Review | 3% [Season 4]

Nota
4.5

“Enquanto vocês estiverem sob nossa guarda
eu dou a minha palavra que não correm nenhum risco.”

Agora que a Concha foi obrigada a dar o primeiro golpe, capturando Marcela e alguns dos soldados da Divisão, um comitiva foi convocada ao Maralto para conversar com Nair e os membros do Conselho, uma comitiva formada por Joana, Rafael, NatáliaMarco Elisa. O convite acabou sendo uma brecha, pode ter chegado a hora de colocar em pratica o grande plano de explodir o pulso magnético que vai derrubar o Maralto, mas nada é tão simples quando se imagina. O plano tem certas dificuldades para ser executado, Joana começa a desconfiar que pode ter encontrado sua mãe entre os residentes do Maralto, Elisa começa a lutar para conseguir salvar o máximo de equipamentos médicos e remédios antes do pulso, Michele precisa se infiltrar dentro do Processo, que foi adiantado, e, além de tudo isso, é revelado que André deu um golpe de estado e tirou o conselho do poder, o que faz com que o Conselho precise da ajuda da comitiva da Concha para derrubar o ditador.

Depois de quase quatro anos da sua estréia, em 14 de Agosto de 2020 foi liberada, pela Netflix, a quarta, e última, temporada da série de Pedro Aguilera assume um tom completamente novo, um tom que mistura melancolia, nostalgia e adrenalina numa receita gostosa de ser degustada durante os seus seis episódios de cerca de 40 minutos, com direito a uma bela sobremesa em “Sol” (4×07), sua finale com maravilhosos 80 minutos. Tendo sido anunciado em 29 de agosto de 2019, esse acabou sendo o ano mais esperado da série, que é a primeira produção brasileira original da Netflix e já chegou a ser a série de língua não inglesa mais assistida da plataforma, indo mais fundo na complexidade de cada personagem, nos levando cada vez mais no passado para entendermos as motivações por trás de alguns personagens, nos mostrando coração naqueles que achávamos ser complemente insensíveis, nos surpreendendo até em nos fazer ter empatia por aqueles que nunca achávamos ser possivel. A temporada anterior acabou com a constatação de que a Concha tinha material suficiente para destruir o Maralto, com a revelação de que o Maralto deu a primeira puxada de tapete e que a Concha, agora que se havia se reerguido, estava pronta para dar o troco e colocar um ponto final na desigualdade criada, erroneamente, pelo Casal Fundador.

Apesar de Cynthia Senek ter sido uma revelação nos últimos dois anos, ela parece não ter tido espaço no ano final para ter uma evolução relevante o suficiente. Glória apareceu apenas como uma engrenagem para impulsionar certos momentos do enredo, garantindo que o roteiro funcionasse e que os grandes eventos do desfecho final pudessem acontecer com toda a pompa que mereciam. Bianca Comparato começa a tomar um pouco as rédeas da trama, começando a protagonizar cenas emocionantes e evoluindo nessa última temporada o que parecia incapaz de evoluir nas três anteriores. A relação entre Michele e André entra em foco nesse novo ano, os dois ditadores ficam frente a frente no embate entre o bem e o mal, agora que Michele teve sua redenção, é chegado o momento de ela enfrentar o monstro que costumava ser seu irmão. Bruno Fagundes surge como o grande antagonista da temporada, o poder subiu à cabeça de Andre e agora ele quer ser o grande senhor do Maralto, ele derruba o conselho, ele toma a liderança do Processo, ele assume o cargo de Chefe da Divisão, André tem um evolução surpreendente, enlouquecendo até o ponto que se torna assustador de encarar, se tornando tão insano que se torna completamente desprovido de motivações e, ainda assim, um vilão completo.

Rafael Lozano é outro que passa por uma evolução gratificante, Marco passou por muitas provações durante as três temporadas anteriores, ele começou sendo o mauricinho que causava ranço e se tornou um guerreiro valoroso, sendo construído até agora, para se tornar o Álvares vingador, que cuspiu no legado da família e conseguiu chegar no Maralto, ele conseguiu chegar ao grande objetivo de sua vida e estar pronto para abdicar de tudo isso pelo bem maior, fica claro o quanto sua evolução foi essencial para torna-lo tão forte e tão cativante. Rodolfo Valente infelizmente é especialista em ser odiado, ele leva Rafael a outros níveis de babaquice, o que nos faz odiar ainda mais o personagem, de forma proposital, mas dá uma discreta redenção ao rapaz, dando a ele uma dificil missão na trama que leva ao grande evento da temporada, dando a ele a missão de ser o pé no saco que surge como a voz da razão no final. Vaneza Oliveira não tem uma grande evolução na temporada, mas ele toma a dianteira em vários momentos, mostrando o quanto o Maralto é sedutor, mas logo revelando que não há muito o que evoluir em Joana, Joana já está pronta, ela já evoluiu a um patamar tão alto que a tornou capaz de manter um protagonismo até quando não passa por uma transformação interna. Laila Garin surge como a grande surpresa da temporada, Marcela sempre foi a antagonista perfeita para a série, ela surgiu rapidamente e logo tomou seu posto, mas é nesse ano que ela é exposta momentos surpreendentes. Somos levados ao passado, depois do Processo 86, quando Marcela chegou no Maralto, e vamos vendo a forma como ela foi tratada pelo pai, sendo pouco a pouco transformada no monstro que é hoje, tendo até um pequeno flerte com a redenção que nos faz sentir uma pequena lagrima querendo escorrer.

A produção finaliza deixando claro que, mesmo com altos e baixos, é possivel ter uma série nacional, com aclamação mundial e que entregue um conteúdo interessante de se maratonar e, é possivel ainda que essa série aborde uma distopia que se pareça tanto com o nosso presente, a ponto de nos deixar eletrizados, apavorados e, inesperadamente, apaixonados. Se reerguendo do tombo criativo que sofreu no ano anterior, 3% finaliza sua trama nos mostrando os dois lados da mesma moeda, sua população, somos forçados a ver que não existe diferenças entre entre Maralto, Concha e Continente, são as mesmas pessoas com perspectivas diferentes para o mesmo problema, que acabam sendo forçadas a ficar em pé de igualdade numa das histórias mais contagiantes possíveis. Com cenas que nos fazem querer aplaudir de pé, com evoluções que nos fazem amar os piores dos piores e com redenções que nos fazem ver bondade até nos maiores dos vilões, 3% mostra uma conclusão coerente que, mesmo se passando num futuro improvável, parece mais do que nunca ser um reflexo da realidade brasileira nos últimos anos, debatendo politica, sociedade e filosofia sem acusar nenhum grande nome e ao mesmo tempo nos levando a pensar em cada um deles.

“- A gente vai apagar a história.
– Não, a gente vai fazer história.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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