Review | Heartstopper [Season 3]

Nota
5

“You know that saying ‘Things get worse so they can get better’? I think I understand that now…”

Charlie (Joe Locke) já passou por muita coisa no passado, mas agora ele está numa boa fase com seu namorado, Nick (Kit Connor). Apesar de estarem namorando sério há alguns meses, ele não se sente confiante sobre falar “Eu te amo” para Nick, o que o faz treinar diversas vezes no espelho para esse momento tão temido. Enquanto isso, Nick tem preocupações maiores, já que ele percebe o quanto Charlie esconde seu possível transtorno alimentar enquanto Nick não sabe o que fazer para ajudá-lo, já que é quase impossível falar sobre o assunto com ele. Já Elle (Yasmin Finney) está muito feliz com o seu começo na nova escola, que foca bastante em arte, mas também em conviver mais com seus novos amigos, e por ficar mais tempo longe dos seus velhos amigos, Tao (William Gao), como seu namorado, se sente inseguro dessa distância, já que eles se encontram todos os dias, e ele vai fazer de tudo que sua última férias juntos seja perfeita, embora Elle já fique feliz apenas de passar mais tempo com ele. Darcy (Kizzy Edgell), por sua vez, está passando por diversos problemas após sua mãe lhe expulsar de casa, fazendo assim com que Darcy busque refúgio na casa de sua namorada, Tara (Corinna Brown), o que pode ser um peso grande demais para ela carregar sozinha. No meio disso tudo, Isaac (Tobie Donovan) se sente abandonado pelos seus diversos casais de amigos, enquanto ele tem que lidar sozinho com suas próprias descobertas. O sucesso adolescente da Netflix, está de volta na sua terceira temporada, e Heartstopper mostra que, além de bastante agitada com todos os seus personagens, é uma trama bem mais amadurecida.

Com quase todos os volumes dos quadrinhos originais adaptados para a série, Heartstopper está chegando ao fim com a sua penúltima temporada, ou pelo menos é o que espera a autora Alice Oseman, que compartilhou no seu Patreon sua preocupação em desejar muito uma quarta temporada da série para dar à história de Nick e Charlie e todos seus amigos um “final adequado”. A autora participou ativamente da produção das 3 temporadas da série, o que permitiu uma ótima fidelidade aos quadrinhos, mas também uma liberdade criativa nas alterações que foram autorizadas pela própria, e nessa terceira temporada tivemos várias delas. Por questões contratuais, a atriz Olivia Colman, que interpretou a mãe do Nick na primeira temporada, não participou da segunda e nem da terceira, e apesar de não ter feito tanta falta na segunda temporada, agora na terceira seu papel, que tem uma grande importância, deu lugar à atriz Hayley Atwell, dando vida a Diane, a tia de Nick que também é uma terapeuta, e que ajuda o Nick a lidar com a situação do Charlie de uma forma adequada, servindo inclusive de exemplo para a audiência mais jovem da série. 

Nessa nova temporada, há um foco para questões de saúde mental, princialmente nas questões com Charlie, mas isso também é bastante explorado com os outros personagens. Ao contrário dos quadrinhos, a série se estende bastante, tendo um episódio inteiro para falar da experiência de Charlie com o seu tratamento, o que na verdade torna-se bastante positivo. Ao mostrar a jornada de Charlie em lidar com seu transtorno alimentar, de uma forma não romantizada, isso pode ajudar também a quem assiste de procurar ajuda, até porque a série enfatiza diversas vezes como a jornada não é fácil e que o tratamento da saúde mental, independente de qual questão que esteja lidando, deve ser constante. As questões de saúde mental são tão bem trabalhadas que isso também passa para o resto do elenco, já que Tara e Nick são as pessoas que estão ajudando seus parceiros a lidarem com seus problemas, mas que eles mesmos também precisam de apoio. 

Heartstopper também se mostra uma série consciente da sua plataforma ao ponto de tocar em assuntos sensíveis e políticos. A série, que se passa no Reino Unido, faz questão de tocar no assunto sobre direitos de pessoas trans, para além dos seus próprios personagens que se identificam como trans, trazendo críticas aos grupos que se dizem feministas mas continuam pregando a exclusão desse grupo minoritário, e que apesar de um momento sutil, foi um momento importantíssimo para além da série. E justamente por ser engajada politicamente, a autora Alice Oseman, que mantém uma ótima relação com os atores, permitiu uma mudança que também trouxe muita representatividade nessa nova temporada. Os fãs já haviam especulado uma mudança de narrativa com a personagem Darcy, interpretado pelo ator transmaculino Kizzy Edgel, e que nessa temporada houveram mudanças que deixaram muitos fãs animados. Outro personagem que seguiu os passos de Darcy foi Isaac, agora com várias falas e uma personalidade mais marcante, o personagem interpretado por Tobie Donovan se assume com todas as letras como Arromântico e Assexual após dar dicas de sua assexualidade na temporada passada. Esse é um passo importante para Isaac, que se mostra mais participativo na trama, assim como mostra as dificuldades de se assumir AroAce para seu grupo de amigos e lidar em ser o único sem um relacionamento, mas também representa bem como pessoas assexuais também podem falar sobre assuntos como relacionamento e sexo sem se sentir desconfortáveis.

Outra questão de amadurecimento de Heartstopper é a inclusão de temas mais adultos na sua trama. Os personagens adolescentes que estão passando por diversas descobertas de suas sexualidades agora podem dar um passo a mais em suas relações. A série se mostra super delicada em tratar de assuntos sexuais para adolescentes, mostrando a importância de uma sexo seguro, mas ao mesmo tempo de reforçar que para tudo há o seu tempo, assim como na primeira temporada onde o tema principal era o tempo de sair do armário como LGBTQ+, agora a série fala sobre estar pronto e confortável para ter a sua primeira vez, e que está tudo bem não se sentir pronto para tomar um passo tão importante. Além disso, o tema do corpo é muito bem retratado nessa nova temporada, falando desde dismorfia corporal até sobre disforia corporal, sempre de uma forma leve e fácil de entender.

A terceira temporada de Heartstopper nos alerta sobre a importância de cuidar da nossa saúde mental e que está tudo bem procurar e receber ajuda. A série ganha muitos pontos em falar sobre o assunto de forma descomplicada e sem romantizações, fazendo um tema tão pesado e complicado de se lidar ser retratado de uma maneira humana e que pode vir a ajudar diversos jovens passando por problemas de saúde mental. Além disso, o roteiro segue surpreendendo mesmo aos fãs dos quadrinhos, com reviravoltas principalmente para o elenco secundário, visto que o desenvolvimento dos personagens fora do núcleo principal segue sendo um importante aspecto da série desde a segunda temporada. Além disso, Heartstopper também não tem medo de tocar em assuntos políticos, como a pauta trans que segue sendo debatida no Reino Unido por grupos conservadores, mas também por representar outras identidades da comunidade LGBTQ+, em especial a comunidade arromântica e assexual.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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