Em um mundo repleto de informações, onde cada notícia era avidamente lida, Charles Dickens encontrou um meio oportuno de propagar suas histórias de maneira acessível e confortável para boa parte da população: o folhetim. Publicados em capítulos e acompanhados com vigor pelo seu público, as histórias do autor traziam relatos magníficos sobre o mundo moderno, mas sempre apontando as chagas presentes nesse novo universo. E foi partindo desse princípio que o autor escreveu sua obra mais conhecida, que atingiria em cheio o grande público e perpetuaria seu nome como um dos grandes escritores vitorianos.
Um Conto de Natal aborda essa podridão urbana sem nunca atacar, criticar ou ofender as indústrias vitorianas, trazendo um percurso promissor que envolveria todas as classes presentes de maneira sucinta e memorável. O equilíbrio entre a critica social e o moralismo de época sempre se mostrou presente no texto do autor, despontando uma balança bem torneada que conseguiria falar com todos sem machucar ninguém.
Dickens foi um dos primeiros a encarar os males sociais e, aproveitando sua temática mais sensível, conseguiu trazer a discussão tanto para os lares nobres quanto para os menos afortunados. Afinal, quem não abre uma brecha em sua couraça durante a época de natal? E é exatamente isso que torna sua obra tão memorável.
Embora pareça simples a primeira vista, a história consegue arrancar camadas de seu leitor, nos fazendo reavaliar nossos atos e entender com maestria o ensinamentos aqui levantados. Mas, para isso, seu cerne precisa estar focado em alguém detestável, que representa toda podridão do mundo.
Ebenezer Scrooge é a representação da avareza. Rígido, rancoroso e mal humorado, o velho consegue trazer amargor a todos que se encontram ao seu redor, pouco se preocupando com o mal que causa nas pessoas e apenas interessando-se no que isso custaria a seu bolso. É exatamente por ter uma personalidade tão detestável que sua jornada se mostra oportuna e gratificante, enquanto acompanhamos a desconstrução de suas camadas e percebemos o quanto somos transformados por nossas escolhas no caminho.
Scrooge encara seus erros ao revisitar a época que mais detesta a cada nova visita e, ao mesmo tempo que entendemos melhor sua personalidade atual, aprendemos que qualquer um pode se fechar para o mundo ao seu redor. A cada visita sobrenatural uma nova casca é arrancada, o deixando em pele viva para encarar o que se tornou e fazer o leitor refletir com os ensinamentos doloridos de cada passagem.
Dickens ainda aproveita esses momentos para demonstrar o quanto nossas atitudes interferem na vida alheia, que criam raízes filosóficas que perpetuam sem texto e entram profundamente em nossa carne. Não é a toa que a obra foi tão reproduzida e aclamada, recebendo inúmeras adaptações e servindo como inspiração para um amado personagem da própria Disney (afinal, você não acha que o Tio Patinhas é daquele jeito a toa, não é?)
Com uma linguagem universal e um peso atemporal, Um Conto de Natal representa o que existe de melhor nessa data. Seja por sua bela história ou por seus ensinamentos marcantes, a obra consegue transpor sua época e virar um marco literário que se mostra tão potente hoje quanto foi no seu lançamento. E, nunca é tarde para baixar um pouco a guarda e entender a verdadeira magia em se deixar transformar pelo Espírito natalino… mesmo que isso te assuste um pouco.
“Muita gente riu de sua mudança, mas ele deixou que rissem, pois tornara-se sábio o bastante para entender que nunca algo de bom acontece neste mundo sem que alguém encontre nisso motivo de riso e zombaria.”
Ficha Técnica |
Livro Único
Nome: Um Conto de Natal Autor: Charles Dickens Editora: L&PM Editores |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...