Nota
“Que mal pode acontecer? Que tal uma inexplicável epidemia de zumbis?”
Olivia Moore era apenas uma residente de medicina doce, disciplinada e dedicada antes de acompanhar sua amiga a uma festa, foi então que ela morreu e depois ressuscitou… Como um zumbi. Liv precisou reestruturar toda a sua vida para se adaptar a sua nova condição, o que a fez passar a trabalhar com Ravi num necrotério, onde consegue pegar cérebro dos mortos para se alimentar, acabar seu noivado dos sonhos com Major e suportar toda a pressão que passa a viver de sua colega de quarto, Peyton, e sua mãe, tudo isso enquanto lida com a descoberta dos planos escusos de Blaine, o outro único zumbi que parece existir e também o que a infectou, e com seu novo trabalho ao lado de Clive Babineaux, um policial da divisão pra qual o necrotério trabalha, que acha que ela é uma vidente ao perceber que ela tem visões sobre os mortos, sem saber que isso é um efeito colateral de comer cérebro.
Muito rasamente inspirado nas HQs de Chris Roberson, a série da CW cria um universo completamente independente para uma personagem completamente original criada por Rob Thomas e Diane Ruggiero-Wright. Liv é completamente diferente da Gwen das HQs, tendo apenas algumas rasas semelhanças em sua base. A série aproveitou a ideia de usar o trabalho para se alimentar, já que nas HQs a protagonista é uma coveira, mas tornou tudo muito mais sofisticado no show, mantendo a ideia de a protagonista absorver memórias e traços da personalidade do dono do cérebro. Enquanto nas HQs Gwen luta contra as forças do submundo, na série tudo se tornou mais realista e vemos Liv resolvendo crimes ao lado de Babineaux, em paralelo temos a criação de tantos outros personagens que só tornam ainda mais complexa a personalidade da personagem.
Interpretada brilhantemente por Rose McIver, Liv é complexa, cheia de camadas e multifacetada, vemos a personagem seguir se transformando a cada episódio, com suas relações pessoais sendo afetadas pelos efeitos dos cérebros que consome, ao mesmo tempo que a atriz consegue construir múltiplos núcleos. Liv tem o núcleo policial, ao lado do Babineaux de Malcolm Goodwin, que nos faz viajar pelo ‘caso da semana’ de uma forma leve ao mesmo tempo que temos o personagem de Malcolm sendo explorado, dissecado e projetado, fortalecendo a relação entre o homem e a zumbi de uma forma divertida. Liv tem o núcleo cientifico, ao lado do Ravi de Rahul Kohli, onde vemos uma busca por entender o que causou a infecção zumbi e a busca pela cura, e somos levado a nos apaixonar pelo carismático médico britânico, que tem muito a adicionar à série e evolui de uma forma indescritível ao lado de Liv.
Há ainda o núcleo sobrenatural, ao lado do Blaine de David Anders, onde vemos Liv ter que lidar com o traiçoeiro zumbi, com seus crimes e com as novas pistas que surgem sobre o que aconteceu no barco. Por fim temos o núcleo pessoal, que Rose divide com Robert Buckley e Aly Michalka, onde vemos tudo que mudou na vida da mulher durante os cinco meses que se passaram desde o incidente ao mesmo tempo que precisamos lidar com o namorado perfeito e a amiga perfeita que precisam ser afastados pelo medo da zumbi, os riscos são altos, mas o que fazer quando o coração pede o contrário de distancia? A relação de Liv e Major é a perfeita definição de perfeição imperfeita, há uma química clara, é impossível não shippar, mas fica claro o perigo que pode ser para Liv manter uma relação com um humano, fora que vários eventos da série começam a complicar ainda mais essa situação. A relação de Liv e Peyton é fluida, a amizade entre elas é surreal, fica clara a cumplicidade que ali existe e fica claro o quanto doeria para Liv perder tudo por conta de seu segredo, o que torna a relação delas ainda mais complexa.
Apesar de ser um material completamente independente de sua base, a série ainda faz homenagens ao universo das HQs, com direito a uma abertura toda desenhada feita por Michael Allred, o desenhista da HQ original, e episódios divididos em partes, como se cada episódios fosse uma edição e cada bloco fosse um capitulo dessa HQ. Com uma construção original e cativante, iZombie consegue extrapolar o universo das HQs e se arrisca ao criar um material completamente desapegado de sua base, acertando no alvo ao criar uma trama inédita que consegue se sustentar em si mesmo e expandir uma mitologia própria, arrasando com personagens criados exclusivamente para o show e que nos aprensentam tantas camadas que tornam a atmosfera ainda mais envolvente. Indo contra a correnteza, a adaptação nada fiel acaba sendo tão gostosa quando a trama original, nos apresentando um novo ponto de vista para a vida de Gwen na forma de Liv, dando um ar mais elegante à zumbi e dando uma pegada menos fantástica ao show, embarcando na moda das séries policiais e dando seu tempero próprio (com muita pimenta e cérebros).
“Agora eu vivo sentindo fome… Ah, e sou um zumbi.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.