Resenha | Veneno

Nota
4

“Beije-me como ela o beijou — murmurou ela, com o hálito fervendo e a pele quente. — Por favor.
E o caçador, amaldiçoando a si mesmo, a beijou.”

Em um reino distante, um velho rei se vê obrigado a ir para o campo de batalha, deixando sua bela filha aos cuidados de Lilith, sua esposa, uma mulher sexy e muito bela que foi obrigada a se casar muito cedo e acabou tendo que aprender a usar seus dons para tirar os obstáculos que surgissem em seu caminho. Branca de Neve já tinha problemas com sua madrasta desde antes de seu pai ir para a frente de batalha, ela não gostava de usar corpetes apertadíssimos ou das insistencias em se portar como realeza, tudo que ela queria era aproveitar a sua juventude e se divertir na companhia de seus estranhos amigos, os anões. Com a ausência do Rei, a rainha fará de tudo para a garota se portar como uma dama e não como uma selvagem, mostar quem realmente manda ali, mas Branca não é o tipo ‘mocinha’, ‘princesa’, ‘esposa’, e essa disputa de forças irá abalar todos no reino, numa trama sexy, sarcástica e intensa que pode acabar envolvendo um caçador de passagem, um príncipe desajustado e anões à margem da sociedade.

Os fãs de Once Upon a Time ou de Grimm já estão acostumados a ver uma trama que manuseia os contos de fadas e remodela para se transformar em algo inesperado, totalmente novo. Mas o que Sarah Pinborough entrega vai muito além disso, ela se propõe a comprovar que contos de fadas não são para crianças e sim para adultos, que não existe Felizes para sempre e que todas as histórias dos contos de fadas se conectam em algum momento, e ela faz tudo isso de uma maneira muito mais sexual e carnal do que qualquer um poderia imaginar. Já imaginou ver os contos de fadas serem contatos em uma versão hot? Onde a Madrasta está disposta a usar sexo para alcançar seus objetivos, onde Branca de Neve se envolve em farras e bebe litros de cerveja ou onde o caçador se vê no meio de uma grande batalha de sedução? É isso que Pinborough entrega no primeiro livro da Saga Encantadas, uma história que foge completamente dos moldes dos contos de fadas e da qual você precisa estar pronto para encarar sem preconceitos. A obra vai muito além do convencional, apesar de isso não significar que ele seja realmente um livro bom, principalmente por ser capaz de ativar gatilhos com hipersexualição das personagens femininas, excesso de cenas de sexo gratuitas, machismo, preconceito, reforço constante do “branco puro”, inconsistência emocional, entre tantos outros problemas que são colocados como parte da proposta de ser uma históira politica incorreta, mas que mesmo assim são incomodas para alguns. Mas da mesma forma que uma rosa que é linda e cheio de espinhos, em Veneno os mocinhos não são tão bons assim, a vilã não é exatamente má e o verdadeiro amor não passa de conveniência.

“Há certas coisas na vida que mudam você. Aquela era uma verdade tão certa quanto nascer e morrer…”

Branca e Lilith são as protagonistas da história, mas além do básico da relação entre as duas, a trama vai fundo para nos mostrar quem realmente são as duas garotas do Rei, tão densas, tão inocentes e ao mesmo tempo, tão malvadas. Branca cresceu livre, sendo mimada o tempo todo pelo pai, que nunca foi capaz de cria-la direito, colocar regras ou faze-la ser realmente uma princesa, então ela é acostuma a andar com botas e calças, passar o dia montando cavalos ou bebendo ao lado dos anões. Lilith é o extremo oposto de Branca, ela cresceu numa vida regrada, até o dia que seu pai descobriu ela tinha magia em seu sangue, como castigo o Rei resolveu casa-la com um Rei Viúvo de um reino distante, um homem corpulento, velho e com uma filha apenas quatro anos mais nova que ela. Anos de convivência criaram uma rivalidade entre as duas mulheres, Lilith odiava a forma como todos mimavam e idolatravam a princesa e como todos a comparavam com a Boa Rainha, mãe de Branca. Será que a rainha não acabou tendo motivos suficientes para ser tão amargurada? Será que Branca realmente é essa menina boazinha que todos enxergam? Será que a rainha má não teve seus motivos para fazer tudo que fez? E será que príncipes realmente são tão encantados e reinos distantes também não têm problemas reais?

A rainha tem seus motivos, Princesa não é nada educada, refinada e virginal e o principe nunca foi encantador ou respeitador. Assim como as séries já citadas, o enredo começa a trazer personagens de outras histórias que marcaram nossa infância, como Aladim, um inescrupuloso ladrão que foi enganado pelo seu gênio e amaldiçoado, ou a interessante ligação entre a Rainha e João e Maria. Com uma leitura fluída e rápida, o livro apresenta uma diagramação boa e bastante detalhes a cada mudança de capítulo, apesar de começar um pouco lento, poucas páginas depois a obra entrega intrigas, artimanhas, magia e feitiçaria, virando os contos de fadas de ponta-cabeça enquanto desenvolvem histórias surpreendentes que a Disney jamais ousaria contar. Os personagens são bastante humanizados e as intrigas, apesar de conter mágia, são bem pé no chão, o que surpreende positivamente quem se entregar à leitura sem criar expectativas, já que a história, apesar de não seguir de uma forma muito diferente da que já foi recontada milhares de vezes, consegue reconstruir tudo de uma forma inesperada. A história pode não ser um novidade, mas o caminho que as coisas vão tomando para sair de um ponto a outro, esses sim são diferentes. Sexy e capaz de tirar o fôlego, Veneno é realista, cínico e pesado, indo muito além do sexualmente falando, Pinborough questiona sem medo quem são os mocinhos e quem são os vilões dos livros de fantasia, levando a um final que vai te deixar com vontade de seguir adiante na Saga e conhecer a próxima parte dessa história surpreendente.

“Além da morte, a única coisa que dura para sempre é o amor verdadeiro.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Saga Encantadas

Nome: Veneno

Autor: Sarah Pinborough

Editora: Gente

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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