Review | Coletivo Terror [Season 1]

Nota
3

Num ônibus obscuro, está um conjunto de pessoas marcadas pela morte, ou melhor, um conjunto de histórias banhadas a sangue, e é durante essa viagem aterrorizante que vamos conhecendo cada uma delas. Do surreal ao assustador, do psicológico ao carnal, do insano ao cotidiano, cada uma dessas histórias tem um fundo aterrador, que mesmo quando é temperada com um pouco de bom humor, nos surpreende com um final inesperado que nos deixa boquiabertos com a forma que cada enredo se desenrola.

Lançada pela Netflix em 13 de Março de 2020 (uma sexta-feira 13), a série norueguesa criada por Kjetil Indregard e Atle Knudsen é uma antologia que mistura terror, suspense e um pouco de comédia, trazendo em seus seis episódios, de cerca de 30 minutos, seis histórias que envolvem, cada uma, um grupo de passageiros do ônibus macabro, um transporte que parece uma versão moderna da Barca de Caronte, levando seus passageiros para o submundo ou para um destino ainda não revelado. A analogia do ônibus está sempre presente na série, surgindo sempre no começo de cada episódio e nos mostrando o motorista dando uma olhadela nos passageiros da lotação, seguido de uma visão geral da comitiva que parece ser preenchida por almas penadas, e de enfoques nos elementos que fazem referencia à trama do episódio em questão, finalizando sempre com um foco no protagonista da história que virá a seguir e fazendo uma rápida indicatória da origem do mal que protagonizará o tal episodio.

Logo de cara somos apresentados a “Um Grande Sacrifício”, com seu roteiro que parece ser vagamente inspirado em Cemitério Maldito, de King, mostrando uma trama que se inicia com uma mudança de uma família, que após acumular dividas precisam sair da cidade e se abrigar numa casa dentro de uma vila no interior, uma vila que possui muitos mistérios e habitantes muito estranhos, mas que, acima de tudo, possui um segredo gigantesco envolvendo animais de estimação, uma trama que deixa qualquer um perplexo e, como cereja do bolo, possui um dos maiores plot twists da temporada. Logo em seguida temos “Três Irmãos Loucos”, que apesar de ter uma trama um pouco previsível, não deixa de ter sua graça e seus lampejos de surpresa, principalmente quando vamos mais a fundo na trama dos três irmãos que, após um deles ter alta após três anos em um hospício, resolvem voltar as suas raízes e visitar a casa onde o pai deles morreu, ou melhor, a casa onde Erik matou o pai e acabou sendo internado, um episódio que logo nos questiona se realmente a realidade é como ela se apresenta?

O mais surreal dos episódios é o seu terceiro, “Escritor do Mal”, que começa de uma forma extremamente forçada e fantasiosa ao nos mostrar a vida perfeita de Olivia, uma aspirante a escritora que logo se vê presa numa caçada absurda, onde seu namorado e suas colegas de quarto se revoltam e resolvem mata-la, e tudo foge ainda mais do controle quando ela descobre que todos os altos e baixos da sua vida estão sendo influenciadas por um recluso autor amador, que em seu notebook escreve desastres que se concretizam em sua vida, mas tudo fica ainda mais complexo quando toda a trama é descascada na nossa cara e a mistura de raiva e insanidade surgem para movimentar toda a trama. Em seguida vamos para “Cobaias”, um verdadeiro jogo de pressão psicológica onde vemos cinco pessoas serem levadas ao extremo quando um protótipo médico da AlphaVita desaparece após uma reunião privada, num momento de extremo desespero, Edmund, o presidente da empresa, prende o quinteto num laboratório onde o medo, as intrigas e a culpa serão capazes de transformar cada um dos suspeitos na pior versão deles mesmos, e colocar todas os ressentimentos para fora, num intenso jogo de gato e rato para encontrar o ladrão do valioso artefato.

Perto do final somos apresentado a “A Escola Antiga”, que se desenrola ao redor da reabertura da escola antiga, uma escola numa cidade interiorana que estava fechada a mais de 40 anos e agora reabre, mas quando Sanna, a mulher que foi contratada para ser a professora de lá, percebe uma aura estranha no local, as coisas começam a sair do controle, fazendo a mulher ouvir barulhos estranhos, ver pessoas esquisitas e, principalmente, ter experiencias sobrenaturais, o que a faz a mulher ser arrastada por um pedido de ajuda, ela precisa descobrir o que aconteceu com as quatro crianças desaparecidas a anos naquela escola, os quatro Stolen que desapareceram do nada após sua mãe aparecer morta, o que leva Sanna a uma trama cheia de mistérios, fantasmas, perigos e bruxarias. Por fim temos “O Elefante na Sala”, mostrando uma festa a fantasia de uma empresa, onde cada personagem deve ir fantasiado de um animal, nela conhecemos Paul e Kristin, os dois funcionários novatos que foram escolhidos para ir de ratinhos, que começam a se questionar sobre a morte de Martha, uma mulher que apareceu morta dentro da empresa depois de um conflito com Helene (a Lebre) e William (o Elefante), desenterrando diversos rumores que circundam a empresa e colocando os novatos numa perigosa investigação que pode leva-los à revelação de um segredo sangrento, capaz de colocar várias pessoas em risco de vida.

O show nos surpreende com seus elementos de terror bem construídos e que funcionam de uma forma bem interessante, quase não usando de jumpscares, o que nos leva a ficar presos às suas cenas, mesmo que algumas sejam um pouco clichês, principalmente após sua marcante abertura, que apresenta todos os elementos necessários para criar um clima assustador. Composto por seis contos que variam entre altos e baixos, temos alguns episódios que entregam um bom suspense, apesar de alguns outros não trazer a intensidade necessária para superar o clichê, as vezes até tendo tempo aquém o necessário, finalizando com aquele gostinho de carência de informações. No fim de tudo, fica claro que “Um Grande Sacrifício” é, sem sombra de dúvidas, portador do melhor enredo do conjunto, o que nos faz querer entender como os mesmos produtores foram capazes de criar “O Elefante na Sala”, com a trama mais decepcionante do show, tão previsível e tediosa. Agora resta apenas a esperança de que, caso venha uma segunda temporada, tenhamos roteiros bem mais trabalhados e um elenco bem mais dedicado, que nos proporcione muito mais Grandes Sacrifícios e muito menos Elefantes na sala.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *