Nota
Depois que Rendell Locke é assassinado, Nina e seus filhos, Tyler, Kinsey e Bode, se mudam para Keyhouse, a mansão da família Locke, mas a casa guarda segredos do passado dos Locke, entre eles, um grupo de chaves magicas que fornece certos poderes ao serem usadas. Agora cabe aos três filhos de Rendell assumir o legado do pai e proteger as chaves de um mal antigo que ressurge no momento que eles voltam: a Moça do Poço. Será que os garotos são capazes de dar conta de uma nova vida, conseguir novos amigos e ainda serem responsáveis por lutar contra esse ser misterioso?
Baseado nos HQs criados por Joe Hill, a série adaptada para a Netflix por Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite consegue pegar todo o terror da trama de Hill e conduzir, vagarosamente, para uma nova roupagem de fantasia, usando toda a magia da Keyhouse para nos impressionar mais do que assustar. Com apenas dez episódios, a série busca adaptar vagamente os cinco primeiros volumes dos quadrinhos (somando trinta edições), tendo inclusive o seu piloto roteirizado por Joe Hill. A trama, que possui algumas diferenças do material original, nos brinda com uma excelente atuação de Laysla de Oliveira, a atriz brasileira que vive magistralmente o papel de Dodge, nos deixando orgulhosos de sua presença na série. Tudo fica ainda mais interessante a medida que a série vai se desenvolvendo e conhecemos Lucas e a terceira aparência assumida por Dodge, que se inspira em Zach Wells mas surge como um novo personagem, garantindo que mesmo quem leu as HQs sejam surpreendidos quando a pessoa se revela ser Dodge.
Seguindo com pequenas diferenças, a série mostra ser capaz de assumir sua identidade própria, fazendo mudanças sutis que não são capazes de desagradar os fãs (a não ser a mudança do nome da cidade de Lovecraft para Matheson) mas errando em uma mudança crucial do enredo: Nina Locke. Nas HQs, temos uma enorme evolução da mãe dos Locke enquanto luta contra o alcoolismo, vivendo plenamente o vicio e todo o sofrimento para larga-lo, uma evolução que é dispensada na série, onde o alcoolismo de Nina é praticamente deixado de lado e só chega ao plano principal em um episódio, onde vemos ela passar por uma queda e ascensão tão rápida que mal dá pra sentir. O show ainda expande o universo que existia nas HQs e cria chaves originais, dispensando algumas das que surgem nas HQs e dando a entender que elas podem estar ainda escondidas pela Keyhouse, além de pegar as chaves Do Gênero e Da Pele, citadas nas HQs, e amalgamar na Chave da Identidade, na série.
No decorrer da série, vamos vendo aos poucos o crescimento do potencial dos personagens de Connor Jessup e Emilia Jones, que surgem como dois dos protagonistas, mas parecem não conseguir desenvolver todos as camadas dramáticas que rondam a vida de um adolescente americano, e acabam se perdendo rapidamente nas tramas místicas que circundam a Keyhouse, algo um tanto confuso, considerando o longo currículo dos atores, que nos dá uma expectativa de uma atuação muito mais fluida e dinâmica.
Por outro lado, entre os irmãos Locke, quem rouba a cena é Jackson Robert Scott, que mostra estar afiado depois de protagonizar Maligno e de ter dado um show como o Georgie de It e It 2, e agora vive o corajoso Bode Locke, o caçula da família que se mostra um guerreiro desde o primeiro episódio, evoluindo magistralmente e sempre batendo de frente com a Moça do Poço, mesmo quando é descoberto suas origens poderosas, mostrando-se o mais esperto entre os irmãos e o mais decido, nos fazendo concluir que ele e Laysla seriam capazes de, sozinhos, carregar o show.
No decorrer da série vamos vendo que os produtores escolheram focar na atual geração dos Locke, deixando aberto muito da trama ancestral para ser explorado mais adiante, caso seja necessário, por outro lado, a trama também optou por mudar alguns fatos, dando uma ar mais inesperado a trama, que era pouco a pouco alterada até o momento que, em sua season finale, a série conseguiu trazer um plot twist totalmente inesperado, seguindo um caminho previsível para logo depois nos mostrar que, ainda assim, era possivel nos surpreender. A série conclui deixando um gancho para uma futura temporada e uma dúvida sobre como tudo pode seguir a partir de agora, tendo tanto material que pode ser adaptado e ao mesmo tendo uma base tão solida que possibilita a série a expandir seu universo ao mesmo tempo que criar uma trama totalmente nova seguindo a mitologia que existe nas HQs e levando a um novo destino.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.