Review | Mundo Mistério [Season 1]

Nota
4

“Quanto mais evoluída a civilização, mais rápido ela evolui.”

Num bate-papo que quebra a quarta parede, Felipe Castanhari apresenta um programa que explora os mistérios da ciência e da história para provar que aprender pode ser divertido, tudo isso ao lado da sua expert em toda espécie de ciência, a Doutora Tayana (Lilian Regina), seu desastrado zelador, Betinho (Bruno Miranda) e sua avançadíssima inteligencia artificial, B.R.I.G.G.S. (Guilherme Briggs), ou Brazilian Image and Graphic Generation System, dando uma verdadeira aula sobre os mistérios do mundo enquanto nos leva  a uma viagem pelo tempo e pelos diversos cenários que existem em nosso planeta.

Lançado pela Netflix em 4 de agosto de 2020, a série educacional brasileira criada pelo youtuber Felipe Castanhari parece uma evolução do que já estávamos acostumados a ver no Canal Nostalgia, criado e comandado por Castanhari no Youtube, deixando um pouco de lado a parte mais nerd de seus conteúdos e indo cada vez mais fundos em assuntos sérios de verdade, nos guiando por um papo bem descontraído enquanto debate sobre alguns dos mistérios mais intrigantes da humanidade. Com oito episódios de cerca de 25 minutos, a série fala sobre os desaparecimentos no Triângulo das Bermudas, sobre as 20 milhões de mortes durante a Peste bubônica, sobre todos os dilemas que envolvem uma viagem no tempo, sobre a história por trás da evolução do lobo até se tornar um cão, sobre a possibilidade de acontecer um apocalipse zumbi, sobre as catástrofes naturais que desencadearam o fim da Pangeia e a possibilidade de uma grande extinção da vida na terra, sobre os avanços na busca pela Superinteligência Artificial, e sobre as grandes teorias que cercam o Aquecimento Global. É indescritível o quanto “Os 20 milhões de mortos da Grande Peste” (episódio 2) se encaixa perfeitamente no momento de lançamento da série, nos levando a refletir sobre uma pandemia do passado e entender mais a fundo sobre o que estamos vivendo atualmente, o episódio cai como uma luva mesmo que tenha sido feito sem essa pretensão, nos levando a ver as causas, efeitos e precauções que envolveram a pandemia de Peste Bubônica, e nos levando a sentir mais claramente a realidade por trás da pandemia que estamos enfrentando atualmente.

Com apenas quatro pessoas no elenco, a série consegue erigir quatro grandes pilares que guiam toda a série. Castanhari é um simples narrador, ele mantêm a dinâmica do show ao conversar com o publico e os outros integrantes da sua equipe, ele é basicamente como um jornalista que vai guiando as informações ou um mediador que vai controlando o rumo de cada um dos temas. B.R.I.G.G.S. surge como principal fonte técnica do show, ele esclarece informações mais precisas e históricas, sendo a representação das pesquisas do Google que todo show cientifico necessita para se elucidar e se tornar inquestionável, sendo a parte ‘chata’ do show ao mesmo tempo que torna ela muito mais empolgante, algo que só uma lenda da dublagem brasileira, como o próprio Briggs, seria capaz de fazer. Tay surge como a professora legal, apresentando as informações mais biológicas e experimentais, dando uma personalidade mais cativante aos dados que surgem como uma curiosidade para o público, fica claro o quanto isso tudo se deve ao enorme carisma de Lilian, que marca a representatividade na série ao ser mulher e negra, além de ser mostrada como a maior autoridade dentro da equipe. Já Betinho surge com as duas principais funções do show: o representante do publico e o alivio cômico. Betinho, ou Adalberto, está fazendo supletivo, e por isso ele está avido por entender mais a fundo cada uma das coisas que seus amigos apresentam, ele representa o público quando faz perguntas aos seus companheiros, extraindo mais informações a cada episódio, ao mesmo tempo ele tem a função de divertir ao ser meio abobalhado, fazendo perguntas engraçadas ou proferindo falas que nos deixa com um sorriso no rosto, o que torna a série ainda mais divertida e, consequentemente, quebram o clima técnico (que pode torna-la chata e tediosa).

Com claras inspirações em Mundo de Beakman (o que foi admitido até pelo próprio Castanhari) e uma vibe bem Telecurso 2000 (como uma das piadas da série cita), a série criada pelo youtuber vem gerando polêmicas desde antes de seu lançamento, com acadêmicos criticando o fato de termos atores e youtubers a frente do programa, o que poderia fazer o programa perder seu potencial de entretenimento com fins educativos por só ter pessoas que não possuem formação acadêmica nas áreas tratadas, com potencial de conter imprecisões históricas e científicas ou até gerar desinformação e desvalorização da vida acadêmica em prol da supervalorização da audiência. O programa acabou sendo uma evolução do Nostalgia Ciência, quadro que já existe no canal de Castanhari, onde vemos roteiros representando estudos dos cientistas dos bastidores mas nunca vemos os cientistas em tela para validar as informações, o que nos leva a questionar até onde o tom didático e lúdico, que dispensa uma narrativa densa de séries documentais, é realmente mais relevante quando estamos tratando de uma série onde os cientistas deveriam ter maior destaque. Claro que não se pode deixar de elogiar o excelente trabalho de Castanhari, que participou da direção, do roteiro, da produção, da pesquisa e até da montagem do cenário para a série, colocando o mão na massa para garantir que o show seria o ideal para seu público fiel e para os novos espectadores que vier a conquistar, dando ainda um maravilhoso presente ao seu público com a participação de Wendel Bezerra como uma importante figura para a trama.

“Será que nossa sociedade vai conseguir acompanhar essa evolução?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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