Nota Geral
Durante duas temporadas, One Day At a Time conquistou nossos corações e preencheu nossas vidas com um humor inteligente e agradável, tratando de assuntos pesados com uma delicadeza impar. E é na sua terceira (e última temporada) que o sitcom brilha de uma maneira impar. A família Alvarez parece ainda mais próxima e vibrante, trazendo toda sua emoção com uma força digna dos holofotes.
Se nas primeiras temporadas a série abordou assuntos sérios, como homofobia, imigração e depressão, de uma forma educativa e respeitosa, nessa temporada ela parece querer ir além e aprofundar ainda mais seus ensinamentos. Logo nos primeiros episódios temos um choque ao receber uma dura lição sobre masculinidade tóxica, e como isso é perpetuado pela sociedade em que vivemos, dando um gancho perfeito para mostrar o quão assustador e terrível um assédio pode ser, e a verdadeira impotência que a vítima se sente nessa situação. É pesado notar como a vitima se culpa por algo assim é como a sociedade ainda reforça essa culpa trazendo um questionamento ainda maior de o por que isso é tão comum. Por que culpar Às vítimas? Seria tão difícil entender que um não é um não? Que as mulheres não são objetos?
As diferenças entre gerações é engraçada e refrescante, assim como seus dilemas e o seu jeito de encarar o mundo. As dinâmicas entre Lupita (Justina Machado) e Lydia (Rita Moreno) são uma ótima representação disso. Enquanto Lupe tenta contornar seus problemas e lidar com tudo o que esta acontecendo, Lydia tem uma mente mais fechada e repleta de preconceitos.
Mas as nuances do relacionamento das duas foi tão gradativo e tão aprofundado ao longo das temporadas que encanta de uma maneira impar. Notamos isso de uma maneira clara logo nos primeiros episódios, trazendo a reunião do clã Alvarez para um enterro. O episodio levanta os questionamentos filosóficos dentro de uma grande família e, inclusive, a divisão politica tão claramente apresentada em vários lugares do mundo (incluindo o Brasil).
A serie foca bastante no amadurecimento do seu elenco infantil, trazendo quebras dos relacionamentos e nos fazendo enxergar os personagens por outros olhos. Alex (Marcel Ruiz) é a maior prova disso. O Papito deixou de ser aquele menino doce que conhecemos e passa por mudanças drásticas em sua nova fase. O jovem começa a usar drogas por diversão até ser confrontado e, após ser colocado de castigo, o rapaz se torna um observador nato, aprendendo com tudo ao seu redor. Mostrando isso no final da temporada, quando se mostra um dos mais amadurecidos da trama.
Elena (Isabella Gomez) encara assuntos de transição, como seu despertar sexual, a pressão da faculdade, a carteira de motorista e a primeira briga em seu relacionamento com Syd (Sheridan Pierce), por pontos de vistas opostos. Além desses pequenos arcos, a moça ainda precisa resolver pontas soltas, como o abandono que sentiu ao ser deixada pelo pai e como ela tem que fingir estar bem com isso quando tudo parece desmoronar por dentro.
Penélope tem que lidar com a pressão de uma prova iminente e a brusca visão de que seus filhos não são mais bebes, e não saber como reagir a isso. Ela não quer ser uma ditadora, mas também quer ensinar que aquilo não é legal. Enquanto suas crises de ansiedade são cada vez mais frequentes (como em um dos episódios mais pesados, mas necessário, da temporada, que mostra como cuidar de uma crise de ansiedade e conscientiza do quanto é difícil passar por uma), Lupe ainda precisa lidar com o retorno de seu ex marido e um possível casamento que a faz rever toda sua jornada ate aqui. Já Lydia tem como objetivo cumprir sua lista de Bocejos, colocando metas para cumprir antes que ela se vá.
Schneider (Todd Grinnell) ganha um espaço merecido e seu próprio arco. O canadense privilegiado tem que encarar seu pai e perceber que suas escolhas afetam a vida de varias outras pessoas, além de abordar o assunto de uma recaída em seu vício, trazendo um dos episódios mais tensos da temporada e enfatizando a dificuldade e os preconceitos que um ex-viciado sofre ao encarar a sociedade, arrancando lagrimas do telespectador.
Com um roteiro inteligente e perspicaz, todos esses temas são tratados de uma forma sublime e divertida, sem se mostrar forçada ou desrespeitosa, um dos grandes méritos dos criadores Glória Calderon Kellett e Mike Royce, que não deixam a peteca cair em nenhum momento, trazendo um episodio maravilhoso atrás do outro.
Ouso dizer que One Day At a Time é uma das melhores sitcoms criada nos últimos anos. Com sua presença empolgante, seus cativantes personagens, seu espirito colorido e cubano e sua vivacidade incomparável, a serie consegue nos fazer sentir em casa, trazendo temas necessários de uma maneira precisa e alimentando nossa alegria de ver algo tão maravilhoso em tela. É um pena que a serie tenha sido cancelada, pois os Alvarez tinham tanto mais a oferecer e só podemos imaginar como devemos continuar com uma perda tão lastimável quanto essa. Acredite, o mundo precisava tanto de One Day At a Time que se torna doloroso dizer adeus.
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...