Nota
“Jogador 456, bem-vindo ao jogo mais uma vez!”
Seong Gi-hun sobreviveu, e venceu, à 33ª edição do Squid Game, ganhando os 45,6 bilhões de wons, mas ele nunca conseguiu esquecer das pessoas que perderam a vida no jogo em que ele ganhou, o que fez se dedicar a encontrar uma forma de acabar de vez com a competição. Três anos depois, dedicando seu tempo e dinheiro a caçar o Recrutador que ele encontrou no metrô, uma nova oportunidade surge, ele consegue encontrar o Recrutador e consegue uma forma de encontrar o Líder, a quem pede para participar mais uma vez do Squid Game, provavelmente agora em sua 37ª edição. Toda uma operação foi preparada por Gi-hun, que acabou se aliando a Hwang Jun-ho, que manteve o segredo de que descobriu que seu irmão desaparecido é o Líder, e formando uma equipe de ex-militares para encontrar a ilha onde os jogos acontecem e resgatar ele e os outros jogadores. Mas será que os planos de Gi-hun vão ser pareo para a mente maléfica de Hwang In-ho?
O horror filosófico dirigido e roteirizado por Hwang Dong-hyuk, rapidamente se tornou um sucesso mundial. Apesar de a Netflix ter investido apenas em divulgações do programa na Coreia do Sul, o boca a boca e propagação viral nas redes sociais garantiu que o show se tornasse o primeiro drama coreano a chegar ao top 10 mundial, alcançando primeiro lugar em 90 países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. Não é de surpreender que uma segunda temporada tenha recebido sinal verde em cerca de seis meses, o que projetou uma expectativa gigantesca sobre o que veriamos a seguir, principalmente depois que a primeira temporada acabou com Gi-hun descobrindo que, mesmo após a morte de Oh Il-nam, os jogos continuam sendo realizados. Com sete episódios de cerca de 1h, a nova temporada brinca com o público e com seu protagonista ao jogar no ar a tensão do excesso e falta de informações, seja ao nos mostrar Young-il, o Jogador 001, que na verdade é Hwang In-ho infiltrado nos jogos, aproveitando que Gi-hun não sabe a verdadeira face do Líder, ou por fazer o protagonista achar que vai enfrentar os mesmo jogos de antes, ao começar a edição com um Batatinha Frita 1, 2, 3, e depois desmoraliza-lo completamente ao apresentar jogos completamente novos.
Assim como na temporada anterior, os episódios começam a ir apresentando personagens importantes para o avanço do enredo, dando toda a informação que precisamos para amar e odiar cada um deles. Lee Jung-jae entrega mais uma vez uma atuação incrivel, dessa vez temos um Gi-hun muito mais endurecido e determinado, ele abre mão da sua vida em prol dos outros jogadores, principalmente depois que é mostrado que ele não precisa estar ali, ele ainda tem muito dinheiro, mas ele sente uma necessidade de dar um fim nos jogos, por isso dedica sua vida e seu dinheiro a isso, abdicando até das oportunidades de viajar para os Estados Unidos e reencontrar sua filha. Conhecemos vagamente o complexo Lee Myung-gi/Jogador 333, que era um youtuber de finanças chamado MzCoin, mas afundou em dívidas, e hate, depois que incentivou vários seguidores a investir em um criptomoeda que se revelou ser um golpe, deixando várias pessoas endividadas. Uma das vítimas de MzCoin foi Choi Su-bong/Jogador 230, um divertido rapper que atende pelo nome de Thanos, inspirado no personagem da Marvel, e consegue divertir o público enquanto desperta seu ódio, pela forma insana como ele age ao mesmo tempo que é completamente inescrupuloso, um papel que é muito bem interpretador pelo rapper T.O.P, que pareceu entregar muito da sua personalidade para o personagem. Outra personagem que acaba chamando nossa atenção é Kim Jun-hee/Jogadora 222, interpretada pela cantora de k-pop Yuri, que acaba chamando nossa atenção por entrar nos jogos mesmo estando grávida, posteriormente nos surpreendendo ao revelar que o pai da criança é o MzCoin.
Uma aposta arriscada do show foi a introdução de Cho Hyun-ju/Jogadora 120, interpretada por Park Sung-hoon, uma mulher trans que decide entrar nos jogos para conseguir o dinheiro para fazer suas cirurgias, se mudar para outra cidade e recomeçar sua vida, o grande problema foi o show ter acabado por fazer um Transfake (quando um personagem trans é interpretado por um ator cisgêneros), gerando uma controversia gigantesca ao ponto de Dong-hyuk tentar se retratar explicando que tentou escalar uma atriz trans para o papel, mas a comunidade LGBTQIAP+ é tão marginalizada na Coréia que é quase impossivel achar uma atriz trans, e muitas das que existem preferem não se assumir publicamente, o que o levou a optar por colocar um ator cis ao invés de descartar a personagem, uma escolha complicada pela forma como vemos que o roteiro exalta Hyun-ju, dando bastante tempo de tela para desenvolver a fundo a personagem, trazendo todos os seus medos, motivações, e até fazendo com que nos apeguemos de forma brutal com a personagem, torcendo pela sua sobrevivência tanto quanto torcemos por Gi-hun, deixando no ar uma pergunta: Será que uma atriz trans nesse papel não seria um passo importante na representatividade na mídia coreana?
Não podemos deixar de falar de Jang Geum-ja/Jogadora 149 e Park Yong-sik/Jogador 007, mãe e filho que acabam entrando no jogo, sem saber um do outro, para tentar quitar a divida de apostas de Yong-sik, e que protagonizam cenas tocantes envolvendo a conexão deles, chegando ao apice em “O X” (2×06). Apesar de não ter muito tempo de tela, outros personagens marcantes são Seon-nyeo/Jogadora 044, uma xamã do mar que ora é divertida e ora tenebrosa, e Park Gyeong-seok/Jogador 246, um caricaturista que trabalhava em um parque, cuja filha, Park Na-yeon, está sofrendo de leucemia, o que faz entrar nos jogos para pagar o tratamento, mas a grande questão na história do Jogador 246 é Kang No-eul, uma garota que trabalhava no parque fantasiada de Coelha Rosa, o que faz criar uma ligação com Na-yeon, e cria um dilema interno quando ela vai para o Squid Game, onde trabalha como uma Soldado Triângulo, trazendo a tona vários dilemas internos e ajudando a humanizar as pessoas que trabalham na organização dos jogos.
Com menos episódios do que a primeira temporada, a segunda temporada de Round 6 muda discretamente a dinâmica de sua trama, mas não deixa de ser uma crítica brutal à realidade. Quando a organização oferece aos jogadores a possibilidade de, ao final de cada jogo, votar se prefere encerrar os jogos e dividir o prêmio ou seguir jogando até o prêmio máximo, eles conseguem explorar um debate moral muito mais poderoso do que a forma como agiram após o primeiro jogo da primeira temporada, mostrando que ainda conseguem manter um enredo de ouro, uma direção de arte impecável e um enredo primoroso, mas novamente eles pecam quando se trata do arco de Hwang Jun-ho, felizmente tendo a consciencia de deixar esse arco com poucas aparições, mas dando espaço para um arco dúvidoso de Hwang In-ho, afinal, não sabemos até onde ele está falando a verdade e até onde está apenas mentindo para sensibilizar e manipular os outros jogadores, mas tudo parece uma base perfeita para uma exploração mais profunda na terceira temporada, que já foi confirmada pela Netflix. Talvez o maior problema dessa temporada seja justamente sua season finale, “Friend or Foe” (2×07), que nos entrega um final abrupto, extremamente aberto e frustante, unica e exclusivamente para criar uma expectativa para o terceiro ano, mas de uma forma muito mal feita.
“Aonde você acha que vai? Não tem nenhum lugar para você ir.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.