Review | American Crime Story [S2: The Assassination of Gianni Versace]

Nota
4

“Depois de mim, a destruição”

Andrew Cunanan (Darren Criss) sempre teve uma certeza na vida: ele era especial. O belo jovem, com um Q.I. altíssimo e repleto de uma boa lábia sabia conquistar e moldar a verdade a seu bem prazer, fazendo o mundo se curvar aos seus desejos e encantos. Cercado pelas mentiras incuráveis que o mesmo criou, Andrew se vê cada vez mais envolvido em seu mundo conflituoso e começa a perceber que por mais grandiosas que possam parecer as coisas em sua cabeça ele sempre acaba sozinho.

Em 15 de Julho de 1997, o rapaz encontra sua maior obsessão e comete o assassinato de um dos mais famosos estilistas da época: Gianni Versace (Édgar Ramírez), completando assim seu quinto assassinato e se tornando um dos criminosos mais procurados dos Estados Unidos. Mas o que teria motivado a serie de acontecimentos brutais que se sucederam? Como um jovem genial poderia ter ser tornado um monstro frio e sem escrúpulos? Será que Gianni e Andrew se conheciam? O crime poderia ter sido impedido? E, do que você seria capaz para se tornar memorável?

Baseado na obra Vulgar Favors de Maureen Orth, American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace tenta recriar um estudo completo e ligar alguns pontos de uma das emblemáticas caçadas policiais da história americana. Embora tenha o nome do famoso estilista em destaque, a família Versace aparece como coadjuvante de um poderoso e emblemático estudo psicológico do serial killer charmoso e inteligente interpretado magnificamente por Darren Criss.

A segunda temporada criada por Ryan Murphy procura seguir um caminho totalmente contrário de sua aclamada primeira temporada. Dessa vez, somos jogados logo de cara ao momento do crime que da nome a série e fazemos um retrospecto assíduo ao passado de seus personagens e as motivações e história de Andrew Cunanan. Com uma ampla variação em tons de verde, amarelo e rosa, somos mergulhados nos anos 90 e conhecemos a luxuosa vida de alguns dos maiores nomes da época, assim como a podridão que pode se apresentar entre as paredes luxuosas e encantadoras das formosas praias de Miami.

A serie apresenta dois temas centrais; a primeiro na homofobia velada na paisagem americana (trazendo bem a tona que algo ligado à homossexuais só se torna importante quando atinge uma celebridade querida, e como isso pode ser facilmente esquecido ou cegado se você não for tão importante assim) e a segunda no questionamento de o quanto alguém esta disposto a ir para se tornar especial e memorável.

Com uma fotografia luxuosa, acompanhamos a jornada e os paralelos que habilmente são criadas entre os dois pilares. Gianni sempre foi um sonhador e amante da vida. E, embora ele tenha passado por crises pesadas durante seus últimos anos, devido a uma doença, sempre foi amado e querido por aqueles que o cercavam. Já Andrew, por mais encantador e inteligente que possa ter sido, sempre se encontrou preso em suas mentiras cada vez mais mirabolantes e não conseguia despertar mais do que pena nas pessoas que trazia para sua vida.

Vamos analisando a jornada de ambos e criando uma imagem clara ate os mundos colidirem. Gianni representa tudo o que Andrew um dia sonhou em ser. É talentoso, carismático e extremamente amado. Um ídolo para o rapaz que se afunda ainda mais em sua mente doentia e cruel. Darren constrói um personagem impecável que arrepia o telespectador a cada cena. O ator brilha de uma maneira magnética, atraindo o olhar mesmo quando esta em segundo plano e trazendo a tona uma de suas melhores performances. Quanto mais vemos do passado abusivo e podre do personagem mais queremos saber, nos envolvendo e revoltando em graus tão similares que são quase hipnóticos.

Outra que rouba perfeitamente a cena é Penélope Cruz no papel da incomparável Donatella Versace. A atriz traz toda a força e frieza que amamos conhecer na estilista e, mesmo assim, consegue trazer uma fraqueza tão palpável e uma tristeza tão profunda no olhar que encanta e emociona o telespectador nas horas precisas. O mesmo não podemos falar de Ricky Martin, que interpreta Antonio D’Amico, o interesse amoroso de Gianni. Chega a ser vergonhoso ver a atuação de Martin na mesma cena com Penélope. Parece que o artista não captou a essência do seu personagem e só consegue um pouco de brilho na reta final da temporada.

Judith Light entrega uma esposa revoltada e cheia do descaso da polícia com o assassinato do seu marido. Interpretando a viúva Marilyn Miglin, a atriz da um show ao levantar questionamentos precisos e afiados. O descaso da polícia, que já tinha o nome e a imagem do assassino meses antes da nova tragédia acontecer, e sua total falta incompetência em procurar alguém que aparentemente nem estava tentando se esconder tão bem é um tapa na cara.

Seria mesmo preciso esperar uma tragédia dessa magnitude para Cunanan ser detido? Alguns vidas valem mais do que outras? Outro show de atuação fica por conta do jovem Cody Fern que interpreta um ex interesse amoroso de Andrew e se vê preso em uma espiral de decadência e irracionalidade, nos trazendo uma obra prima em formato de episodio e arrancando lágrimas e uma comoção sem igual do telespectador.

Exuberante e com uma montagem espetacular, American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace cria um quebra cabeças esplendoroso sobre uma mente doentia e suas motivações, criando questionamentos precisos e repletos de uma sombria decadência onde a empatia e o estudo da mente humana são tão complexos quanto belos além de devastadores e de tirar o folego numa sociedade que parece esquecer o que ser humano realmente significa…

“E se… você sonhasse a vida toda em ser alguém especial… mas ninguém acreditasse. Não de verdade. Eles pareceriam para você é diriam: “Claro, claro.” E depois, e se a primeira pessoa… que realmente acreditasse em você… fosse a pessoa mais incrível que você já conheceu?”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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