Nota
“Imaginem um mundo, em que a informação não seja confiável… Não é difícil, né?”
Os anos se passaram, mas a paciência dos Skrulls não seria capaz de durar para sempre. Nick Fury prometeu ajudar a raça alienigena a encontrar um novo lar, mas a espera começou a gerar uma grande inconformação, o que criou uma inssureição e fez Talos, o maior aliado de Fury entre os Skrulls, ser afastado do conselho Skrull. Agora, um grupo de Skrulls renegados começou uma grande operação, sob a liderança de Gravik: se infiltrar entre os terráqueos, usando seus poderes metamorfos para se passar por diferentes humanos ao redor do mundo, e tomar o controle da Terra, dizimando a humanidade e transformando o planeta em seu novo lar. Agora, cabe a Nick abandonar a Estação Espacial S.A.B.E.R. e se juntar a Talos na Terra para sufocar a rebelião, entrando praticamente na clandestinidade agora que não sabe em quem pode confiar e iniciando uma batalha para salvar novamente a humanidade, uma batalha na qual G’iah, a filha de Talos que trabalha para Gravik, se vê completamente envolvida, tendo que decidir se vai seguir a ideologia que passou a acreditar e ficar com Gravik ou voltar para o lado do seu pai e combater o Skrull que matou sua mãe.
A chegada do Disney+ como plataforma agregada à expansão das diversas franquias da Disney, incluso o Universo Cinematográfico Marvel, parecia uma abertura para que a empresa pudesse explorar tramas de menor potencial de bilheteria e ainda conseguir fortalecer o estudio, talvez usando uma formula que já havia dado certo com Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. para mostrar o universo refletindo os eventos dos diversos filmes que arrasavam quarteirão nos cinemas. O pós Blip e pós Thanos parecia o cenário perfeito para irmos mais a fundo nas consequências ao redor do mundo, e foi assim que começamos a ser capturados com os eventos de WandaVision, Loki e Falcão e Soldado Invernal, mas explorar demais acabou se tornando um problema quando Gavião Arqueiro, Ms. Marvel, Cavaleiro da Lua e Mulher-Hulk começaram a surgir saturando a exploração que já não tinha mais tanta graça, se mantendo parado nos eventos pós Ultimato e não mais se conectando com os filmes que vinham se desenvolvendo (que também começaram a perder a atenção do público aos poucos). Mas tudo parecia prestes a mudar com Invasão Secreta, uma minissérie sob o comando de Kyle Bradstreet que prometia adaptar um dos arcos das HQs da Marvel mais famosos e amados pelo público, e que começou indo de vento em poupa, mas logo começou a perder seu controle narrativo e perder completamente seu rumo.
“Resurrection” começa o show com o pé direito, trazendo uma série de intensos eventos em seus 50 minutos para nos contextualizar da invasão Skrull, nos apresentar G’iah e Gravik e trazer um grande baque com a morte de Maria Hill, logo depois somos jogados um “Promises” contemplativo, que completa toda a contextualização ao nos revelar eventos do passado e mais detalhes sobre os planos de Gravik e a relação de Talos e G’iah. Esses dois frenéticos primeiros episódios pareciam suficientes para provar ao público que uma nova fase de produções de streaming de alta qualidade estava prestes a começar, mas logo provou que era cedo demais para chegarmos a essa conclusão. Samuel L. Jackson toma o protagonismo do show ao ser sugado para o meio de uma grande armação que busca iniciar uma guerra mundial capaz de fazer os humanos se destruirem, mas seu Nick Fury parece perdido demais em meio a toda a trama, ele tem diversos planos e diversas ideias para conseguir reverter o problema, mas tudo acaba sempre ficando no papel e nunca chega a ser executado, é como se o plano nunca chegasse a realmente funcionar ou ter a chance de ser testado, e isso vai frustrando o público, que fica sempre assistindo o grande Nick Fury sendo incapaz de combater investidas da qual ele nunca daria a chance de iniciar em outros tempos. A participação de Cobie Smulders é outra grande decpção para o público, depois de tantos anos com Maria Hill sendo subaproveitada, ela finalmente consegue um espaço em tela e uma liberdade para agir, para logo depois ser assassinada de uma forma covarde pelos roteiristas por motivo nenhum, já que a morte de Hill não tem interferência nenhuma no andamento do roteiro (surgindo apenas como impulsionadora em uma cena que poderia muito bem funcionar com a morte de qualquer outro personagem).
A narrativa questionavel de Bradstreet se apropria dos seis episódios, de cerca de 40 minutos, para jogar toda o enredo dos Skrulls para plano de fundo de uma, aparentemente, última jornada do antigo diretor da S.H.I.E.L.D. enquanto lida com seus próprios fantasmas e expõe uma versão abatida e desgastada de si mesmo. Essa mudança de foco acaba tirando dos holofotes figuras que poderiam ter trazido grandes arcos pessoais no show, como o Talos de Ben Mendelsohn, que se via em conflito interno após perder tudo para a rebelião e ficar ao lado do ‘causador’, e a Sonya Falsworth de Olivia Colman, que se vê como única agente capaz de ter o poder, a frieza e a estratégia para entender quem realmente está por trás dos atos terroristas oportunos e combater a invasão antes que o mundo inteiro seja capaz de entender o que está realmente acontecendo. Quem também se prejudica pelo roteiro é o novato Kingsley Ben-Adir, que ao viver Gravik parece poderoso e capaz de tramas gigantescas na pele do antagonista do show, mas acaba sendo diminuido ao papel de ‘púpilo’ de Fury que se rebelou contra ele e agora está, de forma imatura, manipulando a invasão para seguir seu ideal ao mesmo tempo que castiga Nick por te-lo abandonado. Até Emilia Clarke, que gerou tanta expectativa com sua volta às séries depois de Game of Thrones, acabou tendo sua G’iah mal explorada pelo enredo, ficando sempre como acessório do roteiro para movimentar certos eventos, dividindo algumas das cenas com piores efeitos visuais do show e, mesmo com o ato de redenção, ficando extremamente mal usada durante maior parte da série.
Cheio de estrelas e potencial, Secret Invasion tinha tudo para ser um novo marco entre as produções da Marvel, mas virou uma decepção. Se baseando num arco conhecido por muitos, onde deveriamos descobrir que os Skrulls estavam infiltrados entre os humanos (inclusive a série tendo uma clara justificativa exposta quando usou o Blip como cenário para o inicio da infiltração) e assumiram postos na cadeia de comando mundial, substituindo politicos, pessoas publicas e até membros dos Vingadores, o show deveria se construir com uma narrativa bem parecida com o clima de thriller de espionagem que deu tão certo em Capitão América 2: O Soldado Invernal e instaurar um clima paranoico, sem sabermos quem era humano e quem era Skrull, algo bem semelhante a todo o arco que o MCU construiu quando mostrou a Hydra infiltrada na S.H.I.E.L.D., que iria criar uma guerra fria capaz de cativar todo o público. Como é possivel que algo tão bem construido, e que a Marvel já fez antes, desandou de tal forma? Como é possivel que o diretor Ali Selim, famoso por diversas séries de ação inteligente, conseguiu nos entregar um trabalho tão frustrante? Talvez, se a produção tivesse sido feita no formato de um filme, com os dois primeiros episódios como base, aí sim teriamos exatamente a Invasão Secreta que o MCU merecia.
“- Você acha que as mesmas pessoas estão por trás de tudo isso?
– Pessoas não, Skrulls!”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.