Review | Nada Suspeitos [Season 1]

Nota
3

“Sejam bem vindos à residência de Jorginho Peixoto”

Jorginho Peixoto é um playboy extremamente excentrico, ele então decide enviar três convites incomuns para três mulheres de grande importancia em sua vida, iniciando uma problemática reunião na mansão do playboy que as enganou. Bete Oliveira é a ex-mulher de Jorginho e a mãe de Yara, filha única do playboy, atualmente ela vive no suburbio com sua mãe, Zanina, e seu irmão, Áquila, trio que ela leva para mansão ao receber o convite onde reencontra seu ex-marido e seu irmão, Darlison, que há anos abandonou a familia para viver como braço direito de Jorginho. Patrícia Paranhos Peixoto é a atual esposa de Jorginho, com quem está em processo de divórcio, ela é irmã do atual advogado de Jorginho, Maurício, e ao receber o convite resolve participar da reunião levando ao seu lado sua pessoa de maior confiança, Xandra Zannarah, que é sua professora de ioga, astróloga, numeróloga, taróloga, xamanista, quiromancista e halterofilista. Thyellen Almeida é uma tímida garota do suburbio que dedica sua vida à igreja, ela é a atual namorada de Jorginho e não sabe sobre as outras duas mulheres de sua vida, ao ser surpreendida pelo convite ela decide ir para mansão acompanhada de seu irmão, Raul, um típico exemplar da classe pobre brasileira. Enquanto buscam respostas, as mulheres acabam envolvidas em uma investigação criminal quando Jorginho acaba aparecendo morto. Agora, sob a lente investigativa do atrapalhado Detetive Charles, a esposa, a ex-mulher e a amante de Jorginho, junto com seus familiares, precisam conviver, o que gera inumeras confusões e trapalhadas.

Desenvolvida por César Rodrigues e Leandro Soares, dupla conhecida pela criação do seriado Vai que Cola para o Multishow, e com roteiro da dupla junto com César Amorim e Pedro Tomé, a comédia brasileira da Netflix parece uma tentativa de embarcar na tendencia revitalizada de tramas policiais com pitadas de comédia que se fortaleceram com o sucesso de Entre Facas e Segredos e que estão bombando nos cinemas após Assassinato no Expresso do OrienteMorte no Nilo, mas será que uma trama de mistério regada de comédia e um clima de parodia brasileira realmente pode se encaixar nesse nicho exportado? É impossivel não enxergar referencias e inspirações às tramas de Agatha Christie nesse gênero, mas também é um grande desafio conseguir pegar um estilo tão bem estabelecido e aclimatizar ao estilo de comédia que só os brasileiros sao capazes de entender, onde drama familiar, embate de classes e relações extraconjugais são fonte de piadas infinitas.

Com um elenco imenso e cheio de nomes de peso como Marcelo Médici, Fernanda Paes Leme, GKay, Rômulo Arantes Neto, Cezar Maracujá, Dhu Moraes, Thati Lopes e Silvero Pereira, o show pode até ter uma profusão de cenas carismaticas, piadas divertidas e uma quimica divertida, mas se perde por conta de seu roteiro arriscado. O detetive interpretado por Médici é um dos maiores focos do desastre da série, já que ele seria o ponto chave para fazer toda a trama funcionar, mas acaba se mostrando um personagem caricato até demais, o que causa um desconforto no espectador pela forma como o responsavel por catalisar o roteiro se parece tão incompetente, o que acaba deixando nas costas da Yara de Gi Uzêda as revelações chave. As piadas de GKay podem até ser bem planejadas, mas sua personagem parece forçada dentro da trama, não se encaixando bem na dinamica do grupo e várias vezes soando dispensavel, como se tivesse sido criada só para encher salsicha. FePa apresenta um humor mais contido, clássico da atriz que encarna uma patricinha maquiavelica, que só pensa no dinheiro e está disposta a tudo para não perder a herança. Arantes Neto e Dhu acabam ficando muito mais como apoio para as piadas da produção do que realmente tendo destaque em tela, fortalecendo os plots de FePa e de Maíra Azevedo (Bete), e dando mais espaço para a dinamica cartunesca de Maracujá e Lopes engrandecer, já que a dupla trás umas série de cenas mais esquetezadas, garantindo um humor pontual e eficiente. O humor clichê de Silvero é outro ponto alto da trama, no papel do tipico gay escandaloso e fofoqueiro ele brinca com as situações.

Superficial e arrastada, Nada Suspeitos parece não saber que rumo tomar em diversos momentos, é como se tivessemos uma série com uma proposta fechada sendo construida com a linguagem descompromissada que fez sucesso em Vai que Cola. A série propõe uma história com inicio, meio e fim, mas cada episódio parece querer contar uma história limitada a si mesmo, que não precise ser assistido numa ordem especifica e nem tenha um compromisso restrito a um mega plot, assim como Rodrigo Sant’Anna fez com a primeira temporada de A Sogra que te Pariu, o problema é que essa linguagem vai num caminho oposto à premissa que a série entrega, fazendo com que uma linguagem que dá certo numa trama mais aberta seja combinada com uma trama mais fechada que poderia dar certo se executada com uma linguagem mais controlada. O humor, que oscila o tempo todo entre o físico, ingenua, tosco e referencial, funciona bastante quando considerado isoladamente, mas infelizmente não colabora com o roteiro e muito menos com a trama geral, o que só ajuda a enfraquecer o trabalho do elenco, que se mostra esforçado e dedicado. Durante os nove episódios de cerca de 30 minutos, tudo parece mais importante do que realmente solucionar o whodunnit da trama, numa situação onde todos são suspeitos os personagens parecem não ter nenhum senso de perigo e as relação parecem superficiais e desinteressantes demais.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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