Review | Coisa Mais Linda

Nota
4

Depois de 3%, é a vez de Coisa Mais Linda, nova série brasileira da Netflix, surgir. A série mostra um Rio de Janeiro bastante conservador, o surgimento da Bossa Nova e a força de mulheres que buscavam o status de serem donas de si, mesmo que estejam diante de uma sociedade machista e opressora.

No drama original Netflix, conhecemos a Maria Luiza (Maria Casadevall), uma mulher submissa que tem um pai extremamente machista e um marido que sonha em abrir um restaurante no Rio de Janeiro, na cidade maravilhosa. Porém, ela não gosta dessa vida. Malu, como também é chamada, é uma moça à frente do seu tempo. Indo ao Rio para encontrar seu marido, ela percebe que foi abandonada, mas voltar para casa e ouvir as reclamações do pai não seria uma opção. Ela resolveu abrir um clube de Bossa Nova numa época em que lugar de mulher era em casa, cuidando do(s) filho(s) e estando sempre disponível para seu marido. É através de toda essa coragem de Malu e a crescente vontade de ser independente que conhecemos as amizades liberais e feministas da protagonista: a Adélia (Pathy Dejesus), a Lígia (Fernanda Vasconcellos) e a Thereza (Mel Lisboa). Em meio a essa relação, conhecemos um pouco da vida de cada uma e vemos os obstáculos enfrentados por mulheres numa época em que elas eram vista apenas como sombra de um homem.

A Netflix fez um excelente trabalho ao trazer um drama de época, mas com assuntos bastante atuais, mostrando-nos alguns fatos importantes, como, por exemplo, a importância da igualdade de gênero, do empoderamento feminino, o preconceito racial, o abuso sexual e mental. Além disso, a produção consegue mostrar uma evolução se compararmos a sociedade brasileira da época apresentada com a dos dias atuais, mas, é claro, também é uma forma de percebemos que precisa evoluir muito mais, mesmo com todos os avanços.

Descrever as 4 protagonistas dessa série tiraria a surpresa do telespectador em relação a construção delas. Apesar de ser 4 moças com personalidades bem distintas, vemos um fato em comum em relação a todas: o preconceito vivido diariamente. O mais bonito durante a série é perceber que uma serve de apoio para os problemas da outra, a sororidade está presente em vários capítulos. Aqui, não há rivalidade feminina, não há uma mulher melhor que outra. Todas estão no mesmo barco, vivendo numa sociedade que oprime. A Tereza, mesmo sendo a mais liberal, sofre com o trabalho machista e um chefe que sempre a trata como uma pessoa incompetente, mesmo quando ela faz a coisa certa. A Lígia tem um relacionamento bastante abusivo, a Adélia tem fantasmas do passado assombrando-a e, por fim, a Malu, que foi enganada e abandonada por seu marido.

A música presente na produção nacional também é um fator importante na sua construção. Isso porque a série, além de falar da vida de mulheres que viviam à frente do seu tempo, traz um recorte histórico também: o surgimento da Bossa Nova, um movimento que tomou grandes proporções tornando-se um dos gêneros musicais brasileiros mais famosos do mundo. E a cereja do bolo é, sem dúvidas, a fotografia da série, que traz cores quentes em tons alaranjados, para colorir o Rio de Janeiro.

Apesar de tantos acertos, os últimos episódios são um pouco corridos, o que pode prejudicar no ritmo da série. E o último capítulo choca o espectador de uma forma bastante, digamos, desnecessária. No fim, a produção não é finalizada com a excelência com que se inicia. E deixa alguns arcos abertos para serem resolvidos numa próxima temporada. Apesar de achar que poderia ser finalizada numa única temporada, vamos aguardar o próximo ano – se houver; afinal, Coisa mais Linda é uma série cheia de assuntos importantes que precisam ser discutidos, principalmente nos dias atuais.

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *