Nota
“Mistura reality, humor, novela… O Big Brother brasileiro não tem comparação com nenhum formato, no mundo inteiro”
Em 29 de Janeiro de 2002 estreava na Rede Globo um programa novo no Brasil, baseado no modelo de reality neerlandes criado em 1999 por John de Mol, nascia o Big Brother Brasil. Originalmente apresentado por Pedro Bial e Marisa Orth, o programa evoluiu através das suas 24 edições, mudando de apresentadores através do tempo e consagrando ainda mais a carreira de seu diretor, José Bonifácio, mais conhecido como Boninho. É praticamente impossivel não perceber, depois de vinte e três anos de exibição, há diferenças claras entre as edições 1 e 24, assim como é possivel enxergar claras diferenças na forma como os participantes (sejam eles anônimos ou famosos quando chegam ao programa) se comportam, um programa que evoluiu junto com a tecnologia, junto com a mudança do público e, principalmente, junto com o amadurecimento (ou não) da internet.
Em comemoração às Bodas de Prata do Big Brother Brasil, que faz alusão às 25 temporadas do programa em paralelo com os 60 anos da TV Globo, foi produzida uma série de especiais, um deles é a série documental dirigida por Bruno Della Latta, BBB: O Documentário. A proposta inicial da série seria mostrar os bastidores do Big Brother Brasil e entrevistar os vencedores, criando uma série exclusiva Globoplay, mas a produção acabou superando os planos e se tornando um especial em quatro episódios para a TV Globo, sendo exibido entre os dias 7 e 10 de janeiro de 2025 como “esquenta” para a estreia da vigésima quinta temporada do reality. Com uma estrutura que divide seus episódios em pilares temáticos, a produção atravessa uma estrada que começa pelo efeito da fama, passa pelos conflitos internos e a seleção prévia, até chegar ao debate do que faz um campeão. Uma jornada que é feita sem medo de colocar o dedo na ferida de várias questões sociais e polêmicas que o programa trouxe a tona, como é o caso da expulsão de Ana Paula Renault no BBB16 por agressão, do relacionamento abusivo (e agressivo) que envolveu Emily Araújo e Marcos Härter no BBB17, ou até grandes dialogos de representatividade, como o fato de as primeiras edições contar com poucos participantes negros (geralmente um por edição) e do grande marco do BBB11, que trouxe Ariadna Arantes, a primeira mulher transexual a participar do reality.
Mas claro que falar sobre o passado do BBB não insenta os bastidores do documentário de possuir suas próprias controversias, sendo as mais marcantes o fato de Marcos Härter ter se recusado a participar para dar sua versão das acusações que o expulsaram do BBB17 e a questão de Ariadna, que voltou ao Brasil exclusivamente para as gravações, assumindo as custas de mais de 24 mil reais, e terminou sendo informada que sua entrevista não seria inclusa no documentário, o que a fez desabafar nas redes sociais, levando a uma comoção que fez com que essa exclusão fosse revertida. Além disso, a produção parece destoar completamente de outras séries documentais recentes da Globo, como Pra Sempre Paquitas, que revisitam a história da emissora e finalizam de forma apoteotica. Della Latta, e talvez Rodrigo Dourado, parecem ter medo de revirar de verdade os fundos mais obscuros da história do BBB, chegando a omitir a disputa história do BBB contra a Casa dos Artistas, ou de citar personagem icônicos em um nível problemático para os dias atuais, escolhendo trazer alguns ex-participantes esquecíveis para preencher uma cota, trazendo uma pesquisa de acervo tímida e não sabendo verdadeiramente envolver o público na nostalgia, o que só deixa mais evidente que o documentário seguiu o caminho seguro de expor apenas o que todo mundo já sabe.
Não se pode negar que a produção acabou enriquecendo o conteúdo do programa ao reunir tantos ex-BBBs para prestarem depoimentos, o que acabou dando à produção muito espaço para trazer reflexões de participantes das primeiras edições, mostrando a experiência antes, durante e após o programa, como a vida mudou por consequência do programa, principalmente por, após tantos anos, terem sumido dos holofotes das redes sociais. Mas, em contraponto, há pessoas que faltaram no produto que trariam verdadeiramente o que o documentário precisava: abordar sobre momentos que o programa permitiu que o fairplay fosse violado (indo muito além da simples menção de Leidy ao episódio das roupas na piscina ou da conversa superficial envolvendo Lucas Penteado), mencionar sobre a vida pós-BBB de tantos participantes que não foram tão bem sucedidos (ao invés de jogar para baixo do tapete) ou sobre as atitudes machistas, homofobicas e praticamente criminosas que macularam a história do programa, e que mereciam ser trazidas de volta à luz para ganhar um desfecho muito além do discurso de redenção de Marcelo Dourado sobre seus embates com Dicesar, embate que até hoje é apontado como homofóbico. Controverso e aquém do esperado, BBB: O Documentário funciona como aquecimento para o BBB25, mas não como um documentário independente, já que a produção erra justamente por evitar os fatores que levaram outros documentários do Globoplay a se tornarem sucesso absoluto.
“Quando o espectador identifica alguém sendo vitimizado, é meio caminho andado para ele ganhar. Clássico enredo que se repetiu algumas vezes”
Icaro Augusto
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Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.