Review | Elite [Season 8]

Nota
2

“Os pilares de Las Encinas são disciplina, excelência e mérito. Os nossos, prazer, liberdade e contatos”

Um novo ano letivo começa em Las Encinas. O Alumni, um clube formado por alunos e ex-alunos de Las Encinas, se apresenta formalmente aos futuros veteranos, reinvidicando uma área no prédio para o funcionamento oficial do clube, que tem Hector como presidente e Emília como vice-presidente. Ambos são irmãos e membros da familia Krawietzs, uma das dez famílias que enriqueceu durante a ditadura e atualmente mandam no país. Chloe e Carmen agora passaram a ser rodeadas pela polícia durante a investigação da morte de Raúl, que Sara continua afirmando ter sido obra de Chloe, e que Dalmar segue se remoendo por não revelar que gravou Carmen empurrando Raúl da sacada. Mas tudo começa a mudar quando Dalmar tem o visto negado, descobrindo que a melhor forma de conseguir o visto seria ajudar a solucionar um crime grave. Isa resolve reabrir o Isadora House, contra a vontade de sua mãe, contratando Omar, se vendo tentada a se aproximar da Alumni pela chance de fazer a família Krawietzs investir na boate. Já o relacionamento de JoelIvan começa a ficar complicado por conta do intercâmbio em Parkhurst College, o que torna tudo ainda mais turbulento quando Ivan finalmente volta a Las Encinas, principalmente depois que Hector bate os olhos em Joel e decide apadrinhar ele como candidato à Alumni, começando a flertar e seduzir o namorado de Ivan. Mas a grande pergunta que fica é: Será que a temporada final de Elite vai ser capaz de encerrar uma produção de tantos altos e baixos de uma forma digna?

Depois de sete temporadas que foram ao céu e ao fundo do poço repetidas vezes, o oitavo ano do show parece voltar às origens, se propondo a entregar uma forte trama de mistério e assassinato, que nos traz, logo no primeiro episódio, um take de Joel sendo encontrado morto na introdução e um take de Ivan e Dalmar sendo presos ensanguentados no final, prometendo que tudo vai ficar muito mais intenso. A nova proposta da série não é mais deixar as peças do quebra-cabeça da morte da temporada só para o final de cada episódio ou esconder quem foi assassinado, cada episódio tem duas peças revelada, uma no começo do episódio e outra no final, o que torna todo o mistério muito mais poderoso e instigante, nos prometendo oito episódios, de cerca de 45 minutos, que podem resgatar o melhor de Elite, mas que começa a desandar pouco tempo depois. O misterio que toma conta do primeiro episódio começa a ser diluído no decorrer dos episódios, começando a ser deixado de lado, logo depois de o tom revigorante ceder ao frustante aceno para a pegada mais soft porn que tanto foi criticada em outras temporadas. Mas se tudo se perde no decorrer do segundo ao quarto episódio, o quinto capitulo se encerra de uma maneira arrebatadora, retomando o controle da temporada e nos presenteando com um sexto episódio que parece voltar ao que realmente interessa. Um controle que pode cativar o público a primeira vista, mas leva a produção a um encerramento desagradavel, com uma season finale (e finalização da série) fraca demais, que deixa muito mais pontas soltas do que respostas.

Numa escola cheia de psiconepobabys, só quem consegue sustentar a trama é André LamogliaValentina Zenere Mina El Hammani. Lamoglia conquistou os espectadores do decorrer das temporadas que participou, e a jornada complicada que Ivan passou, apesar de ter causado separações pelo caminho, só fez o público se apegar ainda mais a ele (e claro que sabemos que muito do que fez ele ser o personagem favorito dos brasileiros é o fato de o ator ser da nossa terra), nessa nova temporada ele está retornando do intercambio e encontra seu namorado cheio de rachaduras, ele quer proteger Joel e garantir um futuro para ele, é a forma dele dar um proposito a todo o dinheiro que tem, mas a forma como ele age acaba fazendo Joel recuar ainda mais, querer ser capaz de conquistar seu dinheiro por conta própria, e é um dos principais motivos que ele acaba se envolvendo com a Alumni e a prostituição. Zenere é outra das personagens dubias que conquistaram o público, ela veio de uma familia criminosa e sofreu muito, mas conseguiu dar a volta por cima e conquistar sua independencia, pricipalmente agora que luta para reabrir o Isadora House ao mesmo tempo que tem que lidar com a prisão do seu pai (que aconteceu com sua ajuda) e com as violentas investidas de Luis (que tenta a todo custo força-la a se envolver com ele), mas infelizmente a personagem perde uma caracteristica crucial de sua construção: seu estupro. O estupro que Isa sofreu na sexta temporada parece ter sido apagado, principalmente por que o momento que Isa começa a ser assediada por Luis deveria ser o momento que seus gatilhos começariam a vir a tona, mas eles não existem. Por fim, El Hammani parece dar uma arejada na trama com seu retorno como Nadia, mas suas aparições se tornam tão escassas que demoramos a entender que Nadia não voltou verdadeiramente, ela apenas surgiu como uma ferramenta para conectar Omar e a Alumni, e vai se manter fazendo algums visitas para catalizar a trama.

A chegada de Ane Rot (Emilia) e Nuno Gallego (Hector) tinha tudo para agitar o enredo, mas a dupla adolescente parecem mais alunos de Las Encinas do que realmente ex-alunos poderosos, eles são jovens mimados que se comportam com menos maturidade do que os próprios alunos de Las Encinas, mal introduzidos, surgindo como um instrumento de mudança na trama fadada ao fracasso, que poderia até ter funcionado, se tivesse sido planejado de uma forma a realmente funcionar dentro da trama pré-existente. Repetindo a façanha de dispensar alguns personagens sem trazer uma explicação plausivel, a série poderia ter introduzido Emi e Hector como novos alunos que estavam chegando a Las Encinas para finalizar o ensino médio e que, junto com eles, trouxessem a proposta de um clube escolar como braço da Alumni, que poderia ser uma organização ou sociedade com pessoas de influência, sem conexões diretas com Las Encinas. Isso explicaria por que nunca foi comentado na série sobre esse ‘clube de ex-alunos’ ou por que nunca houve uma área reservada para esse clube no decorrer desses oito anos de série. Omar (Omar Ayuso) foi um dos personagens que mais nos cativou nas primeiras temporadas, principalmente por seu romance cativante com Ander, mas, desde seu retorno, ele não está mais numa fase tão boa, sua relação com Joel na temporada anterior e seu desenrolar nessa oitava temporada não cativa, fazendo Omar transformando um personagem que era interessante em uma presença incoveniente, que fica chato e nos faz desejar que sua trama acabe. No fim o que resta é uma vontade de resistir e terminar a série, só para garantir que vamos poder falar mal com propriedade.

Nostalgica e inconstante, a temporada final de Élite consegue trazer um desfecho, mas infelizmente não recupera a originalidade e energia da temporada de estréia, entregando um plot que, apesar de não ser previsivel, é acompanhado de tramas paralelas mal construidas e ideias que não se sustentam, entregando um final que não satisfaz para a maioria dos personagens. Cheia de furos, a trama pelo menos tira o foco da vibe drogas e sexo, apesar de esses elementos ainda estarem presente numa quantidade além da necessária, e consegue recuperar a veia criminal que tanto garantiu seu sucesso no ínicio, infelizmente os ajustes chegaram em um momento onde não há muito que pode ser feito para salvar a produção, onde a pressa para finalizar e ansia por redenção se degladiam e acabam prejudicando a história, que não consegue desenvolver plenamento nenhuma das duas áreas. Numa temporada onde as aulas e a escola quase não são presentes, o último episódio até transforma o assunto numa piada, mas ainda não consegue ser pleno na execução. O fato é que talvez a principal causa da derrocada da série tenha sido abrir mão do elenco original sem um desfecho descente e ir substituindo por personagens novos a cada ano que, apesar de trazer dilemas relevantes e debates necessários, também acabaram não ganhando um desfecho, criando uma bola de neve de história mal finalizadas.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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