Review | Harley Quinn [Season 1]

Nota
4.5

“Eu quero você vivo, para poder ver a sua cara quando eu comandar esta cidade!”

Depois de um assalto mal-sucedido, Arlequina acaba sendo presa em Arkham pelo Batman enquanto o Coringa foge da cena do crime, prometendo liberta-la até o dia seguinte. Os meses se passam e, um ano depois, Hera Venosa Charada colocam em prática uma fuga em massa de Arkham, libertando Harley junto, e dando a ela uma chance de construir uma nova vida. Se tornando uma produção inesperadamente icônica, Harley Quinn surpreende a qualquer pessoa com sua linha narrativa única, criando um conceito sutilmente episódico ao mesmo tempo que se foca no desenvolvimento da Harley e suas estrepolias, talvez até comprovando que o sucesso da série não foi simplesmente por conta das escolhas criativas, mas também por todo o show ter sido desenvolvido em volta da personagem que melhor se destaca dentro dessas escolhas.

A série deixa claro que a emancipação está na moda, e depois de a Arlequina dos filmes ficar livre do Coringa em Aves de Rapina, é chegado o momento da Arlequina das animações também se libertar de seu namorado abusivo. Numa animação protagonizado pela palhacinha psicótica, os roteiristas nos surpreendem ao pegar pesado na crítica ao seu passado, colocando o Batman apenas como um figurante e dando ao Coringa o cargo de antagonista principal. Vemos aos poucos a relação entre Harley e Hera se fortalecendo, assim como a amizade que a moça cultiva com outros vilões na prisão, que deixam claro que sentem pena do amor excessivo da vilã ao mesmo tempo que enxergam o desprezo que o  Coringa tem por ela.

A animação deixa clara suas referencias à cultura pop, tendo claras referencias a Esquadrão Suicida, como a introdução do uso do bastão como arma e a complementação da icônica cena de flashback do live-action que mostrava o casal dançando e a Harley com a roupa clássica, ou a aparição de uma certa hiena de estimação. Aos poucos ele vai construindo, de uma forma cheia de humor, a saga da palhacinha para sair da sombra do Coringa e se tornar uma supervilã, sempre seguindo por uma pegada para maiores (banhando os episódios de violência, sangue, ossos quebrados e palavrões), e que consegue novos amigos e aliados ao mesmo tempo que luta o tempo todo contra um Coringa extremamente machista e sua Liga do Mal. Aos poucos somos apresentados aos vilões mais escanteados, como o divertidíssimo e galanteador Homem-Pipa, e o melhor personagem de toda a temporada: o Frank, a planta que vive na sala da Hera Venenosa.

Como se a relação de Harley e Hera, com a intromissão do Homem-Pipa, não fosse suficiente, ainda somos apresentados ao Dr Psycho, um homem com problemas sérios de imagem que é considerado machista e quer lutar contra isso, o Cara-de-Barro, um ator renegado que consegue assumir qualquer forma e deseja encontrar ao lado de Harley sua chance de brilhar, e Tubarão-Rei, um extremamente habilidoso hacker que tem amplo conhecimento sobre a imagem nas redes sociais e passa a ajudar o grupo a ter uma melhor apresentação para alcançar a fama.

Seguindo de uma forma bem inusitada, a trama subverte os clássicos personagens da DC a ponto de enaltecer a libertação da Arlequina, trazendo participações de grandes nomes do hall de vilões da editora, como CharadaRainha das Fábulas, BaneDuas-CarasEspantalhoHomem Calendário, entre outros, deixando os heróis como figuração, já que a saga de Harley dispensa a presença de BatmanSuperman ou Mulher-Maravilha, mesmo que tenhamos a apresentação de Robin, que entra rapidamente como um nêmesis para o grupo de Harley mas logo é deixado de lado.

Com maravilhosos 13 episódios, a série criada por Justin HalpernPatrick SchumackerDean Lorey, para o DC Universe,  conta com a dublagem de Kaley Cuoco na personagem protagonista, que se mostra capaz de encarnar a melhor personalidade da vilã, tão bem construída quanto a Harley de Margot Robbie. A forma como a série consegue desconstruir todos os personagens da DC, levando-os a situações inimagináveis, e nos levando a ver faces menos épicas de cada um deles, é o grande mote do roteiro, durante o show somos levados a ver Damien Wayne como um moleque mimado e mentiroso que está cheio de dilemas internos, assim como conhecemos um Jim Gordon mais sofrido, sofrendo de uma imensa instabilidade mental que o faz criar uma obsessão pelo Batman, tudo por sequelas dos anos lutando contra o crime de Gotham e piorando após uma crise no casamento, que culminou com a descoberta de que ele estava sendo traído, deixando no ar a infinidade de problemas que podem existir na vida pessoal do Comissário.

A produção ainda nos leva a entrar dentro da cabeça da Harley e conhecer a mulher empoderada que ela foi em seu passado, causando um imenso contraste com a garota submissa ao Coringa. Apesar de uma temporada cheia de altos e baixos, é em “The Final Joke” (episódio 13) que presenciamos o desembrulhar do maior presente aos fãs, provando que Gotham não tem um segundo de paz e que nem sempre as coisas são como parecem, as vezes as pessoas podem ser diferentes, podem ter tido um passado capaz de mudar sua essência e, as vezes, mudar a mitologia pode ser capaz de criar uma série surpreendentemente agradável.

A série ainda escolhe ir fundo no background trágico da Arlequina, mostrando que desde criança ela estava predestinada a ser uma psicopata vilanesca, e que o Coringa não foi o único homem que tentou a humilhar e foçar sua submissão, vemos que sua história envolve seus pais, os corpo docente da sua faculdade, entre tantos outros encontros traumáticos que culminam em seu envolvimento com o pior tipo de namorado. Com um estilo de comédia que beira o desrespeitoso e piadas que facilmente ultrapassam a linha moral, a série vai fundo na mentalidade autossatírica de todo o universo DC, ao mesmo tempo que jogam um holofote naquela que já foi uma das personagens mais desacreditadas da editora.

“- Minhas lágrimas de amizade caíram no seu túmulo e te trouxeram de volta a vida!
– Harls, eu te amo, mas não vivemos em um filme da Disney, tá bom?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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