Review | Elite [Season 6]

Nota
4

“Eu vou adorar as pessoas me encarando por que sou filha do ditador assassino.”

O tempo passa e mais um ano letivo começa em Las Encinas. Com a prisão de Benjamín, uma nova diretora assume o colégio e os seus três filhos se veem obrigados (pelos advogados de seu pai) a voltar a frequentar a escola. Patrick, Mencía e Ari repetiram de ano depois da prisão do pai, o que possibilitou que Isadora e Ivan os alcancem, junto com outros alunos novatos como Nico, um aluno trans que tem todo o suporte em casa e acaba encontrando seu maior desafio na escola, quando se apaixona por Ari e a garota se mostra extremamente transfóbica; Dídac, um ex-garçom da nova boate de Isa que acaba se envolvendo com a Imperatriz de Ibiza; Sara e Raul, um casal de influencers que juntos administram a conta saraul.goals e vivem um relacionamento tóxico e extremamente abusivo; e Rócio, uma mulher forte, decidida e empoderada que acaba se apaixonando por Bilal.

O novo ano da produção criada por Carlos Montero e Darío Madrona traz novos dilemas, numa mistura bem dosada de repercussões de dilemas antigos. Isa ainda carrega o trauma do estupro e tudo só piora depois que o julgamento é arquivado por falta de provas, o que permite que Javier, HugoÁlex retornem a Las Encinas e Isa precise encarar seus estupradores todo dia na escola. A sexualidade começa a ser explorada com muito mais responsabilidade quando Cruz resolve assumir sua homossexualidade, o que cria um caos em sua vida, afasta patrocinadores e cria uma rede de ódio que coloca sua vida e sua carreira em risco. A sororidade e o apoio feminino é outro tema que se fortalece nesse ano, principalmente quando a temporada decide tratar sobre o estupro de Isa e o abuso que Sara sofre, colocando as personagens femininas do elenco regular para se aproximar e até se envolver no problema, criando cenas intensas de cooperação. Outro ponto forte é o mistério da temporada ganhar um foco muito melhor, o atropelamento de Ivan é o grande foco dos oito episódios de cerca de 50 minutos, e a série constrói seu enredo repetindo a boa escolha que fez em seus primeiros anos: dar motivos para vários personagens quererem ver Ivan morto e colocar todos eles dentro de um carro semelhante ao que o atropelou.

A evolução que a produção teve fica clara, parece que os roteiristas decidiram diminuir a aposta em apelos sexuais, mesmo que ainda não tenham o excluído e mantenham as bebedeiras e as drogas, mas conseguem dar um foco maior às questões relevantes e debates bastante polêmicos. Talvez um dos problemas que mais pesam nessa temporada seja o vácuo de meses, o que permitiu que vários personagens tivessem um desenvolvimento offscreen que não é explicado, como os eventos que levaram Bilal a trabalhar na boate de Isa, mais detalhes sobre a saída de Omar, Phillipe e Rebeka e o destino que Caye acabou tendo. Vivendo sua despedida, André Lamoglia (Ivan) parece receber uma das melhores tramas da temporada, vivendo uma relação complicada com Patrick, que ainda não sabe confiar em sua capacidade, e com a saída do armário do pai, que acaba trazendo várias consequências avassaladoras para sua vida, criando até um certo paralelo com a trama vivida por Carla Díaz (Ari), apesar de essa última ficar completamente mal trabalhada. A grande adição da temporada surge na forma de Ander Puig, o primeiro ator trans a entrara para o elenco da série, e que no papel de Nico protagoniza uma subtrama bastante profunda e crua, um garoto trans seguro e com uma rede de proteção que acaba se vendo passar pelo processo de aceitação após se apaixonar por uma pessoa.

Focada e em busca de redenção, a sexta temporada de Élite parece finalmente enxergar onde investir, trazendo uma temporada muito mais consciente e capaz de se moralizar ao debater sobre aceitação, homofobia, transfobia, respeito às mulheres e tantas outras questões extremamente necessárias, finalmente a produção mostra que aprendeu com seus erros e começa a mudar suas abordagens e sua forma de contar histórias, criando uma evolução redentora e deixando uma expectativa de melhoria para uma próxima temporada. Sem perder a vibe que já cativou o público mais fiel e disposto a se redimir com o público que evadiu nos últimos anos, o show aposta em assuntos mais maduros, apesar de ainda perder a mão em algumas abordagens, e deixar o sexo em segundo plano, dando uma guinada no roteiro e se fortalecendo, o que acaba deixando o novo elenco mais escanteado, evoluindo discretamente, e até cria uma base para que eles possam ser melhor exploradas na sétima, e última, temporada. Por outro lado, a forma como alguns personagens antigos deixaram pendencias mal resolvidas deixa um receio, será que teremos todos os plots finalizados num próximo ano? Será que os ciclos vão finalmente se fechar e o ‘respiro’ na forma da sexta temporada foi só um descanso para nos levar a uma das temporadas mais cheias de tramas e desenvolvimentos, arrisco até cogitar redenções e resoluções?

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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