Nota
“A bela é carioca mas é da cor do Brasil”
O Rio de Janeiro é famoso pelas suas belezas, mas também pelas suas mulheres, e foi justamente pensando nisso que, em 1967, Sérgio Porto publicou As Cariocas, sua coletânea de seis crônicas abordando diferentes enredos que só se conectam por uma coisa: todas se passam em um bairro carioca e são protagonizados por uma linda heroína carioca. Baseado nesse livro, Euclydes Marinho e Daniel Filho criaram, para a Globo, uma minissérie de dez episódios seguindo a proposta de Porto, exaltar as cariocas. Usando quatro das seis crônicas originais, que passaram por adaptações e atualizações, e se complementando com seis contos originais, a produção foi escrita por Adriana Falcão, Clarice Falcão, Cláudia Tajes, Gregório Duvivier e Marcelo Saback, contando com redação final de Euclydes Marinho e a direção de Daniel Filho, Cris D’Amato e Amora Mautner.
Iniciando a temporada, temos A Noiva do Catete, episódio protagonizado por Alinne Moraes e contemporaneizado do livro de Porto. O episódio conta a história de Nadia, uma mulher independente que adora fazer os homens felizes, ela é noiva de Carlinhos (Ângelo Antônio), mas desde que ele ficou paraplégico em um assalto, onde defendeu ela, ela sente uma dívida moral gigantesca que a impede de largar ele, mas essa divida não é grande o suficiente para impedi-la de conhecer, as escondidas, outros caras e satisfazer seu desejo sexual. Logo vamos para A Vingativa do Méier, uma texto original protagonizado por Adriana Esteves. Dessa vez somos apresentados a Celi, que está casada com Djalma (Aílton Graça) há cinco anos, mas sente a ausência de seu marido na cama, o que a faz suspeitar que está sendo traída, mas quando ela descobre algo sobre o marido, ela decide mostrar que vingança é um prato que se deve comer bastante quente. A temporada prossegue com A Atormentada da Tijuca, episódio protagonizado por Paolla Oliveira que é livremente inspirado em A Desquitada da Tijuca de Porto. Dessa vez com Clarissa como protagonista, uma mulher que acabou de se separar de um marido abusivo, e se tornou alvo de assedio em todos os ambientes que frequenta, até que Gilberto (Gabriel Braga Nunes), seu melhor amigo de infância, resolve ajudar a moça a acabar com as investidas de um jeito bastante criativo.
O episódio A Invejosa de Ipanema, protagonizado por Fernanda Torres, é mais um dos adaptados de Porto, sendo livremente inspirado em A Grã-Fina de Copacabana. Nele, Cris, uma alpinista social apaixonada pelos luxos que ganha do marido, Gustavo (Luis Gustavo), e do amante, Luiz Felipe (Guilherme Fontes), acaba se metendo em uma gigantesca roubada quando decide que quer uma Ferrari exclusiva. Partimos então para A Internauta da Mangueira, episódio protagonizado por Cintia Rosa e com mais uma história original. Nele acompanhamos Gleicy, que é casada há dois anos com Armando (Du Moscovis), mas enquanto o marido está na rua, ela se transforma na Mulher Aranha e deixa os homens loucos pela internet. O sexto episódio é A Adúltera da Urca, onde conhecemos Júlia (Sônia Braga), uma mulher muito bem casada com Cacá (Antônio Fagundes), mas que começa a ser atormentada por um admirador secreto que passa a liga para o seu trabalho e lhe perseguir. Este episódio original se torna ainda mais especial quando consideramos que ele é praticamente um sucessor espiritual das novelas globais, já que Braga e Fagundes interpretam Júlia e Cacá, inspirados no casal vivido pela dupla em Dancin’ Days, e Duarte entra na pele de Malu, personagem inspirada na protagonista que ela interpretou em Malu Mulher.
O sétimo episódio é A Desinibida do Grajaú, com roteiro inspirado no conto de Porto e protagonizado por Grazi Massafera. A trama é focada em Michele, que cresceu desejando a fama e a riqueza, até o dia que ganhou um concurso de Miss e tomou gosto pelas frescuras da Zona Sul, mas um dia a riqueza acaba e ela precisa voltar para o bairro de origem, descendo do salto alto adquirido pela curta fama. Logo vamos para A Iludida de Copacabana, episódio protagonizado por Alessandra Negrini e que, junto com a season finale, alcançou a maior audiência da minissérie. Nele, Marta está sempre mostrando que é muito bem casada com um tremendo bonitão, Silvinho (Thiago Lacerda), mas na intimidade, está insatisfeita com o casamento, principalmente por que acha que seu marido está interessado em Suelen (Roberta Rodrigues), a babá da filha do casal, mas toda a frustração começa a ficar para trás depois que Marta conhece Eduardo (Eriberto Leão), o melhor amigo do marido. A Suicida da Lapa traz uma bem humorada história protagonizada por Deborah Secco, onde, em meio à festa de natal da Imobiliaria Castorina, Roberto (Cássio Gabus Mendes), o marido de Dona Castorina, conhece Alice, a esposa de um dos funcionários, o que o faz desistir de se suicidar e se entregar a uma paixão intensa, em meio a encontros nos eventos festivos da empresa. A minissérie se finaliza com A Traída da Barra, episódio protagonizado por Angélica. Ao chegar em casa de surpresa, Maria Teresa flagra seu marido, Cícero (Luciano Huck), na cama com sua melhor amiga, Suzana, o que a faz sair pelo Rio procurando transar com o primeiro homem que encontrar, uma situação que gera situações engraçadíssimas.
Misturando comédia e drama na médida certa, As Cariocas entrega bastante apelo sexual e sofisticação a cada capitulo, mostrando toda a sedução que as mulheres do Rio de Janeiro transbordam. Sua trama antológica permite passar superficialmente em histórias mais livres e compactas, talvez por isso seja tão rápido de capturar a atenção do público, principalmente pelas referências através dos bastidores e a construção objetiva dos personagens. Com seus dez episódios de cerca de 25 minutos, a produção lembra os moldes de A Vida como Ela É…, quadro comandado por Euclydes Marinho e Daniel Filho, exibido dentro do Fantástico durante o ano de 1996 e que era baseado nos contos de Nelson Rodrigues. Com suas histórias divertidas, a série era um agradável entretenimento no fim das noites de terça de 2010, provando todo o controle e criatividade que Daniel Filho possui, mesmo após onze anos longe das produções televisivas. Apesar disso, a série não envelheceu tão bem, hoje em dia sendo mais possivel enxergar o machismo presente na obra, mas ainda assim possuindo um modelo que merecia ganhar novos capitulos, visto que mesmo em meio ao sexismo é possivel ver um pouco de empoderamento.
“Se mulher fosse fácil, o Diabo não tinha chifres.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.