Nota
Dale, abuelita, dale!
Penélope Alvarez (Justina Machado) é uma ex-militar que vive com seus dois filhos, Elena (Izabella Gomez) e Alex (Marcel Ruiz), em um pequeno apartamento na Flórida. Com a ajuda de sua mãe Lydia (Rita Moreno), ela cria seus filhos e tenta manter a ordem na casa, enquanto ramifica suas raízes cubanas e tenta não desabar com as pressões e traumas sofridos.
Com a aproximação do quinceãnera de sua filha mais velha (que reluta em participar de um ritual que promove o patriarcado e a objetificação feminina), um desconforto na clínica em que trabalha e os tremendos luxos que seu filho insiste em receber, Penélope se vê à beira de um colapso, sem ter com quem falar e tendo que lidar com a religiosidade constante da mãe que julga que seus problemas podem ser resolvidos com uma boa dose de oração.
Produzida e escrita por Glória Calderon Keller e Mike Royce, One Day At a Time é uma revival de uma antiga série (quase três décadas depois) de um sitcom de sucesso, com o mesmo nome, estrelado por Bonnie Franklin, que possui nove excelentes temporadas em seu currículo, deixando uma legião de fãs órfãos. Não seria um trabalho fácil reviver uma série tão amada e trazer para um contexto mais atual e preciso com a época que vivemos (afinal, não estamos mais na década de 70), mas devo confessar que a Netflix acertou em cheio com sua proposta.
A série é profunda e acerta em cheio o seu objetivo. Enquanto trata de temas pesados como depressão, homossexualidade, imigração e machismo, ela traz uma leveza e uma precisão certeira com piadas inteligente e bem boladas, que nos fazem refletir e apreciar ainda mais seu conteúdo. A mensagem moral da série é tão poderosa e tão cativante que envolve e acolhe seus telespectador, convidando-nos a questionar os temas tratados enquanto nos diverte e emociona.
A vivacidade dos cenários e o colorido dos figurinos encanta e nos mergulha ainda mais no dia a dia dos Alvarez, trazendo uma bela homenagem à cultura cubana e exagerando em seus tons vibrantes e acolhedores. Assim como uma mistura de personalidades forte e acolhedoras de personagens que nos fazem sentir um calor no coração.
Penélope é forte e batalhadora, serviu ao Exército durante a guerra no Afeganistão e agora trabalha em um período de meio expediente como enfermeira em uma clínica, onde sua opinião não é ouvida e muito menos gratificada pelo seu árduo esforço. Ela tem que lidar com homens menosprezando seu trabalho e interiorizado suas qualidades e avanços por ser um mãe solteira que batalha para sustentar seus filhos. Além de tudo isso, ela ainda tem que lidar com um divórcio perturbado com seu ex-companheiro e pai dos seus filhos, que se encontra traumatizado após a guerra e se recusa a procurar qualquer tipo de ajuda, o que deixa Penélope à beira de uma depressão e a forte religiosidade e crenças de sua mãe não ajudam nem um pouco.
Penélope por muitas vezes se sente isolada e perdendo grandes momentos na vida dos filhos, tentando a qualquer custo manter a família unida e se manter presente, mesmo quando tudo a sua volta parece desabar. Ela é o alicerce da família e a força para manter todos juntos, e nada disso seria possível sem a brilhante atuação de Justina, que encarna sua personagem com leveza de uma luva e sabe transitar bem entre as emoções variantes da mesma sem nunca perder seu gingado.
Outra personagem que passa por um arco maravilhoso é Elena. A jovem sempre lutou por seus ideais e procurou entender e defender as minorias, mas, durante seu arco, ela passou a questionar a si mesma e descobrir mais sobre sua sexualidade e seu lugar no mundo. Trazendo um dos arcos mais emocionantes durante a temporada, a produção mostra o quão pode ser difícil aceitar a si e esperar um conforto familiar.
Mas quem verdadeiramente rouba a cena é Lydia, a abuelita divertida e encantadora da família. A senhora é descontraída e traz algumas das melhores frases da série. Embora seja bastante racista e cheias de travas da sua geração, ela surpreende com uma personalidade complexa e cativante, emocionando-nos com cenas memoráveis e lidando bem com seus dilemas. Lydia é extremamente religiosa e segue a risca seus ensinamentos, levantando muitas vezes o questionamento do quanto a religião pode atrapalhar uma família, mas também o quanto de fé é saudável para manter todos unidos. Lydia é, sim, retrógrada em muitos de seus pensamentos, mas cada crítica levada pela personagem não ultrapassa o seu amor pela família e mostra o quanto ela lutaria por cada um deles.
Schneider (Todd Grinnell) é o inconveniente proprietário do prédio, que passa mais tempo com a família Alvarez do que no seu próprio apartamento (alguém pode culpá-lo?). Sua conta de fazer parte daquilo e ser aceito como membro honorário é fofo e hilário ao mesmo tempo, assim como sua falta de noção com seus privilégios que levantam bons questionamentos. A atuação de Todd é perfeita e engraçada na medida certa, o que poderia ser arriscado com personalidades tão marcantes e precisas, mas o ator sabe tirar de letra e colocar bem uma personalidade cativante em seu personagem.
Repleto de mensagens importantes e contextos bem idealizados, One Day At a Time não é a serie que pedimos, mas a que precisávamos. Trazendo temas tão precisos e fortes e sendo ao mesmo tempo tão acolhedora e cativante que quase sentimos que estamos sendo recebidos de braços abertos em nosso lar, fazendo parte do crescimento de uma família tão magnífica que ficará gravada para sempre em nossos corações.
“Tudo bem, a gente pode concordar que se tem um Deus, é de gênero neutro, não um ele ou ela?
Não! Deus é um homem. Se fosse mulher existiria menos problemas.”
https://www.youtube.com/watch?v=y8S0oZBkhac
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...