Review | A Magia de Aruna [Season 1]

Nota
4

“Houve um tempo em que a mágia era algo tão natural quanto a vida… Mas aqueles que não eram dotados de poderes, temiam o desconhecido.”

Em 1723, uma caça às bruxas acontece no Rio de Janeiro, com a Ordem tentando eliminar definitivamente as Guardiãs da Magia, mas depois de eles matarem Estela, a bruxa de mecha dourada, as últimas três guardiãs (LatifaJunoCloe) decidem criar lançar uma magia para selar o poder de Aruna, o que acaba criando a Penumbra, uma escuridão que toma a cidade inteira. Trezentos anos depois, Mima luta para esconder que é uma descendente, um reduzido grupo de pessoas que tem sangue de bruxas e vive sendo caçada ou humilhada pelo resto da humanidade, ela só não esperava que seria a sucessora de Estela e acabaria quebrando o selo que liberta o poder de Aruna e as três Guardiãs da Magia. Agora, Mima e as Guardiãs precisam recuperar Aruna, enfrentando no processo a maléfica Brumma Assis, a CEO da Luminum, empresa que explora as propriedades da Artemisia Silvestre, a unica planta capaz de combater os efeitos da Penumbra.

Já não é de hoje que a Disney busca alcançar sucesso com filmes e séries brasileiras, trazendo histórias que exalam a formula mágica da Disney mixadas a uma pegada que o público brasileiro possa se indentificar como nascido da cultura nacional, mas se antes a Disney Channel era quem surgia como casa dessas produções, nos trazendo a chamativa Juacas e o duvidoso High School Musical: O Desafio, agora é a hora da Disney + investir nesse viés, e foi dai que surgiu a proposta de A Magia de Aruna. Com direção de Eduardo Vaisman, famoso por suas comédias nacionais, e Rodrigo Van Der Put, responsavel pela direção dos extremamente polêmicos filmes de natal do Porta dos Fundos, o show da Disney investe muito mais em fantasia e aventura do que realmente no lado comico de seu roteiro, que é assinado por Ana Pacheco e Maíra Oliveira. A produção é aquela típica história focada no universo jovem, aproveitando aventura, magia e fantasia para explorar as relações interpessoais de seus personagens, criando amadurecimento, descobertas e um belo discurso sobre preconceito e respeito mútuo.

Jamilly Mariano, interprete da Mima, chega cheia de potencial no papel de uma garota tímida que vive com os pais adotivos e luta para se encaixar, vamos pouco a pouco enxergando como ela se sente um peixe fora d’água por conta dos poderes que possui e tanto teme, mas sua vida começa a mudar quando ela para de fugir do seu passado e começa a querer entender quem realmente é. Ao seu lado, como fiel escudeiro, está seu melhor amigo Ariel, interpretado pelo extremamente competente Caio Manhente, que infelizmente perde muito espaço em tela e acaba ficando chato, deixando a desejar para quem viu seu excelente desempenho em Detetives do Prédio AzulVai Na Fé. Mas pouco a pouco o roteiro vai deixando claro que a série provavelmente era um projeto do finado Disney Channel que acabou sendo reaproveitado para a plataforma de streaming, sem muito tempo para ganhar uma nova roupagem que fizesse o show funcionar plenamente para esse novo perfil de público, o que faz com que a série, apesar de boa, não seja tão boa quando poderia ser.

No elenco adulto, o grande foco fica em Cleo, Erika Januza, Giovanna EwbankSuzana Pires. As personagens de Cleo, Januza e Ewbank parecem se inspirar numa versão brasileira para as Irmãs Sanderson, o que acaba fazendo os papeis soarem caricatos demais em certos pontos e não se encaixar bem com os perfis das atrizes. Cleo vive a Guardiã da Linhagem das Ervas, uma bruxa que tem conexão com as plantas e é capaz de gerar grandes feiticos usando a flora nacional, reconhecer num ambiente as plantas e seguir um perfil praticamente de curandeira, exaltando a natureza e seu valor, mas isso não fortalece a personagem, que parece conveniente em certos trechos e não se destaca o suficiente em meio a trama. Januza incorpora a Guardiã da Linhagem dos Minerais, um caminho da mágia que, convenhamos, quase não tem importancia nenhuma no desenvolver da trama, o que acaba deixando a atriz muito mais aberta para criar e, por consequencia, se destacar com cenas mais leves, onde assume o papel maternal e de liderança e acaba nos cativando mais. Já Ewbank surge como a Guardiã da Linhagem das Águas, esse sim mais presente na trama e que acaba sendo o caminho mais útil no desenrolar do enredo, mesmo que a personagem não tenha muita evolução e acaba sendo deixada de fundo em maior parte do show.

Dotada de bons deabates, A Magia de Aruna explora o ludico e a magia para tratar de assuntos relevantes, mas infelizmente não consegue se aprofundar muito nesses temas em meio a tantas camadas e metáforas do enredo. Além de trazer a tona conversas sobre preconceito, expectativa dos pais nos filhos e receios da adolescencia, o longa aproveita para destacar a relação de empresas com o governo e do capitalismo e sua influência na ação da policia, o que só orna ainda mais com a ambientação do Rio mergulhado nas trevas  causada pela falta de mágica no coração das pessoas, um cenário que mostra a competencia da direção de fotografia, que usa bastante filtros azul e laranja para constrastar a escuridão que toma o ambiente mesmo nos dias ensolarados. No decorrer de seus seis episódios, que possuem cerca de trinta minutos de duração, podemos prestigiar uma produção nacional toda a família, uma história bem cara de Disney e bastante bonita, mesmo que falte melhorias em seu caratér tecnico. Por outro lado, a qualidade dos efeitos especiais e visuais conseguem impor uma credibilidade quando o assunto é magia, criando um mundo bem lúdico e distopico, onde o contraste da realidade com a personalidade da protagonista fortalece o show e facilita a conexão com o público, já que tudo acaba parecendo uma metafora para os problemas e dilemas do mundo real.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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