Review | Elite [Season 5]

Nota
3

“- Tem certeza? […] Do seu depoimento.
– Claro que eu tenho. Eu que matei.”

Um novo ano letivo se inicia em Las Encinas, as feridas deixadas pelo ano anterior ainda ardem nos envolvidos, mas as decisões de Benjamín para combater essas consequências acabam agitando ainda mais o ambiente escolar. Ao mesmo tempo que o diretor decreta proibições de atraso, uso de redes sociais nos computadores do colégio, uso de celulares dentro da escola, de reuniões de mais de três alunos nos corredores e de contatos físicos entre alunos, a policia começa a investigar o desaparecimento de Armando de la Ossa e descobre o que o homem fez a Mencía e Ari, o que coloca uma mira em Benjamin, PatrickSamuel. Em meio a tudo isso, Phillipe está sofrendo represália dos alunos após Elodie, sua ex-namorada, o acusar de estupro, revelando os motivos de ele ter sido enviado para estudar em Las Encinas no ano anterior,  e temos a chegada de dois novos estudantes: Isadora Artiñán, uma influencer e DJ argentina conhecida como Imperatriz de Ibiza que acaba se aproximando de Phillipe, e Iván Carvalho, o filho brasileiro de um jogador de futebol português e que rapidamente desperta o interesse de Patrick, assim como ele acaba despertando o interesse do pai de Iván.

A quarta temporada de Elite foi marcada por uma pequena queda na qualidade entregue pelo roteiro da produção criada por Carlos Montero e Darío Madrona, mas o quinto ano parece ter chegado, em 8 de abril de 2022, para nos provar que tudo ainda pode piorar. Apresentando quatro novos personagens, a série acaba não sabendo repetir o feito do ano anterior e tornar todos eles igualmente relevantes e essenciais no desenvolvimento da trama, o que torna o show massivo, lento e dificil durante maior parte dos oito episódios de cerca de 45 minutos. A temporada usa três pontos temporais para se desenvolver, o primeiro é o desenrolar do ano, o segundo é o final da investigação sobre a morte de Armando e o terceiro, que aparece apenas em poucos episódios, é quando um aluno surge morto numa piscina, acontecimentos que tinham tudo para agitar a série e acabando ficando sem um foco justo, o que só dificulta a missão de nos entregarmos ao enredo. Outra falha do show, principalmente comparada ao ano anterior, é esquecer maior parte dos eventos desenvolvidos na trilogia de Élite: historias breves, o que parecia essencial para as personalidades que deveriam ter se formado no quinto ano da produção.

Georgina Amorós começa a temporada com uma trama bastante desalinhada, Caye parece ainda ter um envolvimento forte com Phillipe, se desenvolvendo vagarosamente e sem levar em consideração os eventos de seu especial até meados de “Please, Tell the Truth” (5×05), quando o Felipe de Àlex Monner acaba sendo resgatado para se envolver em sua trama, também é onde acontece a virada de chave que conecta a história de Caye e Isadora. A trama da Isadora de Valentina Zenere, que parece desnecessariamente irritante inicialmente e rapidamente conquista nossa antipatia, é outra que acaba tendo um ponto de virada quando menos esperamos, tratando superficialmente sobre sua dependência química e entrando numa profundidade absurda quando um outro fato acontece. Itzan Escamilla (Samu), Carla Díaz (Ari) e Omar Ayuso (Omar) apesar de parecerem ter evoluções a entregar acabam mal sendo desenvolvidos, temos um Samu colocado num impasse entre Ari e Benjamín, sem saber se anda na linha para agradar o diretor ou vive intensamente para agradar a namorada; um Omar forçado a encontrar um novo norte, que o faz ficar mais autoritário e se aproximar de Bilal (Adam Nourou), um amigo que se mostra incapaz de andar na linha; e temos uma Ari mais inconsequente, que voltou de uma quase morte e quer viver tudo com intensidade como se fosse o último de seus dias.

Quem também se perde na falta de desenvolvimento é Claudia Salas (Rebeka) e Martina Cariddi (Mencía), que transitam entre idas e vindas para tentar construir a evolução das personagens e acabam não indo a lugar nenhum, uma decepcionante falta de evolução. Já o último Blanco, o Patrick de Manu Ríos, acaba tendo uma foco muito maior, mesmo que o roteiro não permita uma verdadeira evolução do personagem, deixando a desejar em sua trama com Cruz (Carloto Cotta), o pai de Ivan, e deixando muito mais fraca toda a criação da conexão entre ele e Ivan, que é muito bem desenvolvida e vai nos cativando devagar. Claro que não podemos deixar de citar que muito do que é entregue na relação entre Ivan e Patrick se deve ao gigantesco carisma que exala de André Lamoglia, o brasileiro que entra na série espanhola pronto para roubar o coração do publico e facilmente se torna o xodó dos espectadores brasileiros, nos brindando ao soltar diversas frases em português em meio aos diálogos e com seu rosto inocente capaz de agradar qualquer um. Talvez o maior problema realmente da temporada seja que, apesar de ter várias tramas relevantes e um plot de assassinato que poderiam guiar a temporada, o show se perde em meio a todas as relações mal desenvolvidas e apelos sexuais inoportunos, deixando o show de sexo e drogas dominar o tempo de tela e as cenas de desenvolvimento real serem espremidas em meio a esses shows.

Perdida em seu próprio conceito, a quinta temporada de Élite acaba exagerando demais na apelação sexual e deixa de lado os dramas que fizeram a produção funcionar no decorrer das temporadas, com capítulos arrastados e excesso de desencontros. Trazendo um ponto final para muito dilemas mal resolvidos e dar destinos para alguns dos personagens do elenco original, a série começa a se aproximar demais da proposta de Sex Education e esquece que sempre foi uma série de mistério e debates polêmicos. Seria mentira dizer que a temporada não trouxe assuntos relevantes, como o desejo por mais dos alunos, como o excesso de confiança de Isadora que a deixa vulnerável demais, o dilema do gay que se apaixona por um hétero, a homofobia excessiva de uma pessoa que não se aceita, o peso na consciência que acaba afetando as relações, a relação entre pessoas de idades diferentes, mas o problema da série não é a falta de debates e sim a superficialidade que esses debates acabam tendo em contraste com a sexualização excessiva que quase transforma a série num softporn. Extremamente incomodo, temos uma das piores construções para o personagem de Benjamín, que assume uma atitude extremamente antiética e mostra sua falta de controle ao não saber educar seus filhos e estender suas frustrações à escola, chegando ao ponto de punir os alunos por problemas que acontecem fora da escola ou a criar regras que limitam os alunos para controlar os atos dos filhos. Outro grande problema do ano é a forma como ela nos confunde com o crime da edição, estamos acostumados a encontrar uma trama focada em peças soltas do crime que será revelado no último episódio, mas a temporada decide trazer três situações diferentes e embaralhar essas cenas para nos fazer achar que tudo faz parte do mesmo contexto, o que só torna mais frustrante o momento que começamos a chegar no mistério final e percebemos que a trama tentou nos enganar e forçar conclusões inexistentes.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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