Nota
Como dizia o filósofo Jean Paul Sartre, “o inferno são os outros”. Essa célebre frase resume o que encontramos em Os Outros, série antológica da Globoplay. Na produção brasileira, temos como mote a sociedade polarizada e conflitos familiares, além de excelentes atuações. No drama, conhecemos os casais Wando (Milhem Cortaz) e Mila e seu filho, o Rogério. Logo nos primeiros momentos da série, vemos Rogério se envolvendo numa discussão bastante boba com Marcinho, filho de impulsiva Cibele (Adriana Esteves) e do compassivo Amâncio. Porém, o que não imaginávamos era que uma discussão de jovens num jogo de futebol do condomínio geraria consequências absurdas para ambas as famílias. Paralelo a isso, conhecemos o Sérgio, um vizinho que ajudará Cibele a se defender de Wando, porém, ao longo da trama, percebemos que ele não é apenas mais um vizinho. Aproveitando a briga entre os condôminos, ele usará sua lábia e sedução para ter “poder” no condomínio em que mora.
Em primeiro lugar, é importante salientar que a Globo acertou ao discutir na reprodução sobre a violência e suas consequências dentro dos lares familiares. A briga entre os vizinhos como mote central para desenvolver o assunto principal da trama é eletrizante, inesperada algumas vezes, e prende o telespectador com a sensação de que pode piorar (e vai piorar!). A produção tem um ótimo ritmo ao apresentar os personagens de forma segmentada, fazendo com que aguardemos ansiosamente para ter a personalidade de cada protagonista de maneira efetiva. E, ao fim, faz-nos perceber que o inferno é os outros, mas lembra-nos de que grande parcela do nosso inferno pessoal é resultado das nossas próprias escolhas.
Além do assunto abordado, um outro fator positivo na produção é a escolha do elenco. Como protagonistas, temos Adriana Esteves interpretando a Cibele e Milhem Cortaz, que dá vida ao Wando. Os dois atores foram grandiosos durante a série. Ambos, mostram-nos o lado protetor de seus personagens, sem esquecer que dão voz e vida a pessoas que farão de tudo para “proteger a família”, mesmo que para isso estejam equivocados no verdadeiro significado da palavra proteção. Mas há outros personagens que merecem destaque: o Rogério, interpretado por Paulo Mendes. Apesar de jovem, o ator consegue mostrar ao público o quanto é talentoso e consegue segurar o tempo de tela de maneira muito natural, principalmente nas cenas que precisa demonstrar força e agressividade.
Ao fim de 12 episódios, percebemos que Os Outros é um convite à reflexão acerca do quão doente é a sociedade em que vivemos. É claro que a violência é o assunto principal, mas Lucas Paraizo, criador da produção, faz questão de levantar assuntos extremamente atuais e pertinentes, como, por exemplo, o abuso, a intolerância, o crime organizado, abandono parental e a gravidez na adolescência. Além de levantar temas polêmicos para serem discutidos: o porte ilegal de armas e as consequências disso. No fim, a única certeza de que podemos ter é: o inferno nem sempre são os outros.
