Nota
“Ele tá morto… O que você fez Betty?”
A guerra contra o Rei Gárgula e o Gorro Negro/Hal Cooper parecia ser o fim dos maiores desafios que Riverdale poderia enfrentar, até que ficasse claro que coisas muito piores estão para atingir a cidade. Com a chegada do verdadeiro Charles Smith, um agente do FBI pronto para se reunir com sua família, Betty (Lili Reinhart) pode finalmente derrotar A Fazenda, libertando sua mãe e seus amigos das garras de Edgar Evernever bem a tempo de poder se dedicar ao último ano do ginásio ao lado de Verônica (Camila Mendes), Archie (K.J. Apa) e Jughead (Cole Sprouse), mas agora que a inocência de Riverdale morreu, nada mais é perfeito nessa cidade.
Com a demissão do Diretor Weatherbee, a escola agora está nas mãos de ferro do Sr Honey, um carrasco capaz de tudo para tornar os rebeldes alunos de Riverdale em submissos às suas regras, algo que vai contra todos os desejos e princípios de Cheryl (Madelaine Petsch), que precisa agora lidar com uma guerra contra o diretor e os fantasmas do passado dos Blossom, que pouco a pouco parecem tirar a sanidade da jovem megera. Para a surpresa de Jughead, o jovem garoto acaba sendo convidado para passar seu último ano em Stonewall Prep, uma escola de alto nível que abriga segredos sombrios, uma sociedade secreta perigosa, surpreendente pistas sobre seu avô e que promete, macabramente, ser o cenário de sua morte (que vem sendo revelada desde season finale do ano anterior).
Lutando para se reerguer está Verônica, que começa a investir cada vez mais no La Bonne Nuit enquanto assiste os julgamentos de seus pais, que resulta na liberdade de ambos. A garota agora precisa engolir Hermosa Lodge, sua recém-apresentada meia-irmã mais velha, ver seu pai se tornar o novo prefeito da cidade e, depois de provocada pelo seu pai, entrar numa intensa guerra familiar com uma nova marca de Rum. Archie segue com sua trilha pela redenção, investindo no El Royale e o transformando num centro comunitário para proteger às crianças de rua do Southside, ganhando um novo inimigo enquanto busca seu lugar no mundo. Em paralelo temos Betty tentando lidar com seu lado negro, temendo ser levada por sua genética a seguir os passos de seu pai e se tornar uma futura serial killer. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo que todos estão lutando para conseguir ser admitidos em uma boa faculdade.
Depois de uma segunda temporada amarga e uma melhora em seu terceiro ano, Riverdale chega à sua quarta temporada cheia de expectativas e possibilidades, mas parece que os roteiristas foram com muita sede ao pote. Com a chegada de Charles Smith e a morte de Jughead sendo usados como base, nada podia dar errado, mas deu. A temporada começou maravilhosamente bem, com uma brecha na trama em “Chapter Fifty-Eight: In Memoriam”, onde vemos a morte de Fred Andrews ser tratada com todo o respeito e tato que merecia, com uma singela homenagem à Luke Perry, cuja morte abalou elenco e fãs, quase como em um episódio especial, que ignora completamente enredo para focar unica e exclusivamente no que realmente importa, exaltar o legado de Fred e Luke. Mas é em “Chapter Fifty-Nine: Fast Times at Riverdale High” (4×02) que vemos a trama começar a caminhar, nos levando a Stonewall e, em “Chapter Sixty: Dog Day Afternoon” (4×03) somos apresentados à pior escolha dos roteiristas: as misteriosas fitas VHS.
A trama das fitas VHS é jogada em meio ao enredo da temporada com um claro de sinal de “prestem atenção, isso vai valer a pena” mas, com o decorrer da história, vai se mostrando como um item valioso que foi apresentado no momento errado. O mesmo se diz da relação de Chuck e Chic, somos apresentados a um material com potencial a ser um barril de pólvora mas que não se desenvolve em momento algum da temporada, nos decepcionando completamente ao pegar algo que parece ser tão relevante no futuro da série e jogar, de uma forma tão alarmante, no meio de um enredo completamente diferente, não se conectando à trama e nos deixando a espera de um desenvolvimento que nunca chega. Esses dois elementos podem até ser relevantes para o enredo da vindoura, e já confirmada, quinta temporada, mas a pior escolha dos roteiristas foi ter jogado esses elementos de forma tão explicita e tão cedo na trama. O mais triste é que tem muito mais desastres pela frente, que não fazem essa quarta temporada ser tão amarga como a segunda mas também não ser nem nivelada com a terceira.
Em “Chapter Sixty-Nine: Men of Honor” (4×12) temos um momento marcante na trama, quando vemos Verônica viajar a Nova York e reencontrar sua velha amiga, Katy Keene, servindo como um discreto e preciso gancho para a série spin-off protagonizada por Lucy Hale (que faz a participação no episódio interpretando Katy). Em contraponto, temos “Chapter Seventy-Four: Wicked Little Town” (4×17), que rapidamente se tornou um dos episódios mais esperados da temporada ao prometer explorar mais profundamente os dilemas de Kevin ao mesmo tempo que trazia uma homenagem a Hedwig & Angry Inch, mas o episódio musical do quarto ano ficou completamente fora de contexto com a trama. Enquanto “Carrie: The Musical” explorou mais a fundo a tensão entre Alice e Betty e “Heathers: The Musical” imergiu na briga entre Cheryl e Toni, o episódio de homenagem a Hedwig não foi nada além de superficial.
Tínhamos uma peça premiada que falava sobre dilemas pessoais de uma cantora transexual sendo conectadas aos dilemas pessoais de um garoto gay que estava buscando se reconectar ao seu verdadeiro eu após passar pelos abusos mentais dA Fazenda, mas nada disso pode ser visto durante o episódio, que nem se deu ao trabalho de remontar a peça (assim como fez com as outras duas) e se deteriorando em assuntos que poderiam ter sido melhor explorados numa trama comum, no fim, o especial musical parece muito mais jogado ali para cumprir uma obrigação do que realmente ter uma razão roteirística para existir.
O trabalho do elenco protagonista está cada vez mais impecável, a temporada explora a fundo tantos sentimentos e tantos dilemas que são capazes de nos deixar tontos e impactados, mas talvez seja tratado com tanta pressa que se atrapalhe em muitos pontos. Num ano que foi praticamente protagonizado por Jughead e Betty, vimos que a melhor evolução foi a de Cheryl, que cresceu ao confrontar os fantasmas de sua família, teve que retomar seu centro e reassumir seu poder, lutar até o fim contra tantos dilemas internos enquanto precisava aprender a ser um verdadeira Blossom, mas que finalizou o ano com uma trama tão insossa que nos faz pensar onde está aquela força que ela desenvolveu durante o ano. Verônica e Archie evoluem vagarosamente, mesmo que evoluam mais que os protagonistas do ano, e a trama de Kevin é praticamente ignorada na maioria dos episódios.
Quando vai chegando o final da temporada, e fica cada vez mais claro o quanto a trama foi se perdendo, os roteiros começam a tentar se aproximar das HQs, puxando cada vez mais elementos da obra original para a série, dividindo opiniões ao enriquecer o enredo com cenas que fazem nossos olhos brilharem e, em outros momentos, quebrar o padrão que construiu nos últimos anos e nos forçar a chegar num ponto que talvez não funcione tão bem na série. Com tantas decepções, fica agora a cargo da quinta temporada tentar retomar a trama que terminou de uma forma tão fria e tentar reacender o fogo que deveria ser a definição de Riverdale.
“Bom, finalmente aconteceu, o momento que todos esperavam.
Uma fogueira na floresta… Três amigos de roupa íntima cobertos de sangue…
Meu gorro icônico virou fumaça”
https://www.youtube.com/watch?v=kN1jU9s6SiU
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.