Nota
“E o profeta disse ‘que haja escuridão por toda a terra'”
Sabrina e seus amigos conseguiram derrotar os pagãos, mexendo na estrutura do tempo e espaço, o que acabou dando a bruxinha uma forma de estar em dois lugares ao mesmo tempo, possibilitando que ela possa viver como uma Spellman ao mesmo tempo que está reinando no inferno como uma Morningstar, mas tudo começa a ficar ainda mais perigoso quando ela percebe que sua travessura não é o único evento capaz de ameaçar o mundo e a cidade de Greendale. Em segredo, Faustus Blackwood concluiu o ritual envolvendo o Ovo do Tempo e inicia a convocação do Vazio, uma poderosa entidade que pretende destruir toda a terra e que passa a ser adorada pela Igreja dos Peregrinos da Noite de Blackwood, o processo que leva a até o despertar do vazio se desenrola com a chegada dos oito Terrores do Sobrenatural, os Arautos do Vazio, um grupo de poderosas criaturas que não podem ser mortas e ameaçam a recém-nascida Ordem de Hécate e a vida em todas as dimensões.
Depois da queda na recepção de sua terceira parte, O Mundo Sombrio de Sabrina acabou sendo cancelada em 8 de julho de 2020, o que fez com que sua quarta parte fosse a última e tivesse a missão de finalizar a trama da bruxinha. Com uma trama mais ritma e densa, o show decide beber diretamente dos Mitos de Cthulhu Lovecraftianos, fazendo com que seus oito episódios finais, com cerca de 60 minutos, fossem divididos pela chegada dos oito Terrores do Sobrenatural, entidades extremamente poderosas que, por conforto do roteiro, tem pontos fracos facilmente alcançáveis por Sabrina e seus amigos. Empenhado em superar as expectativas, Roberto Aguirre-Sacasa vai de forma explicita baseando os antagonistas do novo ano em contos e personagens da carreira de H. P. Lovecraft, trazendo vislumbres como A Escuridão Absoluta que se baseia em Darkness, O Retornado que parece inspirado em O Caso de Charles Dexter Ward ou O Estranho que lembra bastante o Cthulhu, chegando até a brincar com a história de Lucas Hunt, personagem apresentado na temporada e que veio transferido de Innsmouth High (uma clara referência à cidade onde se passa A Sombra de Innsmouth).
Com a existência de duas Sabrinas, deveria ficar para Kiernan Shipka a missão de evoluir dramaticamente o show, explorando a existência de duas Sabrinas e suas vivencias, mas apesar de essa dupla existência render algumas cenas interessantes, ele é extremamente mal aproveitada. A série se desenvolve ao redor das aventuras de Spellman no mundo mortal, deixando o desenvolvimento de Morningstar no Inferno em offscreen, nos surpreendendo a cada nova aparição dela com as decisões que ela tomou, um enorme contraste com a regressão narrativa que acaba acontecendo com Spellman, que está convenientemente forte o suficiente para encarar os Terrores mas perdeu todos os anos de aprendizado, o que a impede de fazer os feitiços necessários nos momentos cruciais, artimanha usada unicamente para alongar o episódio e faze-la depender da inteligência de terceiros. Aguirre-Sacasa parece não saber o que fazer com seus personagens, enchendo a tela com fanservices para distrair o público da falta de desenvolvimento dos personagens de apoio, da falta de crescimento do enredo e do gosto amargo que a temporada deixa.
Morna e cansativa, a quarta parte de O Mundo Sombrio de Sabrina mostra um desespero para finalizar bem a série, e mesmo conseguindo homenagear bem sua protagonista com um final significativo, ainda que desagradável aos fãs, se perde bastante nos seus capítulos. O show pode até ser divertido, mas a escolha de transformar a temporada em pequenas histórias dentro de uma história geral não funcionou, impedindo o enredo de ser cativante apesar de continuar possuindo uma leveza que coopera com o entretenimento. A pressa em conectar os eventos do terceiro ano com a finalização da produção, que só deveria acontecer numa quinta ou sexta parte, criou furos no roteiro que fizeram a série soar um pouco nonsense e atrapalhada, deixando como legado uma frustração nos fãs mais fieis. É interessante perceber que a temporada mais fraca seja justamente a que nos entrega “Chapter Thirty-Five: The Endless” (4×07), um dos episódios mais marcantes da série, que leva Sabrina para um mundo alternativo onde as Spellmans são estrelas de uma sitcom, trazendo uma maravilhosa homenagem a Sabrina, Aprendiz de Feiticeira com direito até a participação de Beth Broderick e Caroline Rhea, interpretes, respectivamente, de Zelda e Hilda na série dos anos 90.
“No começo tudo é a escuridão, no fim só haverá escuridão”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.