Review | 3% [Season 3]

Nota
4

“Um mundo dividido em dois lados
Até a construção de um terceiro.”

Alguns anos se passaram desde o grande golpe do 105º Processo, os planos de Michelle deram certo e, agora, a Concha foi construída. Durante os anos de construção, Fernando acabou morrendo, espancado pelas pessoas do Continente que tinha preconceito com a Concha, e o Maralto se tornou mais agressivo, reprimindo ainda mais os habitantes do Continente. Os tempos mudaram, a Concha pode ser a salvação da população, mas também é o alvo de muito medo, ela se tornou o abrigo de MarcoRafael/TiagoGloriaElisa e tantos outros rejeitados pelo Maralto, mas também se tornou uma grande ameaça aos líderes do Maralto, algo que foi percebido por Joana e a faz resolver ir a esse novo abrigo, para descobrir como usar esse terceiro lado como a grande arma para destruir o Maralto.

Tudo estava indo bem, até que uma tempestade de areia atingiu a Concha e colocou tudo a perder, destruindo o gerador, acabando com o fornecimento de água, despertando o pior em seus moradores e culminando no roubo do estoque de comida. Agora Michelle se vê obrigada a fazer uma seleção, ela precisa reduzir a população da Concha a 10% para que a unidade possa sobreviver ao período de reconstrução. Aos poucos vamos vendo novas questões surgindo, como a revolta dos rejeitados pela Seleção, prontos para tomar a unidade e expulsar a fundadora, e as manipulações de Marcela, querendo derrubar de vez a Concha ou torna-la um anexo do Maralto, e todos os efeitos desse novo status quo, forçando todos a ter uma visão distorcida do inimigo, tirando completamente o foco do Maralto e do Processo, e jogando um gigantesco holofote na Concha e nos dilemas que ela precisa enfrentar. Apesar de o Maralto atual não ser um foco, o passado do Maralto volta a ser revelado, criando um paralelo entre a luta interna de Michelle, ao criar a Seleção, e os dilemas enfrentados por LaísVictor (o Casal Fundador), que precisam enrijecer o Processo e criar novas regras para proteger o Maralto, buscando proteger da super-lotação ao esterilizar os habitantes e enviar as crianças para Continente, onde devem esperar completar 20 anos para passar pelo Processo, uma escolha que nos leva a conhecer Tânia, a filha do Casal Fundador, a garota que é rejeitada pela prova dos próprios pais, a mulher que condessou seu ódio na criação do maior inimigo do Maralto, a Causa.

Sem a presença de Michel Gomes, um dos maiores destaques das temporadas anteriores, a série acaba precisando trazer novas evoluções para personagens que não tinham destaque anteriormente. Aos poucos vamos vendo um desenrolar diferente para o personagem de Rodolfo Valente, agora Rafael está lutando para se redimir com Elisa, que teve sua vida no Maralto completamente destruído pelo agente da Causa, e para proteger Artur, seu irmão caçula. O personagem de Rodolfo está indo cada vez mais fundo em sua personalidade, passando por sua pior fase e proporcionando ao ator representar sua melhor dramaticidade, algo que engrandece a evolução que ele protagoniza no decorrer da temporada. Bianca Comparato tem uma bela melhorada nessa temporada, ela evolui ainda mais sua personagem e melhor bem mais sua atuação, parecendo mais confortável no papel e se envolvendo com tramas mais dramáticas, nos motivando a torcer por ela em vários pontos, o que nos faz desejar que essa evolução chegue a seu ápice o mais rápido possivel, apesar de certos pontos do seu enredo serem incômodos, por se tornarem conveniente demais para futuros acontecimentos, cenas que ficam forçadas por puro desejo dos roteiristas de permitir um outro evento posterior. Vaneza Oliveira inicia uma queda em sua personagem, Joana começa a ficar chata, como se seus ideias fossem puramente baseada na birra, evitando congregar com aqueles ao seu redor, evitando a união, e se tornando cada vez mais insuportável, algo que via contra todo o empoderamento que ela tinha nos anos anteriores, denegrindo a personalidade da personagem.

Quem se engradece na trama é Cynthia Senek e Rafael Lozano, que interpretam, respectivamente, Glória e Marco. Cynthia, que se destacou bastante com sua personagem inocente na segunda temporada, lembrando muito uma versão mais jovem da Isis Valverde, evolui e muito nesse terceiro ano, botando suas garras de fora e se tornando poderosa, primeiramente como uma das maiores apoiadoras de Michelle, e posteriormente como a líder da revolução contra Michelle, passando por um ciclo evolutivo cheio de detalhes, que nos leva até a conhecer os detalhes do seu desempenho no 105º Processo e os motivos da sua eliminação. Já o personagem de Lozano traz para as luzes a evolução de seu personagem, que passou a primeira temporada com um grande destaque ao ser o orgulhoso representante dos Álvares da edição, sendo levado ao fundo do poço na segunda temporada, ao mostrar as consequências psicológicas de sua rejeição e sua evolução até se fortalecer no continente, na luta por orgulhar sua mãe, Marcela, e agora, no terceiro ano, ele segue um dúbio caminho de redenção, se virando contra sua mãe e o legado dos Álvares, assumindo completamente seu posto como pai, criando Mauricio (o último Álvares) para ser o primeiro Álvares a não viver na busca por passar pelo Processo, e tentando construir sua vida, ora se unindo à Concha, ora se unindo a Michelle e ora se unindo à revolução. Thais Lago ganha um pequeno destaque como Elisa, tendo sua personalidade melhor explorada agora que é uma criminosa do Maralto, com seus sentimentos conflitantes com Rafael (seu namorado do Maralto) e Otávio (seu namorado antes do Processo), além de nos levar de volta ao 99º Processo, onde vemos mais a fundo a luta de Elisa, Otávio e André para serem aprovados, o que nos leva ainda a conhecer mais a fundo o personagem de Bruno Fagundes, que se torna um dos grandes antagonistas da temporada.

Depois de uma primeira temporada que deu o tom e uma segunda que veio para responder perguntas, o terceiro ano da série parece querer ir mais fundo e unir o melhor das duas temporadas, mas sem a presença de João Miguel e sem uma interferência mais forte do Maralto, a série perde a chance de evoluir para algo melhor, ficando muito boa mas não o suficiente para superar o sucesso do segundo ano, ficando apenas num nível equivalente, deixando claro que Bianca Comparato e Vaneza Oliveira sozinhas não são capazes de sustentar o enredo. Trazendo um elenco mais jovem, a trama perde muito em atuação, não tendo um elenco que amadureceu tão bem e um elenco mais antigo que vai sendo deixado para trás, o que é compensado pelo enredo, que dá uma melhorada ao tratar com mais tato as diversas crises políticas do passado e do presente, as reviravoltas que a interação humana proporciona e desenvolvendo brigas de bem versus mal que prendem bem mais a nossa atenção. Com uma cenográfica muito mais desértica, a série parece se basear, e muito bem, nos cenários deslumbrantes que nos conquistaram no decorrer da franquia Star Wars, buscando até algumas referencias para o visual dos personagens (temos até uma personagem que lembra muito o cabelo da Tenente Connix), com uma escolha de elenco que faz a série parecer uma Malhação distópica, e um roteiro que parece beber do melhor que existe nas novelas brasileiras. O novo ano de 3% nos mostra o quanto a equipe técnica conseguiu melhorar a série e o quanto o elenco teve uma decaída, nos deixando no ar um gancho para uma quarta temporada cheia de potencial e um desejo por ver dialogos mais amadurecido e personagens com uma melhor evolução.

“Se quiser se tornar alguém, você precisa fazer por merecer…”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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