Nota Geral
““Não é difícil encontrar o mal nesse mundo.”, disse a Bruxa. “O mal é sempre mais fácil de imaginar que o bem, de alguma forma.””
Todos conhecemos os encantos presentes em O Maravilhoso Mágico de Oz, e todos adoramos seus ensinamentos, que se tornaram parte do nosso imaginário ao longo das décadas. Mas, nada disso seria possível sem a fantástica vilã da trama, com sua pele verde como o pecado e sua face aterradora, que trouxe a melhor definição de Bruxa da cultura pop.
Durante toda nossa vida, sempre fomos levados a acreditar que a maldade estava ligada ao cerne daquele que a produz, sendo tão natural que não ousamos questionar em que momento aquela criatura se tornou malvada. Figuras como bruxas, demônios ou qualquer ser grotesco já despertaram nossa aversão, principalmente quando fazem parte de uma história tão conhecida que não existe viva alma que não se lembre… bom, mas nem tudo é como parece ser.
“O Leão quer coragem, o Homem de Lata quer um coração e o Espantalho quer um cérebro. A Dorothy quer ir para casa. O que você quer?
(…) Uma alma…”
Afinal, as pessoas nascem más ou a maldade é imposta a elas? E se for esse o caso, qual seria a natureza do mal? Será mesmo que o vilão é realmente o grande mal das narrativas que conhecemos, ou apenas mais uma vítima infeliz de algo maior que seu destino? Tendo essas duvidas em mente e sendo um grande apaixonado pela história criada por L. Frank Braum e, principalmente, pela icônica adaptação de ’39, Gregory Maguire decidiu mergulhar de cabeça no universo da Terra de Oz, trabalhando de maneira sombria e aterradora a história de uma mas maiores vilãs do cinema e da literatura.
Escrito com uma sobriedade impecável, Wicked da inicio à brilhante saga The Wicked Years, onde somos transportados, com maestria, para um enredo muito antes de Dorothy Gale pousar em Munchkinlândia. Gregory constrói uma trama política e perturbadora, que nos mostra o outro lado da moeda em uma história que achávamos conhecer como a palma de nossas mãos. A narrativa não mede esforços em trazer um ar pesado e opressivo, que nos deixa apreensivos desde as primeiras páginas. Tudo aqui é pensado com maestria, demostrando a complexidade do universo na qual está inserido e ampliando os horizontes do que nos foi apresentado anteriormente.
Gregory utiliza a base conhecida de maneira magistral, respeitando seus traços enquanto nos informa que tudo aquilo não passou de uma visão infantil, demostrando que, o mundo encantado, só existe na fábula. A natureza do mal, o cerne da alma e a fé cega são amplamente debatidas, em diálogos filosóficos e profundos que contrapõem, e englobam, um cenário político autoritário. Além da complexidade social e as fortes marcas que as atrocidades nela presente podem trazer a um ser que puramente existe.
““Pessoas que dizem que são malvadas geralmente são gente como a gente.” Ele suspirou. “São as pessoas que alegam que são boas, ou melhores que o resto de alguma forma, que oferecem algum risco.””
Elphaba Thopp sempre foi considerada uma pária. Nascida com a pele verde e dentes pontiagudos, ela enfrentou os desafios e preconceitos desde sua primeira respiração, se tornando uma pessoa reservada e sarcástica que sempre esteve preparada para atacar enquanto buscava se defender. Irritadiça, esperta e repleta de uma dualidade incompreendida, Elphie coloca a prova, com sua própria existência, a natureza do bem e do mal. Seu desenvolvimento é algo formidável, nos tirando do habitual para mergulhar de cabeça em seu declínio. Acompanhamos cada passo com uma curiosidade quase mórbida, enquanto absorvemos os sinais que logo culminam na paranoia destrutiva, já que os limites que são impostos são brutais e as consequências avassaladoras.
Embora não tenha tanto destaque quanto a protagonista, também conhecemos Liir, um tímido garoto que nunca teve afeto na sua vida, mas se desenvolve com uma pureza magnífica em meio ao caos. Galinda/Glinda por sua vez esconde sua mente ágil por trás de uma futilidade confortável, mas é alterada conforme se aproxima dos demais personagens. É interessante enxergar por trás da faixada da Bruxa Boa do Norte e ter lapsos dos seus verdadeiros pensamentos. O Mágico é um ser atroz em todas as adaptações, trazendo o pior da humanidade em forma de um senhor aparentemente bondoso e gentil. Cada ato que ele prepara, aumenta nosso asco, construindo um bom antagonista que sabe manipular as massas a sua volta.
A edição da Darkside é um verdadeiro luxo visual. Desde a capa impecável, que se mostra uma das mais bonitas da editora, até o cuidado editorial, cada ponto acerta em cheio e ilumina nossos olhos, trazendo um livro indispensável para se ter nas nossas estantes. Só vamos torcer que as outras obras da saga cheguem em solo brasileiro, com a mesma qualidade gráfica que nos foi presenteada nesse volume.
Repletos de nuances e um uma trama política afiada, Wicked nos traz uma leitura sombria do Mundo de Oz que, se nãos nos transformar em sua leitura, ao menos vai nos fazer refletir sobre cada aspecto levantado. Arrebatando milhões de pessoas, a obra deu origem a um dos maiores musicais da Broadway que, embora mais leve, se mostra tão impactante quanto sua base. Agora só nos resta esperar a sonhada adaptação da peça para o cinema, que tem tudo para nos conquistar novamente.
“Ninguém aprende como a Bruxa virou má, ou se aquela era a escolha certa para ela — será que bruxas sequer tem escolhas? Será que o diabo se esforça para voltar a ser bom, ou nesse caso deixaria de ser o diabo?”
Ficha Técnica |
Livro X – xoxoxox
Nome: ____ Autor: ____ Editora: Darkside |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...