Review | Evil [Season 1]

Nota
4

“- Essas condições não poderiam ter uma explicação psicológica?
– Claro, é por isso que tá aqui. Tá pronta?”

Kristen Bouchard vive tentando equilibrar sua vida como psicóloga forense e mãe de quatro filhas, enquanto seu marido ganha a vida como guia de escalada no Everest, mas sua vida começa a mudar quando ela é convocada para o caso de Orson LeRoux, um assassino que alega estar possuído por demônios, e cuja defesa pretende usar insanidade para livra-lo da cadeia. Durante os testes para descobrir se LeRoux tem um problema ou está apenas fingindo, Kristen conhece David Acosta, um seminarista católico que trabalha como avaliador profissional da Igreja, e acaba sendo demitida. Incapaz de terminar de pagar seus empréstimos estudantis, Kristen acaba recebendo uma proposta de David de trabalhar com ele, se tornando a psicóloga cética da equipe e se aliando a Ben Shakir, um especialista em tecnologia cético, na missão de investigar supostos incidentes sobrenaturais relacionados a possessões e milagres, e definir se o caso merece ou não a atenção e intervenção da Igreja Católica. Como consequência de sua contratação, Kristen se torna alvo Leland Townsend, um psicólogo forense que se torna rival da moça, tem uma história no passado com David e, secretamente, é um especialista em ocultismo que é obcecado em encorajar outros a cometerem atos malignos. Outro problema que surge em sua vida é George, um demônio que começa a aparecer nos sonhos de Kristen, lhe causando paralisia do sono e protagonizando momentos aterrizantemente engraçados.

Criada por Robert e Michelle King, casal conhecido pelo aclamado The Good Wife, a série vende uma pegada de terror misturada com suspense que permeia sua atmosfera ao mesmo tempo que traz uma pauta meio cética, porém eficiente. A vida de Kristen é dominada por uma energia feminina, com todo o terror circundando a vida dela, de suas quatro filhas e de sua mãe, numa familia onde temos um marido praticamente ausente, o que faz com que esse grupo feminino se torne o alvo primario do mal que assola o filme, e é esse mal que se torna a grande brincadeira da trama, até onde o mal existe e até onde tudo não passa de problemas psicologicos ou tecnicos. A forma como a maioria dos casos pode ser solucionado com lógica e informação coloca em pauta a verdade por trás do mal, será que realmente aquela explicação pode solucionar todo o mistério? Será que realmente da para jogar de lados os aspectos sem explicações e se agarrar à ciência? Um dos episódios que mais evidência esse aspecto é “177 Minutes” (episódio 2), onde o grupo é chamado para investigar o caso da garota que, por um milagre, voltou a vida quando estava em sua autopsia, um caso que é explicado a partir de provas carnais e evidências médicas, mas que, em meio da investigação, revela uma aparição fantasmagorica em um vídeo que acaba sendo deixada lado por não ser necessária para o caso.

Apesar de brincar o tempo todo que o mal é só um ponto de vista e que o sobrenatural nada mais é do que a falta de explicação cientifica para algo, a produção leva o publico a duvidar das respostas que oferece ao mesmo tempo que faz duvidar se o sobrenatural existe. Katja Herbers, interprete de Kristen, se desenvolve bem no papel, ela consegue encarnar o aspecto da médica cética que começa a duvidar de suas crenças a medida que luta para manter seu ceticismo. É interessante o quanto a série foca tudo ao redor dela, sem deixar de dar espaço para os outros protagonistas, mas ao mesmo tempo deixando no ar misterios sobre os passados de praticamente todos os personagens. Mike Colter, que vive David, mostra a versatilidade que possui ao viver um seminarista cheio de demônios depois de interpretar um poderoso traficante de drogas em The Good Wife e um aprimorado com superforça e invulnerabilidade em Luke Cage, chegando a um papel mais denso e pacifico que nos captura, nos deixa curioso e aflitos (como nos eventos de “Room 320”, episódio 11). O grande apice da série fica nas mãos de Michael Emerson, que no papel do sádico Leland, nos prende ao construir um vilão deliciosamente debochado, cinico e perverso, que as vezes chega a ser cômico, mas nunca deixa de exalar escuridão na sua atuação, trazendo um ar enigmatico que nos faz ficar na duvida entre rir e correr, amar e odiar.

Apesar de não ser inovadora, a primeira temporada de Evil é envolvente pela sua pegada misteriosa e realista com seus momentos tensos, divertidos e estranhos. Com seus treze episódios de cerca de 45 minutos, a série produzida pela CBS Studios e King Size Productions é um excelente promessa, que ainda consegue espaço para trazer acenos a clássicos como O Bebê de Rosemary, O Exorcista, Poltergeist e alguns outros, mas infelizmente erra ao não dar desfecho a algumas histórias com potencial e ao trazer uma finale que foge de seu padrão. É como se o roteiro começasse a ter preguiça de finaizar bem as histórias depois de um desenvolvimento interessante, o que nos leva a finais incompletos ou mal explicados, e tudo isso parece se acumular e estourar com a chegada de uma season finale que, apesar de estabelecer ganchos, perde seu carater minimalista deixando muitas inconclusões no ar depois de desenvolver uma mitologia interessante em paralelo com a dinamica de caso da semana, deixando o público muito mais com duvidas sobre o que realmente viram do que com expectativas de uma evolução das revelações. No final, existe uma curiosidade poderosa sobre os próximos episódios do show, mas não se pode negar que surge um amargor no final dessa digestão. Resta agora ao show sustentar a grandiosidade prometida e dar desfechos melhores para os próximos casos, ou até se mostrar consciente e resgatar elementos sem desfechos para dar a amarração final necessária.

“Você está em perigo. Ele está vindo atrás de você.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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