Review | Cidade Invisível [Season 1]

Nota
4.5

“O que tá acontecendo aqui… É sinal de uma coisa ruim.”

Numa noite de São João na Vila ToréGabriela Alves adentra a floresta atrás de sua filha, Luna, após um incêndio florestal começar, o que leva a morte da mulher de uma forma bastante misteriosa. Um mês depois, Eric Alves, um policial ambiental e marido de Gabriela, precisa voltar ao trabalho ainda tomado pelo luto quando, de uma forma inesperada, acaba se metendo em um caso de um boto encontrado morto, um animal que, para a sua surpresa, acaba se transformando em homem na frente dos seus olhos, um homem que trás um olho esbranquiçado, assim como Gabriela quando foi encontrada morta, o que coloca Eric numa insana investigação de assassinato que o arrasta para um mundo invisível aos olhos da população comum, um mundo habitado por entidades míticas que figuram no Folclore Brasileiro.

Criado por Carlos Saldanha, que já é famoso no mundo infantil por suas poderosas contribuições com as franquias A Era do Gelo e Rio, a série parece uma enorme transformação na carreira do cineasta, indo fundo na cultura de seu país ao mesmo tempo que traz toda a qualidade que aprendeu na sua carreira internacional, e tudo fica ainda mais completo por conta do roteiro de Raphael Draccon e Carolina Munhóz, dois monstros brasileiros da literatura fantástica que já mostraram seu poder roteiristico com O Escolhido, e que agora têm a chance de ir fundo naquilo que eles mais dominam (a fantasia) junto ao que tanto amam (a mitologia brasileira). Lançado em 5 de fevereiro de 2021 pela Netflix, a série com sete episódios, de cerca de 40 minutos, rapidamente alcançou o primeiro lugar no top10 dos mais assistidos no Brasil e começou a marcar presença na lista de muitos usuários mundo a fora, criando praticamente uma versão tupiniquim de Deuses Americanos ao colocar as entidades do folclore vivendo lado a lado com os humanos comuns e nos presenteando com uma história bem amarrada, que nos traz até algumas histórias de origem envolventes.

Claro que o sucesso da trama também teve grande contribuição de seu elenco. O show é comandado por Marco Pigossi, que no papel de Eric parece trazer toda a força que vimos em Dylan (Tidelands) unido a toda a incredulidade que seria comum a um policial, ele tem uma força que nos envolve cada vez mais a trama, lembrando muito da personalidade de seu papel sucesso ao lado das sereias de Orphelin Bay. Roubando a cena majestosamente está Alessandra Negrini, que nos apresenta uma Inês poderosa, segura de si, autoritária, exalando magia e nos fazendo nos apaixonar com sua versão da Cuca, uma entidade famosa e cheia de potencial que, nas mãos de Negrini, parece superar as expectativas.

O panteão tupiniquim se completa ainda com o cativante Victor Sparapane, que apesar de ter pouquíssimo tempo de tela como Manaus soube usar cada segundo do seu Boto-Cor-de-Rosa para marcar sua presença; a sedutora Jessica Córes, que fez de Camila outra força imbatível na trama, apesar de não ter muita evolução, mas que soube conquistar o público com sua Iara doce e guerreira; o serelepe Wesley Guimarães, que surge com um Isac que parece ser mais como um agente independente do grupo das entidades, deixando clara sua impulsividade por fazer travessuras e transbordando aquela aura infantil que todos esperávamos ver no Saci; e o bruto Jimmy London, que foi capaz de marcar sua presença facilmente em tela como Tutu, o guarda-roupas particular de Inês, sua força bruta quando o assunto é assustar mais do que enfeitiçar, e que conseguiu facilmente levar todos a buscar conhecer mais a fundo o Tutu Marambá, uma entidade do nosso folclore que ainda é pouco difundida, mas que tem um grande potencial depois dessa série.

A série ainda vai além com tantos outros personagens fortes, como a forte presença do Curupira e do Corpo Seco, mas não tem como não comentar duas outras atrizes que roubaram a cena em cada uma das suas aparições: Julia Konrad Manu Dieguez. Konrad vive Gabriela, morrendo no primeiro episódio, mas ela passa a série inteira aparecendo como uma ilusão para Eric e em suas lembranças, tendo inclusive um papel poderoso no episodio final, mas mesmo não sendo uma presença fixa, a atriz consegue dizer a que veio, ela dá a humanidade que Eric precisa, surge como sua força motriz na investigação e, principalmente, surge como um dos maiores alvos das teorias dos fãs. Dieguez interpreta a jovem Luna, que tinha tudo para ser só um plano de fundo da série, mas a personagem tem um grande papel na evolução de Eric e a atriz agarra com todas as forças a sua importância, trazendo uma personagem cheia de camadas, que não entrega o jogo em momento nenhum, deixando sua importância escondida até o momento certo, o que faz a série evoluir vagarosamente ao mesmo tempo que nos prende a cada segundo de desenrolar.

Fundindo a fantasia da mitologia brasileira com a adrenalina do suspense policial, Cidade Invisível consegue nos prender ao seu enredo de uma forma violenta desde antes de vermos o Boto da caminhonete se transformar no corpo de Manaus, garantindo rapidamente o seu sucesso merecido e deixando aquele gostinho de quero mais no final que deixará o mundo inteiro mobilizado a espera de uma segunda temporada, pois, como disse Saldanha, “Entidades do folclore é o que não falta, são mais de 300. […] Tem muita história para contar!”.

“Nana neném, que a Cuca vem pegar.
Papai foi à roça, mamãe foi trabalhar.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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