Nota
“Não esqueça – em Gravity Falls, não confie em ninguém.
NÃO CONFIE EM NINGUÉM!”
No inicio de suas férias de verão, os gêmeos Dipper (Jason Ritter) e Mabel Pines (Kristen Schaal) foram enviados para a curiosa cidade de Gravity Falls, Oregon, para passar a temporada com seu Tio-avô Stan (Alex Hirsch). Acontece que Stan pretendia usar as crianças como mão de obra barata para a manutenção da Cabana do Mistério, uma armadilha para turista, onde ele arranca cada centavo de quem ousa pisar em seu terreno.
Tentando se adaptar a nova região, e aproveitar o verão como podem, os gêmeos começam a notar que nem tudo é o que parece ser em Gravity Falls. Tudo se intensifica quando Dipper encontra um misterioso diário, escrito por um autor secreto que revela todos os segredos bizarros que a cidade deseja tanto esconder. A única certeza é que coisas estranhas acontecem em Gravity Falls e, por mais que queiram acreditar, ninguém é inteiramente confiável. Na verdade, o próprio Diário Secreto avisa a seus leitores: NÃO CONFIE EM NINGUÉM!
“Nosso Tio-vô disse que não havia nada de estranho nesta cidade, mas quem sabe quais são os outros segredos que estão esperando para serem descobertos.”
Após participar dos roteiros de alguns desenhos para lá de interessantes, Alex Hirsch conseguiu, em sua pós-graduação, dar voz à uma história bastante peculiar que se mostraria um dos maiores acertos do Disney Channel nos últimos anos. Para começo de conversa, Gravity Falls – Um Verão de Mistério está longe de ser uma série comum. Baseando-se em sua pré-adolescência e nas viagens de verão que fazia com sua irmã gêmea, Ariel Hirsch, Alex trouxe uma pitada de mistérios sobrenaturais em uma animação distinta, que era repleta de um aprofundamento impecável que conquistava o público a cada novo episódio.
Com pouco mais de 22 minutos em cada episódio, a animação possuía um tom divertidamente sobrenatural, trazendo pitadas sarcásticas e um humor único em seu cerne. Alex sempre conseguiu se mostrar respeitoso com seus fãs, construindo uma trama consistente que, a primeira vista, parecia boba e sem sentido. Mas, conforme nos aprofundamos no universo da cidade, somos pegos quase que desprevenidos em uma trama tão rica e bem construída que nos deixa atentos aos mínimos detalhes.
Somada a grandes referências a cultura pop dos anos 90, a série elaborava episódios repletos de segredos, que aguçava os olhares atentos e construíam verdadeiros caçadores de códigos ao longo de sua exibição. O enredo episódico parece desconexo em um primeiro momento, mas, quando passamos a analisar com mais cuidado, percebemos a genialidade das interligações feitas pelo rapaz. Os famosos monstros da semana vão ganhando novas camadas que seriam utilizadas mais a frente, principalmente quando entendemos que existem pistas a serem seguidas a cada nova reviravolta da trama.
Como se não bastasse esse grande chamariz de mistérios, Alex nos presenteou com personagens memoráveis que estão longe de seguirem o padrão de perfeição que a Disney tanto aborda em seus desenhos. Cada um aqui é disfuncional a sua maneira, trazendo atitudes questionáveis que os tornavam ainda mais humanos perante o público.
Dipper é um excluído social, querendo sempre estar correto em seus questionamentos e não lidando bem com as mudanças que só a adolescência pode causar. O protagonista que conduz a linha narrativa se mostra irritante, egoísta e obcecado em vários momentos, além de levantar vários pontos questionáveis em sua maneira de ver o mundo, mas que, aos poucos vai se abrindo para as novas possibilidades que o verão lhe mostra. Mabel, por outro lado, é muito mais confiante e extravagante que o irmão. Sendo aquela famosa irmã que está muito confortável consigo mesma, a garota tem um gosto único que se mostra um grande acerto, principalmente quando ela está decidida a conquistar o que quer sem ligar para as opiniões alheias.
Em vários momentos, é o relacionamento dos dois que faz a trama brilhar, principalmente quando eles reconhecem as suas fraquezas e entendem que é exatamente esses pontos que os tornam mais fortes. Dipper e Mabel tem uma relação tão real e cativante que nos conquistam mesmo com seus defeitos, os tornando ainda mais palpáveis e relacionáveis longo da narrativa. Mas precisamos falar do Tio-vô Stan. Trambiqueiro, rude e com uma ética para lá de questionável, o dono da Cabana do Mistério costuma levar todo mundo na lábia. E, embora não acredite naquilo que vende, ele está disposto a arrancar cada centavo dos turistas que parem em seu território. Stan é um dos personagens mais divertidos da trama, com todo seu ar questionável ele exibe uma série de atrocidades, que servem como alívio cômico enquanto tentamos entender se existe algum limite que ele não ultrapassaria, mas, mas ao mesmo tempo, percebemos que ele esconde mais do que deseja mostrar.
Até mesmo o grande vilão da temporada está longe de ser o que esperamos. Gildeãozinho (Thurop Van Orman) tem um ar de tele-evangelista em um corpo infantil, e pode cometer as maiores atrocidades enquanto usa a sua fofura a seu favor. Mimado, egocêntrico e extremamente imaturo, o garoto faz de tudo para conquistar os seus objetivos… custe o que custar. Outro personagem que chama nossa atenção é o Bill Cipher (novamente, dublado pelo próprio Alex Hirsch), um Triângulo Demoníaco que aparece como monstro da semana, mas nos entrega muito mais do que esperávamos. Sarcástico, cruel e com um humor bastante caótico, o ciclope triangular demostra que pode entregar mais do que nos foi mostrado, nos deixando atentos para seus próximos passos.
A primeira temporada nos apresenta episódios memoráveis, que já demostram a força da série logo de cara. Turistas Encurralados nos apresenta os mistérios da temporada, demonstrando com cuidado cada um dos personagens que vamos seguir. A Chefe Mabel e O Poço Sem Fundo trabalham bem a dinâmica do grupo, enquanto O Inconveniente e Summerween trazem tramas mais voltadas para o terror clássico, elaborando uma vertente envolvente em suas narrativas. Viajantes do Tempo traz essa dinâmica disfuncional dos personagens, principalmente quando a obsessão se coloca a frente dos sentimentos de quem sempre te ajudou. Múltiplos Dipper e Dipper Tampinha elaboram um ótimo desenvolvimento de personagem. Mas é Escapando dos Sonhos que se mostra o grande acerto da temporada, trazendo novas camadas a Stan e nos apresentando Bill. A Conquista de Gildeão fecha a temporada com chave de ouro, nos deixando ansiosos para a continuação dos acontecimentos.
Repleto de segredos e com um tom cativante, Gravity Falls – Um Verão de Mistérios se consolidou como uma das melhores series animadas da sua década. Misturando os tons sobrenaturais com um humor peculiar, a serie nos cativa desde seu primeiro episódio, nos deixando curiosos para os próximos passos enquanto nos presenteia com um verão inesquecível e nostálgico. E, acreditem, esse é o melhor presente que poderíamos esperar.
“Lembre-se: a realidade é uma ilusão, o universo é um holograma, compre ouro, tchau!”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...