Nota
Estamos em A.D. 2015, Shinji Ikari acabou de chegar ao distrito de Tokai e teve o grande azar de chegar justamente no momento em que um anjo surge, nas cidades de Kanto e Chubu, algo que não acontecia a cerca de 15 anos. O garoto é recebido por Misato Katsuragi, uma das funcionárias da NERV, uma organização secreta sob controle da ONU liderada pelo pai do garoto, Gendoh Ikari. Durante o ataque, da entidade gigante que se mostra inatingível pelas armas da ONU e está em direção de Tokyo-3, é dado ao Sr Ikari a autonomia para liberar a ofensiva contra o monstro, e é dentro da NERV que está a grande arma secreta: os EVA.
Lançada em 4 de outubro de 1995, Neon Genesis Evangelion se ambienta num vindouro apocalipse que aconteceu no ano 2000, que na época era considerado o fim do planeta terra, um evento batizado de Segundo Impacto, que culminou com a chegada dos anjos na terra e a morte de dois milhões de seres humanos, submergindo boa parte do planeta. Os sobreviventes passaram por uma paz sem igual após isso, sendo abrigados pelas forças da O.N.U. em abrigos, protegidos por tropas e batalhões armados com mísseis prontos para um novo ataque, mas quinze anos se passaram e a população já não esperava um novo ataque, até que ele aconteceu. Os Anjos voltaram…
O anime, baseado na série de mangás de Yoshiyuki Sadamoto, trás uma nova roupagem para as definições de apocalipse, e criação da terra, que todos temos, jogando bastante com toda a angeologia existente. Aos poucos vamos entendendo a mitologia de Evangelion, sobre as unidades EVA, as crianças que a ativam e os anjos e sobre o poder que cada um possui. É nessa situação que Shinji descobre ser a Terceira Criança, predestinado a controlar o EVA-01, e conhece Rei Ayanami, a piloto do EVA-00 e a Primeira Criança. O anime faz de tudo para sermos obrigados a entender todo o plano de fundo e fatos pregressos logo em seu piloto, o que nos deixa prontos para encarar os 25 episódios seguintes cheios de curiosidade e prontos para ver o destino da humanidade.
O show parece explorar muito a personalidade, traumas e o a mente de cada personagem, mesmo que esse seja um anime do gênero mecha, que deveria focar muito mais na luta. Shinji é um garoto sofrido, vulnerável e ao mesmo tempo empático, o que o prejudica ainda mais já que possui um pai frio, calculista e sem coração; Por outro lado temos em Misato o alivio na relação, a executiva é séria, sendo rígida com Shinji durante a ação, mas que mostra ter um lado descontraído, preocupado e irresponsável por trás, assumindo quase que um papel materno com o garoto. Asuka Langley Soryu, a Segunda Criança e piloto do EVA-02, é egoísta e prepotente, mas aos poucos vamos vendo seu coração, vendo seus sentimentos e nos apegando a ela; já Rei é misteriosa, calada e ao mesmo tempo cheia de segredos, sendo a piloto mais cheia de camadas.
O trabalho feito por Hideaki Anno, em nome da GAINAX e da Tatsunoko, durante os 26 episódios da temporada, foi exemplar, a edição toma forma aos poucos e vamos conhecendo cada personagem e sentindo tudo que passa na mente dele, sentimos a dolorosa submissão de Rei, sentimos a intensa frustração de Shinji, sentimos a gigantesca necessidade de aprovação de Asuka, sentimos a interminável cobiça de Gendoh e sentimos a ininterrupta esperança de Misato nas crianças, tudo isso ainda é temperado com a incomoda tensão sexual entre Shinji e Asuka, que se contrastam com a timidez do garoto e o pudor da garota (ou falso pudor). O maior problema do show é o fato de a luta sucessiva contra anjos começar a se torna-lo cansativo, e isso começa a acontecer justamente quando a sub-trama começa a se tornar mais perigosa, quando os segredos por traz da NERV, que Gendoh vem escondendo a anos, começa a vir a luz, e isso acaba sendo uma grande falta, focar demais na parte mais chata quando temos uma trama tão forte ganhando pouco tempo de tela.
Cheio de intensidade, os últimos capítulos se tornam únicos, eletrizantes e, atrevo-me dizer, épicos. As revelações que desmascaram todo o legado da NERV e nos deixa cheios de questionamentos se torna catalizado pela rápida participação de Kaworu Nagisa, que nos revela tanto sobre os evangelions e os anjos, e traz em Shinji uma nova personalidade, ele chega para preparar o terreno para os episódios finais e faz com que toda a intensidade tenha um sentido, e todas as pontas soltas se amarrem de forma leve, nos deixando com aquele saudosismo final. A trama se finaliza com “The Ending World” (episodio 25) e “The Beast That Shouted ‘i’ at the Heart of the World” (episodio 26), os dois episódios mais chatos e entediantes da temporada, mas também os mais significativos e reflexivos, uma conclusão filosoficamente redonda e completa, que mostra o perigoso destino da nação, um final inovador tão arriscado quanto complexo.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.