Nota
“A casa clama por sangue!”
A insistência da Netflix para certas produções desnecessárias parece nunca ter fim, e é depois de duas temporadas cheias de problemas que a empresa de streaming lança, em 14 de maio de 2021, uma terceira temporada para a controversa série Eu Vi. Repetindo o feito de trazer novos seis relatos, agora com o tempo reduzido para cerca de 25 minutos, o show repete toda aquela premissa que incomodou a muitos nas últimas temporadas e que, aparentemente, só deu certo em seu spin-off. Novamente temos uma pessoa ou um grupo em uma sala, sentado em circulo junto com seus familiares e/ou amigos, nos expondo seus relatos, suas macabras experiências, ao mesmo tempo que vamos vendo as dramatizações de cada pesadelo, feitos de uma forma tão gráfica e realista que cada antologia se assemelha a um filme de terror, as vezes até lembrando da trama de alguns longas-metragens que habitam a sabedoria popular americana.
Começando com “In The Pines”, o show nos apresenta Hannah, uma garota que acabou morando com seu namorado em uma cabana na floresta aterrorizante. Com uma base que nos deixa em dúvida de sua veracidade, o episódio se torna ainda mais confuso quando começa enchendo salsicha nos apresentando à infância de Hannah, algo que não tem nenhuma importância para a história em si, e logo depois nos joga numa trama completamente sem sentido enquanto todo o relato de terror acontece, nos deixando com uma história que parece absurda demais para ser real, que não se conecta em nada com o passado da garota e nem cria um relato que nos envolva. De repente surge uma esperança com “Haunted by Henry”, relato que nos mostra a história de Wyatt e Cindy, um homem e sua mãe, que foram morar em Crofton, na Columbia Britânica, quando Wyatt era uma criança, na casa que pertenceu a Henry Croft, um magnata da mineração do século 19. A história é sobre toda atmosfera sombria que circundava a casa, todo o terror que eles viveram ali, como se o Senhor Croft ainda permanecesse na casa, deixando o cheiro de seu charuto pelo ar e maltratando todos que entram na casa dele.
A produção chega a metade com “Gift of Evil”, onde chega a vez de Emily contar sua história, sobre a caixinha de música que ela ganhou na adolescência, a caixinha fantasmagórica que trouxe uma energia assustadora para dentro de sua casa. O relato conecta diretamente a adolescente solitária e esquisita que Emily era com o espírito de uma menina que foi assassinada, a garotinha que era a antiga dona da caixa de música e que acabou sendo jogada de um precipício para morrer afogada, uma experiência que se tornou um pesadelo para a adolescente a medida que a garotinha começou a aparecer cada vez mais para ela e tentava cada vez mais mata-la. Seguindo para “The Witch Behind the Wall”, é o momento de Brandy contar sobre a época em que ela e seus irmãos foram atormentados por uma mulher velha e hostil, que mora numa casa aos fundos de sua casa, casas separadas apenas por um parede. A mulher, que se acredita ser uma bruxa, construiu um um modelo assustadoramente preciso de sua casa e passou a comandar assombrações violentas, que pouco a pouco foram tirando o sono das crianças, aprisionando toda a família dentro de um pesadelo sem fim.
Logo vamos para “Demon Cat”, quando Alicia começa a nos contar sobre a criatura demoníaca que entrou na casa dela e atormentou sua família. Depois de uma introdução perturbadora, o relato narra sobre a experiência da garota ao crescer numa casa cheia de uivos e assobios estranhos, tudo por conta da presença de um gato, um animal que era muito mais do que um simples felino, um animal apodrecido e escalpelado que surgiu dentro da casa e passou a atacar cada membro da família. O sonho da família de Alicia logo se tornou um pesadelo depois que ela foi morar no lugar onde um grupo de jovens fazia rituais nefastos e extremamente perigosos, deixando para trás um monstro esquelético com poderes sobrenaturais. A temporada acaba com “Sins of My Father”, nos presenteando com o relato de Christian, um rapaz cuja família é atormentada por uma maldição que já dura muitas gerações. O garoto passou a infância sendo obrigado a assistir o seu pai sobreviver ao seu legado, algo que pouco a pouco foi o arrastando pelo caminho da insanidade, uma maldição que, quando Christian menos esperava, surgiu em meio a sua vida, fazendo o jovem, que havia se tornado um estudante da Ivy League, ser torturado pelos pensamentos e alucinações que condenaram seu pai.
Insistindo em uma ideia que já perdeu a graça, Eu Vi volta criando aquela expectativa de bons relatos, mas novamente chega com uns dois ou três episódios que possam ser considerados realistas. Temos uma história cheia de furos que parece completamente irreal no primeiro episódio, uma história mais real que corrobora com fatos históricos no segundo episódio, um relato bem amarrado e crível no terceiro episódio, a volta para o terreno dos exageros com pessoas voando e um voodo muito fantasioso no o quarto episódio, uma trama extremamente surreal e falsa no quinto episódio, e uma subversão da esquizofrenia no episódio final. Apesar de chamar nossa atenção, a temporada é, mais uma vez, decepcionante, confirmando que a premissa é boa, mas ainda falta ter uma execução de respeito, que faça jus ao potencial do show.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.