Nota
“ Você ficou tão á vontade, achando que tinha o controle… da sua imagem, das suas ações, da narrativa, que esqueceu de uma coisa. Eu vejo você! E antes que eu termine… vou fazer você se ver também. Você sabe que me ama.”
Após um longo período isolados, os alunos da Constance Billard se preparam para a volta às aulas, trazendo aquilo que eles sempre souberam administrar como ninguém: um grande escândalo no Upper East Side. Dotados de um poder estupendo e sem uma grande ameaça a vista, os herdeiros da elite nova-iorquina constroem seu reinado torturando todos que atravessem seu caminho… Ao menos até alguém tomar o real controle da situação.
Cansados de serem constantemente humilhados, um grupo peculiar decide reviver uma velha lenda da Constance, criando uma conta anônima no Instagram com um nome que todos aprenderam a temer no passado: a Gossip Girl. Mas, para que isso funcione, eles precisam criar uma rivalidade estrondosa, que seja tão imbatível quanto a de Blair e Serena.
Assim, o novo perfil volta seus olhos para a Julien Calloway (Jordan Alexander), uma influenciadora digital que reina soberana sobre os demais privilegiados e sua meia-irmã Zoya Lott (Whitney Peak), a recém chegada que procura um novo lugar em que possa esquecer seu passado e finalmente recomeçar sua vida. Entre novos escândalos, revelações apimentadas e uma guerra sem precedentes, a nova geração está prestes a descobrir o quão problemático pode ser enfrentar um inimigo que nos vigia o tempo todo e que pode revelar nossos mais profundos segredos quando menos esperamos.
Gossip Girl causou uma revolução na maneira de se narrar uma série. Nos primórdios da era digital, a trama observou os problemas da exposição virtual, trazendo dilemas pertinentes ao mesmo tempo que nos presenteava com personagens memoráveis que nos acompanham até os dias atuais. Tendo isso em mente, a HBO Max decide fazer sua grande aposta, visando atrair um antigo público por seu peso ao mesmo tempo que conquista uma nova geração para sua história.
Passando-se oito anos após o final da série original, a nova versão de Gossip Girl pretende atualizar seus dilemas enquanto conversa com seu antigo público de uma maneira um tanto quanto peculiar. Por mais que tenhamos acompanhado as confusões insanas da série original, essa nova versão demonstra um amadurecimento palpável que pode até dialogar com os saudosistas. A grande verdade é que é uma nova base que não está tão preocupada assim em seguir os moldes da original, e nem sempre isso é ruim.
Separando sua primeira temporada em duas partes e trazendo de volta seus criadores, a série se passa no mesmo universo de sua antecessora, mas com novos personagens e uma nova roupagem que combinem com a geração atual.
Os seis primeiros episódios trazem uma montanha russa emocionante, passando de momentos grandiosos a uma quietude morna, construindo episódios cíclicos que começam e finalizam seus problemas principais no seu tempo de duração. Sem grandes ganchos, a temporada pode causar uma falta de interesse para o público mais antigo, que vê uma jornada pouco apimentada que as vezes não nos leva a lugar nenhum.
Outro grande ponto de afastamento é que a nova versão não se preocupa em esconder quem é a fofoqueira mais letal do Upper East Side, revelando sua identidade logo no primeiro episódio da narrativa, enquanto explora toda problemática por trás disso. A série procura explorar as dificuldades em manter o perfil no ar, trazendo as incertezas e motivações daqueles que estão por trás da famosa conta, além de criar um parâmetro oportuno sobre a constante guerra entre gerações e como cada uma age diante de problemas semelhantes.
Em um mundo mais dinâmico e antenado, onde notícias e cancelamentos são traços constantes da sociedade, o peso das publicações triplicam, trazendo um posicionamento diferente de seus personagens e como eles lidaram com a constante ameaça virtual que a Gossip Girl (novamente ganhando voz através da maravilhosa Kristen Bell) pode causar em suas vidas.
Os temas levantados são mais adultos, fugindo da sátira afiada que sempre foi o cerne da série original. Se na primeira versão acompanhamos os absurdos escandalosos da elite de Manhattan, aqui temos uma narrativa mais pé no chão, que se preocupa em debater temas ignorados na sua antecessora.
Seja a presença e aprofundamento dos pais, a representação e descobrimento sexual ou, até mesmo, o falso moralismos por trás de ativistas de telão, tudo aqui é construindo para conversar com os novos dilemas sociais e como sua crescente afeta o mundo atual. Inclusive, a série se passa pós pandemia, demonstrando um cuidado exemplar para a época que quer retratar e como isso afetou o mundo ao nosso redor.
Mas, se a série acerta em muitos pontos, outros tornam sua narrativa exaustiva a ponto de afastar nosso interesse naquilo que nos é contado. Boa parte disso está na relação repleta de atritos das irmãs, que tenta replicar a rivalidade icônica entre suas antigas protagonista mas acabam apenas soando como lago confuso e sem função na nova versão.
Julien e Zoya tem personalidades interessantes e dilemas poderosos, mas o roteiro insiste em forçar suas constantes brigas que não levam a lugar nenhum. Cada novo episódio a dupla entra em uma batalha fria, que parece se resolver no final apenas para começar novamente no episódio seguinte, o que se mostra cansativo e nem um pouco interessante.
Outro grande problema se encontra em Obie (Elie Brown), cuja função na narrativa é ser namorado das protagonistas e um constante motivo para as confusões das duas. O rapaz tem sérios problemas em sua construção, funcionando apenas como chaveiro convencional que não sabe o que quer em sua narrativa. Cada um de seus discursos e problemáticas soa vazia e sem carisma, nos afastando ainda mais de sua presença e pouco convencendo quando se mostra mais ativo na trama.
Mas, se o arco principal é insosso e sem força, as tramas secundárias ganham peso e nos convencem a ir adiante. Audrey Hope (Emily Alyn Lind) e Aki Menzies (Evan Mock) são uma grata surpresa. Os dois vivem um relacionamento em crise que aprofunda ainda mais todos os problemas que estão passando. A primeira vive um tormento eterno com a instabilidade de sua mãe, trazendo crises constantes que refletem em como ela age com todos ao seu redor. Mimada perfeccionista e com um ótimo carisma, a patricinha consegue salvar cada cena que participa e atrair nossos olhares a cada nova reviravolta de sua trama.
Já Aki tem uma personalidade mais passiva de alguém que prefere ficar nas sombras e apaziguar todos que estão ao seu redor. O rapaz passa por uma fase de descobertas, tentando entender os sentimentos e desejos reprimidos que constantemente afloram em seu dia-a-dia, principalmente quando participa das armações de Max Wolfe (Thomas Doherty).
E por falar nele, Max é um verdadeiro deleite escandaloso. Com uma liberdade sexual aflorada, o rapaz está apenas preocupado em curtir a vida, mas boa parte de seus atos são incentivados por pensamentos destrutivos que escondem suas dores internas. Max vê seu lar ser destruído por um segredo obscuro e se torna obcecado por Rafa Caparros (Jason Gotay), um professor de sua escola que tem uma fama poderosa fora da escola.
A dinâmica entre esses quatro constroem alguns dos melhores momentos dessa primeira parte, assim como a evolução de suas tramas e o apreço que cada um traz à narrativa como um todo. Outras personagens que brilham são Monet De Haan (Savannah Lee Smith) e Luna La (Zión Moreno), que entram na trama como assessoras de Julien mas que, ao sentirem seus empregos ameaçados, começam a criar seus próprios planos… Mesmo que eles sejam contrários ao de sua colega. As duas tem uma química latente que nos conquista de imediato, principalmente quando trabalham em equipe e movimentam a trama conseguindo, inclusive, ter mais carisma que as protagonistas.
Já Kate Keller (Tavi Gevinson) é outro grande ponto da narrativa. A professora da Constante é, nada mais, nada menos, do que a mente ativa por trás da nova versão da Gossip Girl. Kate começa o perfil como um experimento social, visando melhorar as atitudes de seus alunos dentro do ambiente escolar e evitar o massacre que eles causam no corpo docente mas, ao longo da trama, ela encontra novas motivações e ganha gosto por seu novo papel. Ajudada por um grupo de professores, a nova porta voz começa a entender que suas postagem podem mudar muita coisa, mas o peso delas pode ser uma faca afiada demais para se segurar.
Entre altos e baixos, a primeira metade da nova versão de Gossip Girl entrega uma trama morna mas repleta de um potencial latente. Com a base já construída, e o terreno preparado, esperamos que a segunda metade deixe de lado as preocupações infinitas e foque naquilo que faz a série realmente brilhar com toda sua grandiosidade: o escândalo juvenil e como cada um deles reage através das lentes afiadas que estão sempre de olho, a cada novo movimento.
“… a verdade simples é que é melhor ser ruim do que fazer o bem. Mas não se preocupe, vai pagar por isso mais tarde.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...