Nota
“O problema, senhoras e senhores, é que o seu avião saiu da Baía de Montego, na Jamaica, no dia 7 de Abril de 2013… E hoje é dia 4 de Novembro de 2018.”
Quando a família Stone estava no aeroporto de Montego, uma rápida manobra precisou ser feita para garantir a chegada de todos a Nova Iorque, separando-os. Enquanto Grace, Olive, Steve e Karen viajaram em um voo, Michaela, Benjamin e Cal precisaram pegar o voo 828 da Montego Air, um voo que aparentemente teve uma viajem normal, passando por uma turbulência comum e pousando após apenas três horas. O problema é que, para surpresa de todos, o que pareceu ser apenas três horas para quem estava dentro do avião, durou cinco anos e meio para o mundo, e todos os passageiros do avião precisam entender como viver ao mesmo tempo que precisam lidar com novos e poderosos mistérios.
A série dramática criada por Jeff Rake para a NBC parece inicialmente ser apenas um suspense básico, mas aos poucos eles vai nos envolvendo e nos afundando em suas pitadas de mistério sobrenatural e ficção cientifica, ao mesmo tempo que anda paralelamente com uma aventura policial cheia de ramificações e segredos. Logo de cara temos que aprender a lidar com os ‘Chamados‘, uma série de sensações, visões e experiencias que os passageiros do voo 828 passam a ter, que os incube de missões e salvamentos, que os faz proteger uns aos outros, e que coloca cada um deles, principalmente os três Stone’s, em um perigo atrás do outro. Cheio de traços de uma caçada pela vida, com uma poderosa trama envolvendo conspirações e experiencias governamentais, o show nos agrada de uma forma envolvente que, de certa forma, nos coloca no posto de um dos passageiros do voo 828, tentando entender tudo que há por trás do fenômeno que os atingiu.
Brincando com a realidade, explorando mais fundo a mentalidade humana, e projetando o plot através dos chamados, a série parece nos levar a uma nova forma de “vilão da semana”, mostrando que os chamados tem uma razão de existir e tem um motivo para acontecer gradativamente, um por vez, um por episódio, alavancando a trama em um ritmo ideal para seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo que buscamos entender o sentido dos chamados, somos levados a uma intensa investigação para entender o que realmente aconteceu com os passageiros do voo, quem está por trás da organização que sequestrou alguns dos passageiros para experiencias secretas, o que significa O Graal, por que os poderes de Cal são diferentes do resto das pessoas, quem é A Major, entre tantos outros mistérios que a série joga na nossa cara e nos deixa buscando achar a solução.
Os trabalhos de Josh Dallas (Ben) e Melissa Roxburgh (Mick) são os grandes destaques da trama, são eles que guiam praticamente toda a trama, com o excelente suporte de Parveen Kaur, que no papel de Saanvi Bahl dá um novo contraponto à trama. Saanvi é a medica que fez uma descoberta cientifica antes de entrar no avião e que retornou com avanços suficientes para que sua pesquisa pudesse ser usada em humanos, um novo tratamento para o câncer que acaba sendo a esperança para curar a leucemia de Cal, que era incurável em 2013 e, graças a Saanvi, é tratável em 2018. Ela surge como a fonte cientifica nas investigações de Ben e Mick, apesar de ter ser uma das protagonistas da subtrama que envolve a doença de Cal, essa subtrama acaba esquecida no decorrer da série e se finaliza sem nenhuma explicação.
Por falar em Cal, Jack Messina é outra grata surpresa do elenco, o jovem menino consegue absorver todas as características demandadas ao seu personagem, ele consegue ser o doente terminal, consegue ser o jovem frágil, consegue ser a criança arrepiante, consegue ser o gêmeo perdido no tempo, consegue ser o poderoso passageiro do 828, consegue ser o mais sábio entre os Stone, entre tantas outras demandas que ele agarra e expõe habilmente. Toda a trama fica ainda mais envolvente quando presenciamos os traumáticos dilemas que envolvem a relação entre Ben, Grace e Danny, assim como o intenso clima que ameaça o casamento de Jared e Lourdes quando Mick (noiva de Jared em 2013) reaparece e acaba sendo reintegrada à policia como sua parceira. O tempo pode ter passado para aqueles que não estavam no voo, mas junto com a ‘ressurreição’ dos passageiros, temos que ver a ressurreição de vários sentimentos capazes de deixar a vida dos que não estavam no voo de cabeça para baixo.
Manifest tinha tudo para ser uma série estupenda, ela se constrói bem, traz uma premissa interessante, tem subtramas bem latentes, mas se prejudica por não saber onde focar, se diversificando tanto em sua primeira temporada que chega a largar algumas subtramas essenciais durante seu decorrer, esquecendo sobre a leucemia de Cal ou deixando de lado a história dos passageiros sequestrados, criando novas tramas que acabam se alongando durante os dezesseis episodios de cerca de 40 minutos. O problema de criar muitas tramas vai piorando o desenrolar da série, que mesmo assim consegue sustentar o interesse do público ao mesmo tempo que revolta pelas tramas mal finalizadas, o que deixa um enorme buraco aberto para tentar começar a ser resolvido numa vindoura segunda temporada ao lado de cliffangers enormes e uma mitologia densa e obscura, que consegue extrapolar o 828 e se tornar cada episódio mais complexa e intrigante. Perguntas não faltam, talvez essa seja a grande falha da temporada, a falta de respostas, mas ao mesmo tempo se torna a maior base para uma nova temporada, se é que o show vai conseguir sustentar tantas perguntas sem resposta por muito tempo enquanto cria tantas outras.
“Engraçado como uma pequena decisão pode arruinar sua vida, mas também salva-la”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.