Nota
Um mundo onde a tecnologia é o grande antagonista, isso é Black Mirror. A série britânica antológica de ficção científica, criada por Charlie Brooker, com tramas obscuras e satíricas sobrevoando a sociedade moderna e expõe as consequências imprevistas das novas tecnologias.
O quinto ano da série chega na Netflix no dia 5 de Junho de 2019 com apenas 3 episódios de cerca de 1 hora, e não possuem trama suficiente para mostrar toda aquela magia e reflexão que conquistou todos nas temporadas passadas.
A temporada se inicia com o quase contemporâneo Striking Vipers, que é estrelado por Anthony Mackie e Yahya Abdul-Mateen II e tem participação de Pom Klementieff. Neste episódio, a produção fala sobre jogos do passado e a chegada do VR. Temos a história de Karl e Danny, dois colegas de quarto da faculdade que eram viciados por Striking Vipers, um jogo de luta que lembra muito Street Fighters e Mortal Kombat; eles têm, inclusive, seus personagens preferidos: Roxxete e Lance.
Mas com o tempo as coisas mudam e, 11 anos depois, eles se reencontram e resolvem experimentar Striking Vipers X, um upgrade do jogo criado pela TCKR que permite imergir completamente no jogo e assumir o corpo de seu personagem. O problema é justamente as consequências dessa imersão para os dois jogadores. Um episódio intrigante, morno e, para o orgulho brazuca, com cenas gravadas em São Paulo.
Em seguida, somos jogados em Smithereens, que se passa na Londres de 2018 e nos joga numa poderosa dúvida. Temos Christopher, um motorista de aplicativo que tem planos contra a Smithereens, uma magnata das redes sociais, ou melhor, contra Billy Bauer, o presidente da empresa. E tudo culmina no dia que ele sequestra um dos estagiários da empresa, ameaçando matá-lo se não puder falar ao telefone com Bauer.
O episódio protagonizado por Andrew Scott e Topher Grace é misterioso, ele nos envolve o tempo todo sem citar qual tecnologia está sendo criticada. Vemos um motorista de Uber correndo atrás de um homem que parece uma fusão de Mark Zuckerberg (do Facebook) e Jack Dorsey (do Twitter). Uma trama contemporânea e factível para os dias atuais que não apela para a ficção científica, mas que se perde nos clichês e na fatigável banalidade da trama.
Para finalizar a temporada, temos Rachel, Jack and Ashley Too com uma trama que crítica a indústria musical, sendo inteiramente voltada em dois núcleos: de um lado temos a deprimida cantora Ashley O (Miley Cyrus) e do outro a jovem de baixa autoestima Rachel Goggins (Angourie Rice) e sua rebelde irmã Jack (Madison Davenport). Com certeza é o episódio mais interessante da temporada, onde vemos claramente toda a carga adaptativa da relação da Miley com a Disney, empresa que vem sendo representada pela tia de Ashley.
Catherine obriga Ashley a seguir regras, a ser fofa, ser family frindly, só cantar pop, mas acabamos vendo aos poucos toda a transformação acontecer. Vemos a fase Can’t be Tamed surgir de uma forma tão natural que parece que estamos vendo um roteiro escrito pela própria cantora. Uma pena um roteiro tão forte perder toda a sua seriedade num terceiro ato que se tornou destoante por ser excessivamente cômico.
Black Mirror sempre foi uma série que trazia novas idéias de tecnologia e abordagens chocantes sobre o destino da humanidade, frente ao uso extremo dessas inovações, mas – prestem atenção no “foi” – a quinta temporada da série foi a mais decepcionante da leva.
O primeiro grande erro do novo ano foi reciclar tecnologias de forma escrachada. Em Striking Vipers, vimos um VR que parece ser uma versão primitiva da tecnologia de San Junípero (3×04), já a tecnologia usada em Rachel, Jack and Ashley Too é a mesma do cookie que aparece em White Christmas (2×04). O segundo grande erro da temporada é a falta de impacto, a série investiu em episódios cansativos demais que não causam reflexão nenhuma, o que nos faz achar que não estamos vendo o Black Mirror que costumávamos conhecer. Vemos que o tema da temporada foi a imersão na tecnologia, mas, apesar de passar a mensagem, a série não consegue passar a lição com a força que sempre teve.
No fim, a constatação é uma só, temos boas ideias, um elenco perfeito, uma execução magistral, uma construção excelente, mas faltou o principal: faltou aquele toque Black Mirror, faltou aquela reflexão profunda, faltou uma trama mais bem construída. Temos duas perguntas: será que teremos uma nova temporada? E se tiver, será que podemos ter a experiência de ver Black Mirror voltar a ser Black Mirror?
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.