Review | One Day At A Time [Season 2]

Nota
5

“Não pode controlar os idiotas, mas pode controlar como reage a eles.”

Os Alvarez nunca negaram suas origens. E em meio a todo o caos político que o país aparenta viver com a eleição de um presidente xenofóbico, a família tenta manter seu orgulho e dignidade em meio ao clima de ódio e hostilidade que parecem dominar o ambiente com o qual eles já estavam acostumados. Enquanto lidam com novos problemas, questões antigas aparecem para serem resolvidas, mostrando-nos as diferenças e o amor de uma família cubana/americana ao criar fortes laços e momentos divertidos. Tudo parece mais intenso e a necessidade de se tornar verdadeiramente americanos parece gritante, com questões tão profundas e presentes que nos introduz com maestria em uma das melhores comédias da atualidade.

Com críticas sociais presentes e um humor preciso que arranca risadas sem precisar de esforço, One Day At a Time entra em sua segunda temporada e transforma algo que já era bom em uma coisa esplêndida. Manter o padrão e a qualidade de uma primeira temporada adorada pelo público parece um trabalho difícil e quase impossível, mas os criadores Gloria Calderon Kellett e Mike Royce tiram de letra e engrandecem o seu trabalho de uma maneira primorosa e única, dando local de fala às pessoas que merecem e o melhor: sem se tornar ofensivo e desgastante. Se a primeira temporada teve como base um evento de transição para Elena (Isabella Gomez), a segunda apresenta um background mais pesado e com uma emoção tão aflorada que nos deixa tensos a cada passo. É engraçado como uma comédia pode mexer tanto com nosso emocional a ponto de nos divertir e preocupar ao mesmo tempo. Nos importamos com cada um dos personagens apresentados e sentimos fazer parte daquele cotidiano, das discussões da família e de suas alegrias, assim como suas quedas nos atinge de uma maneira pesada e cortante.

Elena passa por um arco maravilhoso nessa season. Se na primeira ela precisou se descobrir e lidar com a sua sexualidade (além da difícil tarefa de sair do armário, o que trouxe alguns dos momentos mais emocionantes da temporada passada), agora ela tem que lidar com algo bastante complicado:  um relacionamento. A identidade de gênero, o primeiro amor e a decepção amorosa de alguém que tem vergonha de sua real personalidade são exploradas de uma maneira tão doce e divertida, e informa e nos deixa ainda mais próximos da personagem. Os problemas com seu pai (que nos revoltou na season finale da temporada anterior) são trazidos à tona de uma maneira poderosa. Nunca é fácil lidar com a rejeição de alguém que amamos, muito menos enfrentar essa pessoa e dizer tudo o que está entalado em nossas gargantas.

Alex (Marcel Ruiz) passa por uma das bases mais profundas da season. Logo de início, achamos se tratar de uma fase adolescente de alguém que não quer mais ser tratado como criança, mas logo percebemos que a questão é mais profunda do que isso. A série utiliza o personagem para levantar o questionamento de como os descendentes de imigrantes são tratado nos Estados Unidos. Com o movimento anti-imigrantes tão forte no país, a produção faz fortes críticas ao governo e a consequência de seu discurso de ódio. É legal acompanhar o crescimento do personagem, que sai do comodismo de alívio cômico e suporte para os outros e passa a ter seu próprio brilhantismo. O mesmo acontece com Schneider (Todd Grinnell), que não só faz crítica a seu privilégio branco como também mostra um lado totalmente diferente e emocional para o personagem, levando-o a outro patamar.

Mas o verdadeiro brilhantismo se encontra nas matriarcas da família, Penélope (Justina Machado) e Lydia (Rita Moreno). Justina e Rita estão simplesmente icônicas em seus papéis, dando o tempero e o balanceamento que a série precisava. Justina constrói uma mãe forte que precisa lidar com a pressão e a fé que todos depositam nela, o que desgasta e pesa sobre sua personagem. Todos esperam que ela seja perfeita e ela mesma se cobra em demasiado. A série mostra uma das melhores representações de depressão que já vi. A cena é forte e intensa e mostra um ponto de virada sublime para a personagem que, enfim, reconhece que precisa de ajuda para se manter nos eixos. Já a Rita constrói uma personagem espalhafatosa e teatral, cheias de preconceitos, mas disposta a colocar todos de lado para o bem da família. Sua mente fechada para certos assuntos entra em contraste com as outras gerações, mas ela sempre acolhe e aceita seus amados descendentes.

Lydia tem as melhores piadas e lida com o problema de ter que se tornar verdadeiramente americana para não correr o risco de ser deportada, mesmo não querendo renegar seu amado país de origem. É curioso que a personagem mais chamativa tenha um episódio em total silêncio, em uma finale emocionante onde é mostrado a importância da matriarca na vida de cada um, além de fazer algumas lágrimas surgirem no rosto dos telespectadores que se ligaram tão profundamente com nossa queria Abuelita.

A produção ainda trata de assuntos pontuais e importantes, como, por exemplo, o porte de armas, o uso de drogas, a exaustão e gratificação que um trabalho pode proporcionar e a dificuldade de ser imigrante num país como os Estados Unidos. Com um texto inteligente e coeso que nos diverte e nos ensina de maneira sublime, a segunda temporada de One Day At a Time mostra que o que era bom pode, sim, ficar ainda melhor. Nesta nova temporada, a série nos acolhe e, com uma maneira inteligente, fala de temas pesados sem ser ofensiva e desgastante, mas, acima de tudo, ensina que o amor é a resposta. Afinal, devemos, sim, ter orgulho de quem somos e viver um dia por vez…

“Se perder a calma, eles ganham. Se nunca perder a calma, também ganham. É complicado.”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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