Review | Sense8 [Season 2]

Nota
4.5

“- Mama, me desculpa.
– Não, você não tem nada pelo que se desculpar.”

Fugir de Sussurros foi só o primeiro passo na nova jornada de Will Riley, muitos problemas agora existem na vida dos oito membros do conjunto, uns menores outros maiores, mas todos precisam encontrar uma forma de se salvar de algo. Depois de uma passagem de tempo que não é muito bem definida, reencontramos nossos sensates encarando cada um os seus problemas: Will passa a usar heroína para bloquear as habilidades de Sussurros, Riley precisa o ajudar a fugir e se esconder, Nomi e Amanita seguem se escondendo e sendo perseguidas pela Biologic Preservation Organization (BPO), Lito precisa começar a encarar as consequências de ser tirado do armário por JoaquinKala começa a viver seu casamento com Rajan sem conseguir quebrar sua conexão com WolfgangSun precisa lídar com a sua prisão e com seu irmão tentando matá-la, Capheus começa a se tornar um novo homem (literalmente) muito mais respeitado depois de ter salvo Kabaka, Wolfgang se vê obrigado a voltar a se envolver com os assuntos do crime organizado depois que Volker, o chefe do território, se aproxima dele e Felix acorda do coma. Com um especial de duas horas, a nova temporada do show começa deixando de lado a problematica que existia na season finale, rearranjando a vida de cada um dos protagonistas e deixando o caminho aberto para o surgimento de novos problemas ao mesmo tempo que somos arremessados para poucos dias antes do ano novo.

Concebido como um especial de natal, a primeira parcela da segunda temporada chega em 23 de dezembro de 2016, mais de uma anos após o fim do primeiro ano, e é um grande festival de cenas espetaculares. Apesar de ser mais focado em brindar a união do que em responder perguntas, o especial traz algumas informações importantes para o decorrer do show ao mesmo tempo que investe em maravilhosas cenas de conexão do octeto. A cena de abertura, de Kala nadando no mar e, pouco a pouco, os outros sensates surgindo nadando e submersos ao redor dela, é sublime; a cena do anivérsario deles, onde os oito vivem momentos em cada uma das festas uns dos outros, é intensa e cativante; mas é na orgia mental 2.0 que vemos a evolução completa da conexão do grupo, com um apice da ligação e do narcisismo (no bom sentido) dos oito membros se amando e amando seus respectivos companheiros.

Seguindo a trama de uma forma muito mais madura, dez novos episódios de cerca de 1h foram disponibilizados no dia 5 de maio de 2017, mostrando a pura essência da série criada pelas irmãs Lilly e Lana Wachowski e J. Michael Straczynski. A trama vai pouco a pouco nos mostrando um lado muito mais aventuresco e moral em meio às intensas e sensuais cenas de conexão, trazendo a BPO para o foco enquanto expande o universo ao revelar outros sensates vivendo dentro da organização ou se escondendo dela, dando uma nova possibilidade para o octeto protagonista, mas também um novo perigo. Além da nova trilha narrativa, novos personagens são adicionados ao enredo, dando oportunidades para que histórias que estavam se tornando batidas comecem a se desenvolver com novas problemáticas/questões, como é o caso da aproximação de Nakia e Capheus, do reencontro de Detetive Mun e Sun, do passado de Raoul e Lito ou da conexão que surge entre Lila Facchini e Wolfgang.

Se o primeiro ano trouxe uma produção complexa, a segunda temporada aposta numa visão mais misteriosa e construtiva, deixando de lado a busca por entender o que eles são e entrando numa rota que preza pela busca pela libertação, pelo fim das perseguições, sejam elas originarias da BPO ou dos preconceitos que as pessoas ao redor possuem, um pensamento que é brindado na participação do grupo na Parada do Orgulho LGBT em São Paulo. Cada vez mais no papel de líder do grupo, Will (Brian J. Smith) assume a dianteira na batalha contra Sussurros e a BPO, criando as estrátegias, ao lado de Riley, para encontrar uma forma de derrubar a organização. Riley (Tuppence Middleton) se mantém ao lado de Will, mas dessa vez muito menos vulnerável do que no ano anterior, tendo espaço para crescer individualmente e se tornar uma pessoa capaz de salvar Will em diversas situações e ser sua companheira. Sun (Doona Bae) inicia sua jornada de vingança, ela fica sabendo da morte de seu pai e começa a ser atacada por assassinos contratados pelo irmão, o que acaba abrindo uma brecha para que ela fuja e lute para se vingar daquele que agradeceu sua proteção tentando elimina-la.

Depois de alguns desentendimentos com Lana Wachowski, Aml Ameen saiu da produção, deixando o papel de Capheus nas mãos de Toby Onwumere, e a mudança de ator transforma o personagem em um Capheus completamente diferente, não só na aparênca, se tornando mais ousado, mais decidido, mesmo sem deixar de lado aquela dose de inocência na medida certa, o que abre espaço para que o personagem tenha uma trama muito mais relevante. Esse novo Capheus acaba conhecendo Zakia Asalache, uma reporter bissexual que se interessa na história do motorista e acaba se envolvendo amorosamente com ele, ao mesmo tempo que novos horizontes se abrem aproximando Capheus da política de Nairóbi. Apesar da agitação que Lila traz na vida de Wolfgang (Max Riemelt), principalmente por conta do misterio das verdadeiras intenções que essa sensate tem com o alemão e a dúvida sobre de que lado ela está, a trama individual do mafioso começa a se tornar mais insossa, mesmo que continue agitada, igual as crises matrimoniais que começam a tomar a trama pessoal de Kala (Tina Desai), o que abre uma brecha maravilhosa para termos a conexão de Kala e Wolfgang explorada, com o casal crescendo na trama e se fortalecendo, um causando mudança no outro, ao mesmo tempo que substituem a cota romantica que não está mais sendo suprida por Will e Riley.

Apesar de se tornar essencial em muitos momentos da trama e ter sua trama individual ainda em evolução, principalmente quando essa trama individual ganha um antagonista próprio na forma do Agente Bendix, Nomi (Jamie Clayton) chega em um ponto onde sua trama ganha uma vagarosidade importante, dando espaço para que a personagem possa focar em usar suas habilidades para ajudar o restante do grupo mais do que viver numa fuga sem fim, ainda tendo espaço para interações pontuais com seu enredo para fazê-lo avançar, o que faz com que, mesmo que sua trama individual perca a adrenalina, ela continue sendo essencial para a história geral da série. Infelizmente quem acaba perdendo muito espaço dentro da trama é Lito (Miguel Ángel Silvestre), que encerrou a primeira temporada com sua vida desabando e acaba não tendo tempo suficiente para viver sua saga de ressurgimento, tendo aparições pontuais e encontrando oportunidades que o permitem evoluir como homem e como ator, mas nada tão definitivo a ponto de vermos uma verdadeira transformação no seu arco. Apesar dessas danças das cadeiras pontuais, a temporada em si consegue crescer muito, se encerrando em grande estilo com “You Want a War?” (2×11) e deixando um cliffhanger perfeito para uma terceira e última temporada satisfatoria, algo que infelizmente foi atrapalhado pela decisão da Netflix de cancelar o show, por questões orçamentárias… Ou quase atrapalhado.

Um ano após o cancelamento, e após muitos pedidos dos fãs, em 8 de junho de 2018, a série ganhou o especial “Amor Vincit Omnia”, um episódio especial de 150 minutos que serve como decimo segundo episódio da segunda temporada e chega com a proposta de finalizar a história da série. Cheio de pontas soltas para amarrar, o especial vem com força total para entregar uma conclusão para o romance de Detetive Mun e Sun, encontrar um desfecho para o triangulo amoroso formado por Kala, Rajan e Wolfgang, responder perguntas sobre os motivos de Angelica trabalhar na BPO e finalmente dar uma conclusão para a guerra iniciada pelo octeto contra a BPO, para tanto a produção aproveita para expandir a mitologia usando personagens menos impactantes como PuckYrsaSr. HoySutraMaitake e Bodhi, a força do Arquipelago, e até nos introduz dois novos nomes poderosos, a organização A Lacuna e sua líder, A Mãe. Surpreendendo e se unindo aos outros onze episódios da temporada, a trama do especial consegue entregar uma conclusão aceitavel para tudo que foi construido, mesmo que ainda restem algumas pontas soltas e alguns momentos sejam acelerados demais, tudo é justificavel pela limitação de tempo que a equipe tecnica teve, praticamente um sexto do que realmente teriam caso fosse uma temporada completa, mas que é suficiente para concluir a trama. Aos trancos e barrancos, a segunda temporada de Sense8 entrega um desfecho decente e finaliza o show de forma digna. Se desenrolando por 16 cidades e 13 países, a história dos Sense8 conseguiu ir muito além do que se esperava de uma série desse porte.

“Nossa resposta sempre foi e sempre será a mesma: Vive la résistance!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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