Nota
“A gente acha que sabe de tudo só por que aprendeu a usar algumas chaves, mas ainda tem muita coisa que a gente não sabe.”
Os irmãos Locke seguem suas vidas normalmente agora que acreditam ter exterminado Dodge completamente, eles tentam param de buscar entender melhor as chaves e começam a se acomodar aos seus poderes, menos Bode. O caçula do trio segue sua investigação, mesmo sendo desencorajado e menosprezado pelos irmãos, o que o leva a descobrir a Chave de Hércules e mais pistas sobre o passado da casa e da família. Ao mesmo tempo, Tyler precisa enfrentar um novo inimigo: o tempo, o Locke mais começa a perder que as memórias sobre magia e as chaves começam a sumir na sua namorada, Jackie, poucas semanas antes do seu aniversario de 18 anos, o que significa que dentro de alguns meses o mesmo vai acontecer com ele, e ele precisa achar uma forma de impedir que isso possa acontecer. Kinsey por outro lado enfrenta problemas menores, ela volta a ficar em dúvida entre Gabe e Scott, quem ela realmente ama? Tudo isso entra em turbilhão ao mesmo tempo que Gabe, que já sabemos ser a nova identidade de Dodge, está avançando no seu plano de tirar as chaves do Locke, sempre contando com a ajuda da incontrolável Eden, que há poucos meses foi possuída por um dos ‘demônios’ da dimensão por trás da Porta Preta.
Quase dois anos se passaram desde o fim da primeira temporada de Locke & Key, o que fez com que a expectativa estivesse a mil. Baseado na franquia de quadrinhos de Joe Hill, a série tinha um grande problema ao escolher pular muitas partes da história e adaptar Alpha & Omega ainda em sua primeira temporada, chegando aos eventos finais e deixando pouquíssimo material para uma segunda temporada, mas eis que a série criada por Carlton Cuse, Meredith Averill e Aron Eli Coleite nos surpreende e consegue desenvolver um enredo rico para seu segundo ano usando apenas as brechas deixadas em seu primeiro ano e no material ignorado. Se a primeira temporada deixou os protagonistas prestes a derrotar Dodge, a segunda temporada aproveita que Dodge não foi derrota e volta diretamente para os eventos de Keys to the Kingdom, colocando Gabe para seguir uma trilha livremente inspirada no comportamento de Zach, expandindo ainda mais as possibilidades da série, a temporada se aproveita do universo criado por Hill nas HQs e cria tramas originais que se baseiam nas consequências dos eventos das HQs extras.
Se a série tinha um problema nas mãos quando acelerou sua adaptação, o segundo ano teve uma excelente sacada quando resolveu criar um enredo completamente original baseado nos eventos em aberto do primeiro ano e usa-los como muleta para expandir a trama através das pendencias adaptativas, deixando até brechas que permitem uma futura série spin-off explorando a saga Golden Age, das HQs. Apesar de enfrentar um pouco de problema quando introduz Brian Rogan, o namorado de Duncan Locke, depois de ter pulado todo o arco que nos mostra a descoberta da sexualidade de Duncan, a série consegue entrar nos eixos e ainda introduzir novos personagens originais que engrandecem a trama, andando em paralelo com arcos importantes que ganham uma nova roupagem para se encaixar na linha temporal da série. Os protagonistas Jackson Robert Scott, Connor Jessup e Emilia Jones voltam num ritmo um pouco mais lento, deixando todo o brilho que Scott teve na primeira temporada de lado e desenvolvendo dilemas que não evoluem muito bem os personagens de Jessup e Jones, por outro lado o foco em Griffin Gluck aumenta, o que acaba deixando Laysla de Oliveira com muito menos tempo de tela e desperdiça mais um dos destaques do ano anterior por motivos desconhecidos. A trama introduzida por Josh Bennett, personagem vivido por Brendan Hines, ajuda ainda mais a nos levar diretamente para o passado de Lovecraft, nos mostrando sobre a origem das chaves, sobre Benjamin Locke, sobre a origem da Chave Ômega, sobre o Ferro Susurrante e vários outros eventos que envolveram a cidade após 1775.
Mais madura e dramática, a segunda temporada de Locke & Key se parece muito mais uma busca pelo alinhamento da trama adaptado do que realmente como uma continuação da série. Os enredos e personagens acabam não evoluindo muito, mas em contraponto a riqueza por trás dos dez episódios de cerca de 50 minutos é a informação, a série começa a se aprofundar nos detalhes essenciais para a conclusão do seu arco e vai, vagarosamente, pintando a tela com os eventos necessários para criar sua season finale, que acerta no tom épico e emana uma energia que nos conecta ainda mais com a trama. O problema da temporada, infelizmente, surge na fome por mais, quando os roteiros se empenham em criar um desenrolar completamente original só para justificar uma terceira temporada que, em meio a tanta riqueza mitológica dos quadrinhos de Hill, soa completamente dispensável. O show encontra sua maior fraqueza em sua falta de urgência e na falta de peso dos acontecimentos, esquecendo muitos detalhes importantes da mitologia que poderiam abrir portas, enriquecer o roteiro e deixar uma expectativa muito mais forte para criar uma terceira temporada com maior potencial.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.